sábado, 12 de julho de 2025

“A TROPA ESTÁ DESESTIMULADA”: Capitão Augusto analisa enquete feita entre policiais militares e conclui que a situação é alarmante

Publicado em 12 jul 2025 - 13:42:20

           

A enquete foi realizada no mês passado e ‘acende’ um alerta preocupante sobre a situação da corporação

 

Da redação

 

Foi realizada uma enquete entre os policiais militares em todo o Brasil. Foram consultados mais de 1.000 integrantes da corporação.

Os resultados são alarmantes, segundo o deputado federal Capitão Augusto (PL), após minuciosa análise.

Capitão Augusto é deputado por três mandatos, relator da Lei Orgânica da PM, presidente da Comissão de Segurança por três anos e presidente da Frente Parlamentar de Segurança da Câmara por cinco anos e oficial da Polícia Militar.

O parlamentar analisa os dados de uma enquete realizada em junho de 2025 e faz um alerta contundente sobre a atual situação da corporação.

 

Capitão Augusto é deputado federal por três mandatos

 

Veja na íntegra a entrevista com o deputado.

 

1 – DEPUTADO, O SENHOR TEVE ACESSO AOS DADOS DE UMA ENQUETE COM MAIS DE 1.000 POLICIAIS MILITARES. O QUE MAIS CHAMOU SUA ATENÇÃO?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “O que mais me chamou a atenção foi ver que, apesar da maioria dos policiais ingressarem na carreira por vocação, por vontade genuína de ser policial militar, o baixo salário, o plano de carreira, jornadas estressantes e a necessidade de garantir uma vida digna à família estão fazendo com que muitos abandonem a farda e muitos outros já estudem sair da PM. Isso é muito preocupante”.

 

“A necessidade de garantir uma vida digna à família estão fazendo com que muitos abandonem a farda e muitos outros já estudem sair da PM. Isso é muito preocupante”

 

 

2 – QUAIS FORAM OS DADOS MAIS PREOCUPANTES NA SUA VISÃO?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “Dois pontos me preocupam profundamente:

Primeiro, o número crescente de afastamentos por problemas de saúde mental e segundo lugar o número de pedidos de exoneração da PM

Mais de 70% dos policiais se declaram insatisfeitos ou muito insatisfeitos com a profissão. Quase 50% deixaria a PM sem pensar duas vezes, caso surgisse outra oportunidade. E 83,5% apontam o reajuste salarial como prioridade absoluta. Isso mostra que a questão financeira conta está pesando muito em sua decisão, com isso a PM perde identidade, força e continuidade.

Muitos não saem por vocação ou por medo de perder a aposentadoria integral e a paridade, um dos poucos benefícios vantajosos ainda, mas permanecem desmotivados, o que compromete o desempenho da instituição.”

 

“Muitos não saem por vocação ou por medo de perder a aposentadoria integral e a paridade”

 

 

3 – MUITOS APONTARAM QUE SE SENTEM DESVALORIZADOS, ISSO SURPREENDE?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “Nós passamos por essa desvalorização desde o Governo Mário Covas, foram praticamente 30 anos de governo do PSDB que não valorizava os policiais. Como oficial da Polícia Militar e relator da Lei Orgânica das Polícias, eu acompanho há anos essa perda de identidade institucional. Mas ver 56,6% dizendo que não se sentem valorizados é um alerta. Quando o servidor não se sente reconhecido é natural que perca o ânimo e procure alternativas.”

 

 

4 – O SENHOR ACREDITA QUE HÁ RISCO DE COLAPSO FUNCIONAL NA PM?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “Ainda não, mas já estamos vendo sinais disso. A evasão, os afastamentos psiquiátricos, a sobrecarga e a falta de reposição compatível com a demanda indicam que estamos perdendo capital humano e operacional. Estamos vendo policiais experientes abandonando ou querendo abandonar a carreira, buscando empregos com maior estabilidade e qualidade de vida. Isso gera um duplo impacto:

1 – Temos uma seleção extremamente rigorosa, após isso quase 2 anos de treinamento teórico e prático, demanda muito tempo e recursos preparar um PM, sua saída precoce faz com que tenhamos dificuldade em reposição à altura.

2 – Perdemos a expertise operacional, pois são justamente os policiais veteranos que transmitem conhecimento, preparo e doutrina aos mais novos.

 

Essa perda afeta diretamente a capacidade operacional da corporação.

Se não houver resposta rápida, a qualidade do policiamento ostensivo será gravemente afetada.

Para se ter uma ideia, em 1990 a população do Estado de SP era de 31 milhões de habitantes, as facções criminosas não estavam tão infiltradas em todas cidades, e o efetivo da PM era de 94 mil homens e mulheres.

