terça, 02 de setembro de 2025

Ausência paterna tem impacto decisivo no desenvolvimento infantil, destaca especialista

Publicado em 29 ago 2025 - 17:40:49

           

A presença afetiva do pai fortalece a autoestima da criança, ajuda na regulação emocional e favorece relações mais saudáveis na vida adulta

 

Da redação

 

Mais de 1,4 milhão de crianças nasceram no Brasil, entre janeiro de 2016 e abril de 2025, sem o nome do pai no registro. Os dados são da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil).

Somente nos quatro primeiros meses de 2025, mais de 65 mil crianças foram registradas apenas com o nome da mãe na certidão de ​​nascimento, o equivalente​​ a 6,3% de todos os nascimentos no país nesse período.

 

 

CONSEQUÊNCIAS REAIS – A ausência paterna, como mostram os números, não é apenas estatística: ela traz consequências reais para o desenvolvimento infantil. Segundo a psiquiatra Dra. Carla Vieira, a ausência paterna seja física (por afastamento, divórcio ou abandono) ou emocional (quando o pai está presente, mas não se envolve) pode trazer impactos importantes na vida da criança, como desenvolver sentimentos de abandono, baixa autoestima e insegurança.

Na adolescência, isso pode se refletir em dificuldades de relacionamento, busca por referências fora do núcleo familiar e até em quadros de depressão e ansiedade.

 

Filhos de pais presentes costumam ser mais sociáveis, seguros e apresentam melhor desempenho escolar. “A presença afetiva e participativa do pai em atividades como dar banho, alimentar, colocar para dormir, brincar, ajudar nas tarefas escolares ou simplesmente ouvir com atenção fortalece a autoestima, a segurança emocional e a capacidade de resiliência da criança. O que favorece, ainda, relações mais saudáveis na vida adulta”, explica​​.​​​​​​

 

 

PATERNIDADE ATIVA – A paternidade ativa também contribui diretamente para a saúde mental da mãe: “Isso reduz a sobrecarga e o risco de depressão pós-parto. Os benefícios começam já na gestação. Pais que se envolvem desde as consultas médicas e interagem com o bebê ainda na barriga constroem laços afetivos mais sólidos”, esclarece Dra. Carla.

 

 

 

DESAFIOS – Apesar de avanços nos últimos anos, ainda há desafios importantes. “Nossa geração está mais consciente da importância da paternidade ativa. Muitos pais desejam ser mais presentes e participativos, ir além do papel de provedores. Querem ser cuidadores, educadores, amigos. Isso beneficia a criança, a mãe e o próprio pai, que descobre uma nova fonte de realização”, afirma a psiquiatra.

 

 

QUESTÃO DE CULTURA – No entanto, barreiras culturais e estruturais dificultam esse processo. “A visão tradicional de masculinidade que associa o homem ao trabalho e à provisão financeira e não ao cuidado, ainda é muito forte, a falta de políticas públicas como licença-paternidade estendida, debates sobre a dificuldades da paternidade e o despreparo emocional ainda são entraves importantes”, ressalta.

 

 

 

SAÚDE MENTAL – O cuidado com a saúde mental do pai também é fundamental para promover um ambiente familiar equilibrado e saudável. Pois, ​​conforme​​ a especialista, pais que se cuidam emocionalmente, tendem a ser mais empáticos, pacientes e afetuosos. Qualidades essenciais para o desenvolvimento pleno dos filhos e o bem-estar de toda a família.

 

 

 

VÍNCULOS AFETIVOS – Mas, é importante ressaltar que vínculos afetivos de qualidade com avós, tios, professores ou mães solos também podem suprir carências emocionais na falta da figura paterna. “A qualidade do vínculo é mais importante do que o papel social ou o gênero de quem cuida”, enfatiza Vieira.

 

 

ASSUMIR RESPONSABILIDADES – Para quem deseja iniciar uma jornada mais ativa no relacionamento com os filhos, a dica é assumir pequenas responsabilidades no dia a dia​​ e​​ criar momentos únicos com a criança​​.​​ “O vínculo se constrói na consistência, na intenção e no afeto. Não é preciso ser perfeito, basta ser comprometido. Mesmo em casos de separação, pode ser mantido com presença de qualidade, contato regular e participação nas decisões importantes da vida da criança. Entendendo que o vínculo é construído na cumplicidade, no respeito e no amor, e não na quantidade de horas juntos”, finaliza.

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