sexta, 29 de março de 2024

EDITORIAL: Noite de horror, choro e tristeza

Uma arena de ‘leões enfurecidos’ chamada Câmara Municipal de Ourinhos

 

Hernani Corrêa

 

Estamos há mais de 30 anos atuando na área de comunicação, frequentando as sessões na Câmara Municipal praticamente toda semana e nunca vimos nada igual ao que aconteceu na última segunda-feira, 20, em Ourinhos.

Presenciamos o plenário de um poder constituído e vereadores eleitos pelo povo, se transformar numa verdadeira arena de gritos, xingamentos, ofensas pessoais e palavras de baixo calão.

Por muito pouco, se não fosse a intervenção da polícia, os vereadores da base do prefeito de Ourinhos não foram linchados pelos coletores de lixo da SAE.

Funcionários, pais de família que se sentiram humilhados, tratados como animais peçonhentos que se ‘pisa em cima’, esmaga com a sola dos pés sem dó nem piedade.

Tudo por causa de um projeto de lei imposto pela prefeitura, sem nenhuma consulta popular, nem muito menos à parte mais interessada que são os coletores de lixo. O projeto que transfere para a prefeitura a responsabilidade da coleta de lixo hoje feita pela SAE.

A maioria dos vereadores votou a favor, sem praticamente não ter entendido e nem percebido as consequências do ato. “O projeto está um pouco vago, não está bem explicado”, declarou o presidente da Casa, que prometeu uma semana antes não por em votação, segundo os manifestantes. Só que isto não aconteceu.

No fechar das cortinas, na “calada da noite”, fim do ano legislativo, recesso no judiciário, o projeto foi posto em pauta. E somente dois vereadores, considerados da base de apoio ao prefeito Lucas Pocay, votaram contra: Roberto Tasca e Latinha.

E os absurdos não pararam por aí.

Um pouco antes, outro projeto polêmico, que pode ainda dar dor de cabeça ao prefeito e vereadores, foi aprovado: aumento de 30% nos salários do prefeito, vice, secretários e vereadores.

Uma verdadeira aberração diante da realidade em que vivemos, com falta de médicos na UPA, demora de atendimento na unidade, equipamentos precários em postos de saúde, falta de vagas em creches e tudo mais.

Uma prefeitura já inchada de centenas de cargos comissionados e funções gratificadas agora ainda terá 30% de reajuste em seus salários. Será que o que ganham já não é suficiente?

Foram motivos de sobra para que os coletores da SAE protestassem como fizeram.

O discurso inflamado e emocionado do vereador Guilherme Gonçalves, que chorou na tribuna, procurou sensibilizar os vereadores da base, mas foi em vão.

O mais interessante é que nenhum dos vereadores da base teve a coragem de explicar a razão de seu voto aos presentes. Foram covardes, segundo os coletores, simplesmente disseram “sim”, enfurecendo ainda mais os funcionários da SAE.

‘Covardes, corruptos, sem vergonha, vagabundos’, como foram chamados o tempo todo pelos coletores revoltados. Realmente uma vergonha, nos desculpem os nobres vereadores.

Ourinhos estará marcada para sempre, a nível nacional, como a cidade em que, por muito pouco, mas pouco mesmo, o plenário da Câmara não foi depredado e destruído.

Uma ‘arena de leões enfurecidos’, famintos, que tentaram fazer justiça com as próprias mãos.

 

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