quinta, 26 de dezembro de 2024

RODEIO: tradição ou exploração animal?

Publicado em 20 maio 2016 - 05:43:28

           

Enquanto muitos defendem que a prática do rodeio é uma tradição, para alguns até esporte, que atrai milhões de fãs movimentando economias locais e até gerando emprego e renda pelo Brasil, cada vez mais pessoas estão aderindo a causa em defesa dos direitos dos animais argumentando entre outras coisas, que a tal tradição é coisa do passado. Grupos favoráveis dizem que trata-se de um esporte divertido e competitivo que faz parte da cultura popular no país inteiro, cuja prática é cercada de tratamentos que visam o bem estar dos animais com regras que os protegem de maus tratos. Os contrários sustentam que a prática não tem fiscalização e não passa de um ato cruel de abuso animal pelo uso do medo, estresse, dor e riscos consideráveis de lesões e morte dos animais com propósito de divertimento humano. Essa opinião é compartilhada praticamente a de todas as organizações de proteção dos animais que se opõem aos rodeios, por entender que eventos desse tipo são demasiadamente desumanos e um dos mais ofensivos ao bem estar animal.

Até bem pouco tempo a prática do rodeio era aceita quase passivamente, mas na mesma medida em que as chamadas festas de peões foram se tornando uma febre espalhando-se pelo país, organizações de defesa animal estão cada vez mais atuantes contra aquilo que consideram ser a tortura como entretenimento. Hoje no Brasil nota-se um grande esforço por parte de grupos de direitos dos animais para proibir as montarias em todo o país, o que tem sido enfaticamente rejeitado pela chamada indústria do rodeio que movimenta milhões. Pressionadas por esses grupos, nos últimos anos no estado de São Paulo, mais de 50 cidades já proibiram a realização dos rodeios através de leis municipais aprovadas pelas Câmaras Municipais ou por meio de ações na justiça, tendo como fundamento a Constituição Federal em seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso VII; Decreto Lei 24.645/34 e a Lei 9.605/98, artigo 32; que vedam expressamente a prática de crueldade, maus tratos, abuso e tortura de animais.           

Em Ourinhos podemos dizer que existe desde o final dos anos 60 uma certa “tradição” da prática, que ocorre sazonalmente com a realização da FAPI – Feira Agropecuária e Industrial de Ourinhos, evento que está prestes a completar 50 anos. Por pelo menos três décadas as chamadas “gineteadas” em cavalos e bois, que estão entre as principais atrações da feira, aconteceram sem que se tenha notado contestações por parte de grupos, entidades e mesmo por parte da opinião pública local. As primeiras movimentações de ativismo contra rodeios em Ourinhos surgiram ainda no final da década de 90 sem muito alarde. As ações contrárias começaram a ser notadas em 2005 quando um grupo de ativistas invadiu a arena da FAPI estendendo faixas de protesto e foram retirados a força com alguns sofrendo agressões e tendo que dar explicações a polícia.

 

Em 2011 membros da ADAO (Associação Defensora dos Animais de Ourinhos) iniciaram uma campanha contra os maus tratos dos animais pedindo o fim dos rodeios no município. Em 2013, ano da 47ª FAPI, o grupo procurou os vereadores ourinhenses com intuito de que apresentassem emenda proibindo a realização de rodeio durante a feira. A iniciativa não teve boa aceitação pela maioria dos vereadores, dos onze somente Salim Mattar e Inácio J. B. Filho mostraram-se simpáticos a ideia. A alegação foi de que a questão é muito polêmica e desgastante, já que as pessoas são divididas com muitos apoiando a prática e muitos outros considerando os rodeios como maus tratos dos animais. Conforme Rubens Antônio Manéa, membro da ADAO, em 2014 por ocasião do evento Rodeio Bulls a Ong colheu mais de 10 mil assinaturas em abaixo assinado pedindo o fim das montarias, que foi encaminhado a prefeita Belkis Fernandes. No entanto nenhuma medida foi tomada e a associação entrou com ação no Ministério Público, mas a Justiça local não acatou a representação. Segundo Manéa, a Ong recorreu junto ao Tribunal de Justiça do Estado demonstrando que já existe decisões judiciais reconhecendo que a prática fere a Constituição Federal e sobretudo os animais de rodeio como vítimas de maus tratos e crueldades. “Não vamos desistir, cada vez mais temos apoiadores e se for preciso vamos até as últimas instâncias da justiça para que essa prática desumana acabe”, enfatizou o ativista.

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