quinta, 02 de outubro de 2025
Publicado em 30 set 2025 - 19:09:40
Enquanto sintomas inespecíficos atrasam o diagnóstico, pacientes e especialistas destacam a importância da investigação médica
Da redação
No Dia Nacional do Câncer Gástrico, celebrado em 28 de setembro, médicos e pacientes reforçam um alerta importante: sinais aparentemente simples do corpo podem esconder um problema grave.
Como os sintomas costumam ser confundidos com doenças comuns do estômago, muitos casos só são descobertos quando a doença já está avançada, o que reduz as chances de cura.
Segundo o oncologista Lucas Vieira dos Santos, o câncer gástrico pode se manifestar de forma silenciosa. “Os sintomas mais comuns são dor na região do estômago, sensação de estufamento, má digestão e saciedade precoce – quando a pessoa se sente cheia com pouca comida. Como são sinais parecidos com os de problemas simples, como gastrite e úlcera, o diagnóstico costuma demorar”, explica.
Ele ressalta que sintomas persistentes por mais de algumas semanas merecem atenção médica. “Muitas vezes, as pessoas tomam medicamentos para o estômago por conta própria e isso pode mascarar a doença, atrasando o diagnóstico”, alerta.
O jornalista Cesar Cavalcante, 32 anos, descobriu a doença no início de 2023, após um episódio de refluxo mais intenso do que o habitual. “Eu sempre tive refluxo, mas dessa vez estava diferente, então resolvi investigar”, conta.
O exame revelou um tumor pequeno, ainda em fase inicial. Cesar passou por uma cirurgia para retirar todo o estômago e fez quimioterapia, conseguindo alcançar a remissão completa. “Foi um choque receber o diagnóstico, mas hoje sei que agir rápido fez toda a diferença. O diagnóstico precoce salvou minha vida”, afirma.
O câncer gástrico só pode ser confirmado por meio de uma endoscopia digestiva alta, exame que permite visualizar o interior do estômago e coletar pequenas amostras de tecido para análise. “Diferente de países como Japão e Coreia do Sul, o Brasil não faz rastreamento preventivo de rotina. Por isso, a maioria dos diagnósticos acontece apenas quando os sintomas já aparecem”, explica o médico.
Perceber os sinais que o corpo apresenta pode trazer impactos muito positivos no prognóstico geral. “O que eu aprendi é que nosso corpo fala com a gente o tempo todo. Se algo muda, se um sintoma aparece e não passa, é preciso prestar atenção e investigar. Ignorar sinais pode custar caro, e descobrir cedo faz toda a diferença na hora de tratar”, diz Cesar.
MEDICINA PERSONALIZADA E NOVAS TERAPIAS – Dr. Lucas destaca que a oncologia tem avançado com tratamentos personalizados, que levam em conta os biomarcadores, ou seja, características específicas de cada tumor, sejam proteínas, genes ou outras moléculas.
Um dos biomarcadores que devem ser testados em todos os pacientes com câncer gástrico é a Claudina 18.2, presente em 38% dos pacientes com esse tipo de câncer. Quando exposta, ela permite o uso de terapias direcionadas que potencializam a ação da quimioterapia.
Pesquisas recentes têm apontado a Claudina 18.2 como um biomarcador promissor no tratamento do Câncer Gástrico e do Adenocarcinoma da Junção Gastroesofágica, dois tipos de tumores que, em geral, são diagnosticados em estágios avançados e apresentam prognóstico desfavorável.
Presente na membrana de células gástricas normais, a proteína tende a se mostrar anormal após a transformação maligna das células, o que a torna um alvo específico e com menor risco de afetar tecidos saudáveis.
De acordo com especialistas, a identificação de pacientes com tumores que expressam Claudina 18.2 pode abrir caminho para terapias mais personalizadas e eficazes, aumentando as chances de resposta e reduzindo os efeitos adversos. “A descoberta e validação de novos biomarcadores como a Claudina 18.2 é um passo importante rumo a uma oncologia de precisão para o câncer gástrico”, afirma o oncologista.
“Quando o câncer de estômago é descoberto no início, as chances de cura são muito maiores”, reforça Dr. Lucas. Ele também ressalta a importância do acompanhamento em centros especializados e com equipes multidisciplinares: “Tanto no sistema público quanto no privado, é possível ter bons resultados quando há uma rede bem estruturada de cuidados”.
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