quarta, 05 de fevereiro de 2025

Rafael Leite Carvalho, o Investigador Rafael: um legado de competência e humanidade

Publicado em 11 jan 2025 - 12:01:40

           

Investigador da Polícia Civil de Ourinhos (SP), Rafael Leite Carvalho, 62 anos, deixou marcas de carinho e amizade em seus colegas de profissão e na vida das pessoas com quem conviveu.

 

Alexandre Mansinho

 

Na madrugada de 6 de janeiro de 2025, a cidade de Ourinhos perdeu um de seus maiores símbolos de dedicação à segurança pública. Rafael Leite Carvalho, investigador da Delegacia de Investigações Gerais (DIG), faleceu vítima de um infarto. Com mais de 30 anos de serviço, Rafael atuou em casos complexos, destacando-se pela serenidade e pelo comprometimento. Rafael deixou três filhos: Rafaele, Lucas e a caçula Pietra; além de dois netos, Bryan e Antony.

 Foto em família: Alysson (genro); Bryan (neto); Lucas (filho); Rafael; Sol (esposa); Pietra (filha) e Rafaele (filha). Foto: Reprodução.

 

Paciência e habilidade únicas

“Rafael era o cara para situações delicadas”, resume o delegado Dr. João Ildes Beffa, que compartilhou mais de três décadas de trabalho com ele. “Se havia uma testemunha difícil, Rafael era quem eu chamava. Ele tinha uma paciência sem fim, era respeitoso e sabia conquistar a confiança de quem, muitas vezes, não queria falar”, destaca o delegado.

Essa habilidade foi crucial para a solução de inúmeros casos, especialmente os que pareciam insolúveis. “Ele foi essencial em investigações que a própria comunidade já dava como perdidas (…) ele não tinha problemas para conversar com testemunhas difíceis, muitas vezes moradores de rua, alcoólatras ou viciados em drogas, Rafael procurava a testemunha várias vezes, sem preguiça, até estabelecer com ela um laço de confiança e conseguir as informações cruciais para guiar as investigações”, conclui Dr. João.

 Rafael com os filhos mais velhos (Lucas e Pietra) e Solange Reis (primeira esposa) no batizado do Bryan (primeiro neto). Foto: Reprodução.

Uma equipe que era uma família

Na DIG, Rafael era mais que um colega de trabalho: era um irmão. Cícero de Aquino, o Cícero Investigador, relembra com emoção os anos ao lado do amigo. “Enfrentamos sol, chuva, noites em claro, investigações complicadas. Rafael sempre mantinha o moral da equipe elevado. Ele não era só um profissional incrível, era também um amigo de verdade; posso dizer que houve crimes que nós só conseguimos elucidar e levar os culpados para os tribunais porque tínhamos a paciência e a competência do Rafael do nosso lado”, conta.

Cícero acredita que o legado de Rafael vai além do trabalho. “O exemplo dele como policial, pai de família e amigo vai inspirar gerações; ele era aquilo que podemos chamar de “paizão” e “avô coruja”.

Rafael com os filhos. Foto: Reprodução.

 

Respeito até nas prisões

Para entender mais sobre quem foi o Investigador Rafael e tudo o que ele representava para aqueles que o cercavam, a equipe de jornalismo do EN DIA Negocião ouviu relatos marcantes, incluindo o depoimento de uma pessoa que já havia sido presa por ele.

Antônio* estava em uma padaria quando ouviu um jornalista do EN DIA Negocião falando ao telefone com um colega de trabalho de Rafael. Ao término da ligação, ele se aproximou e perguntou:

— Você estava falando sobre aquele investigador que morreu, o Rafael?

Diante da confirmação, Antônio continuou:

“Eu tinha um B.O. de pensão. Teve uma confusão na casa onde eu morava, chegou um monte de polícia. Esse Rafael aí me perguntou se eu tinha algum problema com a lei. Percebi que não adiantava mentir; a casa tinha caído. Falei que sim, e ele puxou minha capivara (…) Sem gritar, sem me esculachar, sem dar tapa, ele disse que eu teria que ir com ele porque tinha um mandado em aberto, coisa de pensão. Ele pediu licença para me algemar e me levou (…) Resolvi a treta naquele mesmo dia, mas fiquei espantado por ter um polícia tão educado daquele jeito”, completa.

