quinta, 19 de junho de 2025

Médica alerta para riscos de se autodiagnosticar com base em vídeos da internet 

Publicado em 18 jun 2025 - 13:04:35

           

Popularização de conteúdos superficiais sobre saúde mental podem atrapalhar diagnóstico e causar transtornos em crianças e adolescentes

 

Da redação

 

Com a popularização de vídeos curtos sobre saúde mental nas redes sociais, cresce o número de adolescentes que chegam aos consultórios médicos já se autodefinindo como “bipolares”, “TDAH” ou “borderlines”, sem qualquer avaliação profissional.

O alerta é da Dra. Carla Vieira, psiquiatra, que destaca os riscos do autodiagnóstico e o impacto do ambiente digital na saúde emocional dos jovens.

 

 

“É cada vez mais comum ver adolescentes buscando explicações para o que sentem com base em vídeos virais. Isso pode mascarar transtornos reais, reforçar rótulos e dificultar o acesso ao tratamento correto. O diagnóstico precoce é importante, mas precisa ser feito com critério clínico, não por influência digital”, explica a médica.

 

 

Dados da pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024 mostram que 93% da população entre 9 e 17 anos no Brasil está conectada à internet, e 83% têm perfis em redes sociais como WhatsApp, Instagram, TikTok e YouTube.

No entanto, o uso excessivo vem acompanhado de efeitos colaterais: 29% relatam ter passado por situações desagradáveis nas redes, enquanto 22% afirmam que deixaram de passar tempo com a família ou fazer tarefas escolares por conta do tempo online.

 

 

Segundo a especialista, adolescentes com histórico de trauma, bullying ou diagnóstico prévio de transtornos mentais são particularmente vulneráveis ao impacto negativo das redes. O uso intenso pode interferir diretamente na construção da autoestima e da identidade de crianças e adolescentes.

“A comparação constante com os outros fragiliza o senso de identidade, aumenta a ansiedade e pode levar à depressão. A grama do vizinho sempre parece mais verde e isso, que já é difícil na vida adulta, é ainda mais complexo na adolescência, quando o cérebro ainda está em formação e a tomada de decisões é mais impulsiva”, afirma.

 

 

Outro fator preocupante é o cyberbullying, que está associado a riscos elevados de depressão, automutilação e ideação suicida. Além disso, conteúdos violentos ou autodestrutivos podem reforçar comportamentos de risco, especialmente em jovens emocionalmente fragilizados.

 

 

Para lidar com esse cenário, Dra. Carla reforça que é papel do profissional acolher o jovem, validar seu sofrimento e promover informações com base em evidências científicas. “É essencial explicar o que é informação confiável e estimular senso crítico sobre conteúdo online. Cada indivíduo é único, e precisamos reforçar a autoestima e a individualidade desses jovens.”

 

 

Vieira ressalta também que o uso consciente das redes pode ser um aliado na promoção da saúde mental “Campanhas educativas, comunidades de apoio, perfis com conteúdo sério e acessível podem ser ferramentas poderosas. Mas é fundamental que pais e responsáveis acompanhem de perto o que os jovens estão consumindo online, mesmo respeitando sua privacidade, isso deve ser feito com responsabilidade.”

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