Hoje a população do Estado é de 46 milhões, para atender da mesma forma deveríamos ter 140 mil PMs, no entanto reduzimos para apenas cerca de 80 mil, obviamente que o esforço e quantidade de horas trabalhadas por PM tem que ser muito maior, ainda assim esses valorosos homens e mulheres reduziram drasticamente a criminalidade em SP”.

 

Dados da enquete realizada com policiais militares no mês passado

 

 

5 – COMO O SENHOR AVALIA O FATO DE MUITOS POLICIAIS JÁ ESTAREM ESTUDANDO PARA SAIR?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “Quando mais da metade já estuda ou pretende estudar para sair da PM, reflete uma falta generalizada de perspectiva de futuro. O policial não queria isso. Ele ama o que faz, tem orgulho da farda, mas pesa o sustento próprio e o da família. Muitos se veem forçados a escolher entre a vocação e a sobrevivência financeira. E essa escolha está cada vez mais dolorosa.

A enquete mostra que 27,3% já estão estudando para sair da PM, e outros 30,3% pensam seriamente em fazer isso. Isso evidencia que a Polícia Militar está perdendo sua capacidade de retenção de talentos.”

 

 

Dados da enquete realizada com policiais militares no mês passado

 

 

6 – NA SUA OPINIÃO, O QUE PRECISA SER FEITO COM URGÊNCIA?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “Acredito que três ações precisam ser feitas para reverter esse quadro:

1 – Reajuste salarial imediato e justo, 84,5% apontam esse como o principal problema, com recomposição do poder de compra, nosso salário é composto pelo PADRÃO + RETP (Regime Especial de Trabalho Policial), o RETP já chegou a ser 300% do valor do PADRÃO, hoje é de 100%, perdemos muito com isso.

2 – Plano de carreira atrativo e célere, em SP temos uma das mais travadas do Brasil, isso também motivaria a permanência do PM;

3 – Melhoria nas condições de trabalho, hoje é normal os PMs trabalharem mais de 200 horas por mês, com insalubridade e periculosidade no grau máximo, além do trabalho noturno, essa escala é desumana, o PM não tem tempo para família ou lazer, além do fato de cerca de 35% trabalharem distantes de sua cidade”.

 

 

Dados da enquete realizada com policiais militares no mês passado

 

 

7 – O SENHOR PRETENDE LEVAR ESSE TEMA PARA DEBATE NO CONGRESSO?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “Já levei. Como relator da nova Lei Orgânica das Polícias e Bombeiros Militares, venho atuando diretamente nas comissões e subcomissões que tratam do tema. Além disso, apresentei e aprovei na Comissão de Segurança da Câmara a criação de uma subcomissão de Deputados Federais para fiscalizar o cumprimento dos direitos e garantias dos policiais previstos nessa lei Orgânica. Quando é “dever” para os PMs a aplicação é imediata, já nossos direitos demora um pouco para ser implementado”.

 

Fonte: chatgpt

 

8 – QUAL O SALÁRIO INICIAL DE UM SOLDADO DA PM DE SÃO PAULO?

 

CAPITÃO AUGUSTO – “Hoje, um soldado da PM de São Paulo recebe cerca de R$ 5.800,00 brutos, com líquido de R$ 4.600,00. Isso em um Estado com custo de vida altíssimo, onde o salário mínimo paulista é de R$ 1.747,00.

Ou seja, o soldado ganha líquido apenas 2,6 vezes o mínimo estadual — valor insuficiente para cobrir o básico, como aluguel, alimentação, luz, água, saúde, roupas, remédios, etc…

Se ele for casado e tiver dois filhos, é impossível viver com dignidade. O policial militar arrisca a vida todos os dias e ainda vive no limite financeiro.

E para poder completar um pouco sua renda, o policial militar faz bico na sua folga, o que gera extenuação física e mental, o que é um problema grave para quem trabalha com segurança pública”.

 

Fonte: chatgpt

 

 

9- A IMPRENSA NOTICIOU QUE 788 POLICIAIS MILITARES PEDIRAM EXONERAÇÃO SÓ EM 2024, O MAIOR NÚMERO DESDE 2018, ALÉM DE 3.500 AFASTAMENTOS PSIQUIÁTRICOS DESDE 2020.

O QUE ESSES NÚMEROS REVELAM SOBRE A SITUAÇÃO DA TROPA?

 

CAPITÃO AUGUSTO –Esses números falam por si só. Estamos diante de um quadro emocional e estrutural preocupante. Acho preocupante a situação, essa enquete bate com que constatamos no dia a dia”, conclui o deputado.

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