Rafael e Bryan. Foto: Reprodução.

 

Relacionamento com a imprensa

Rafael também era admirado pelos jornalistas que cobriam a área policial. Conhecido por sua acessibilidade, ele sabia equilibrar a necessidade de informações da mídia com a proteção das investigações.

“Ele sempre nos orientava sobre o que podia ser divulgado sem prejudicar o caso. Era educado e leal, algo raro em situações tão tensas”, afirma um repórter que acompanhava seu trabalho.

O homem por trás do distintivo

Fora do trabalho, Rafael era um homem de família dedicado. Solange Ferreira, a Sol, sua atual esposa, descreve com carinho o lado amoroso do investigador. “Ele era à moda antiga. Levava café na cama, abria a porta do carro. Era muito presente com os filhos e coruja com os netos”, conta.

Mesmo em tempos difíceis, como quando enfrentou problemas graves de saúde em 2023, Rafael manteve sua postura carinhosa. “Nos últimos meses, ele estava se recuperando bem de um problema gástrico bastante severo, parecia mais forte, estava feliz porque estava recuperando a saúde aos poucos. Foi uma surpresa perdê-lo assim”, desabafa Solange.

Presente em todos os momentos

Rafaele Carvalho, filha mais velha de Rafael, também destaca a dedicação do pai. “Durante a minha gravidez, ele esteve ao meu lado o tempo todo. Nunca deixou de ser presente e amoroso; eu tive um sério problema de saúde e o nascimento do Antony, meu filho e meu grande milagre, foi para o Rafael um motivo de extrema alegria e comemoração”, afirma, emocionada. “Faltam adjetivos para definir meu pai”, continua Rafaele, “mesmo quando houve a separação dele com a minha mãe, eu não me lembro de brigas e discussões”.

Lucas Reis, o filho mais novo, reforça o orgulho que sente pelo pai. “Ele era meu exemplo desde moleque. Aprendi com ele a ser um homem de verdade; hoje também sou pai do pequeno Bryan, e admiro ainda mais o meu pai pelo homem que ele foi”, declara. “Mesmo tendo um trabalho bastante difícil, ele sempre encontrava tempo para nos dar atenção, tanto para mim quanto para as minhas irmãs”, completa. 

 Rafael e Rafaele na ocasião do nascimento do Antony (neto caçula). Foto: Reprodução.

 

Uma história de comprometimento

Rafael iniciou sua carreira no CREA como fiscal de obras, passou pelo Fórum de Ourinhos e pela ETEC até chegar à Polícia Civil, onde deixou um legado de competência e humanidade.

Solange Reis, sua primeira esposa, relembra a trajetória do ex-marido com admiração. “Mesmo no trabalho difícil e desgastante da polícia, ele nunca deixou de ser atencioso com os filhos e os netos. Era um exemplo em tudo que fazia”, afirma.

Rafael e sua mãe Maria Lourenço. Foto: Reprodução.

 

Um legado que inspira

Reconhecido pela inteligência, dedicação e humanidade, Rafael deixa uma lacuna na Polícia Civil e na vida das pessoas que o conheceram. Seu trabalho transformou a realidade de inúmeros casos e trouxe justiça a muitas famílias.

“Rafael nos mostrou que é possível ser firme e empático ao mesmo tempo. Ele é a prova de que ética e humanidade podem caminhar juntas, mesmo nas situações mais adversas”, conclui um colega da DIG.

Uma perda irreparável

A partida de Rafael deixa saudades, mas também lições. Seu exemplo de profissionalismo, amizade e amor pela família continuará vivo, inspirando gerações de policiais e cidadãos.

© 1990 - 2023 Jornal Negocião - Seu melhor conteúdo. Todos os direitos reservados.