segunda, 04 de novembro de 2024
Publicado em 04 fev 2018 - 04:44:22
Igor Interliche
O Ouriço-cacheiro, para quem não conhece, é um animal pequeno, lento, com aspecto até meio “bobo” por assim dizer. Mas, tem uma vantagem que o torna praticamente inacessível aos predadores, que gostariam de experimentar uma mordida do bichinho: espinhos – recobrindo todo o dorso do pequeno, que ao penetrarem na pele dos atacantes, além de causar dor lancinante, são mais dolorosos ainda para retirar, pois são como pequenas “flechas” depois de espetados em algum lugar.
Pois, certa vez, numa floresta qualquer, uma raposa, ladina e esfomeada, pensava de todas as maneiras como faria para experimentar um bocado daquele bichinho engraçado, mas perigoso.
Todas as que havia imaginado, esbarravam nos espinhos! Não havia meio de morder o pequeno Ouriço sem que seu focinho ficasse cheinho das dolorosas farpas.
Depois de semanas matutando um jeito, ela desistiu. Resolveu tentar ficar amiga do Ouriço.
Uma bela tarde de sol entre as copas das árvores, se aproximou do pequeno e se anunciou:
– Olá Ouriço, que anda fazendo por aqui? Tudo tranquilo contigo?
O pequeno, desconfiado, inicialmente eriçou os espinhos, tornando seu aspecto mais ameaçador ainda se protegendo contra um possível ataque.
A raposa insistiu:
– Não vou atacá-lo, sei que não consigo, por causa desses espinhos. Fique tranquilo!
Reticente, o Ouriço respondeu:
– Não é por mal! Eu me assustei e quando isso acontece, fico desse jeito!
– Está de passagem? Ou mora por aqui? – questionou a Raposa.
– Moro sim, e passo o dia todo procurando comida por essa parte da floresta, tomando cuidado com os perigos daqui. E você? É dessa parte da floresta?- perguntou o Ouriço, sem desconfiar que a Raposa o observava por ali já havia algum tempo.
– Ah, sim e não; sou dessa parte da floresta, mas ando demais por essa regão toda! Sabe como é, está difícil arrumar comida nesses dias, ando tendo que procurar muito!
– Entendi, por que não buscamos comida juntos? Talvez eu te ajude encontrar, tenho um olfato muito bom!
– Claro! Vamos juntos então! – Exclamou a Raposa.
E assim passaram, o dia todo conversando, e revirando o chão da floresta à procura de alimento: pequenos insetos e frutas em sua maioria; que alegrava o Ouriço, mas não saciava a Raposa.
Ao cair da noite, a Raposa foi se despedindo:
– Bom, vou procurar um lugar para dormir, já está ficando tarde.
– Se você quiser, minha toca fica aqui perto, não é muito apertada, acho que conseguimos ficar os dois por ali, sem você se espetar em mim!
– Verdade? Mas não vou te incomodar Ouriço?
– Não, vamos para lá. É bem quente lá de noite!
E foram para a toca do Ouriço, num oco de um tronco caído de uma árvore que havia sido muito grande quando em pé.
Deitaram a uma distância segura um do outro e se desejaram boa noite.
O Ouriço, cansado do dia de muito procurar por comida, logo começou a roncar.
A Raposa fingia que dormia, um olho aberto, o outro fechado.
Lá pelas tantas da noite, o Ouriço sonhando, se revirou com as patas pra cima, deixando à mostra o único lugar que não tinha os espinhos para se proteger.
A Raposa, se aproveitando da ocasião, fincou os dentes na barriga macia e molinha do Ouriço, que só olhou espantado, sem tempo nem de gritar.
Moral da história: Cuidado com os falsos amigos. A maioria das vezes, eles só estão esperando a oportunidade certa para encontrar seu ponto fraco para se aproveitar da situação.
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