domingo, 02 de novembro de 2025

Historiador André Rodrigues da Silva estreia coluna de opinião: “Enquanto isso, no lustre do castelo…”

Publicado em 01 nov 2025 - 10:02:52

           

A Coluna leva o nome “Enquanto isso, no lustre do castelo…” o primeiro artigo se intitula Mundo Selvagem

 

André Rodrigues da Silva

O que faremos? E agora? Eu? Onde estamos? Talvez sejam perguntas ordinárias, mas que um dia ou outro iremos fazer. Podem surgir quando, ao colocarmos para tocar uma música de Cat Stevens como “Oh baby, baby it’s a wild world”, ou diferentemente, minutos antes de se levantar do vaso sanitário para dar a descarga.

Mas, onde quero chegar com essa viagem? Em uma bolha. Isso mesmo: alienação.

Imagine uma bolsa, como se fosse um invólucro placentário, uma bolsa, em que nos encontrássemos enquanto humanidade, quentinhos e de forma protegida.

Calmante? Provavelmente, mas não estou conseguindo.

O ponto é que gostaria de estar como aquele homem desenhado por Da Vinci: dentro daquela bola de árvore de natal, com as pernas abertas e os braços como se quisessem abraçar alguém. O homem vitruviano carrega a ideia de equilíbrio, beleza e harmonia.

É uma imagem que pode trazer relativa contradição para o Brasil de hoje, entretanto enverniza conforto na já derrubada floresta de esperanças. Sinto que as coisas caminham a um ritmo cada vez mais paradoxal, soltas, sobrepondo-se a tudo como a poeira vermelha aqui do interior, encobrindo qualquer rastro bípede pelo caminho.

No jornal aparece: tiroteio no Rio de Janeiro durante a “Operação Contenção” realizada nesta semana, onde contabiliza-se mais ou menos 121 mortes (acredito que foram mais).

Logo em seguida: Nikolas Ferreira, deputado federal pelo PL dos mineiros comenta: “maior faxina da história”.

Ainda na mesma edição, Trump em reunião com Xi Jinping negociando a redução das tarifas sob produtos chineses a câmbio de acesso às terras raras. E se olhassem as que estão no morro da misericórdia, o que encontrariam?

Mas isso é um devaneio meu, porque não é pauta internacional.

As perguntas ainda ecoam. O que farei? E agora? Onde estamos? Desbloqueio o celular novamente.

Em algum grupo do whats que infelizmente estou, aparece uma arte (que não tem nada de artístico) já compartilhada milhares de vezes: “Temos Vagas – 100 Vagas Urgente – radinho; contenção; endolação; estica e vapor. Escala de 12×36, salário por diária, auxílio-funeral e cesta básica. Contato no CPX do Alemão”.

Embaixo, vários emoticons sorridentes. Que desgosto.

O governador de Goiás – pré-candidato à presidência da república pelo União Brasil -, Ronaldo Caiado (que às vezes seria melhor que ficasse assim mesmo) solta a pérola de que a culpa de toda a tragédia ocorrida na “cidade belicosa” é do Lula.

E nisso, o Planalto aproveita para sancionar um projeto do atual senador Sérgio Moro, feito quando ele ainda era ministro de Bolsonaro, que tem como foco endurecer a ação contra o crime organizado. Nado sincronizado.

 

E para finalizar, a bizarrice mor: governadores de direita – após a matança – e defendendo-a de todas as formas e com todos os adjetivos possíveis, decidem criar o “Consórcio do Paz”, que, conforme matéria da Folha de São Paulo, terá como um dos objetivos a “compra de equipamentos em conjunto para jogar o preço para baixo”.

Espero que não seja só eu que ache estranho um “consórcio da paz” que tenha como foco comprar fuzil, granada e demais ferramentas que levará para a cova mais policiais, traficantes e civis, sem resolver o problema da segurança pública, que é muito mais complexo que qualquer intervenção militar paliativa.

Mudanças essas que precisam melhorar leis, para que atinjam a todos os envolvidos com o tráfico de drogas e não apenas os que estão na base da pirâmide.

Sem contar a mais que urgente necessidade do estado marcam a sua presença nas comunidades mais assoladas e carentes através de investimentos públicos em áreas como saúde, educação, assistência social e segurança, e claro, buscar meios de distribuir renda.

O que fará? E agora? Onde Estamos?

Essas ainda martelam em minha cabeça, mas agora jogo para você. Aquela bolha do início do texto, já explodiu.

Não consigo me alienar. Tudo o que vi sobre os acontecimentos desta semana evidenciam que continuam banalizando a vida e tudo o que está relacionado a ela, e a harmônia vitruviana, que poderia ao menos reger um pouco da nossa miséria humana, “rien de rien”.

 

André Rodrigues da Silva, historiador

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