sexta, 06 de dezembro de 2024
Publicado em 01 jul 2016 - 12:16:50
Todos ainda estamos chocados com o lamentável episódio que levou a óbito um jovem de 22 anos, apenas porque mexeu num cone sinalizador de trânsito na saída da FAPI de Ourinhos, em 9 de junho. A morte ocorreu pela ação de um policial militar, durante abordagem aparentemente simples. A partir daí, com muita razão, o Conselho Estadual dos Direitos Humanos se manifestou, assim como outras instituições já o fizeram ou farão. Nestas letras não quero apontar o motivo específico da morte de Brian e tampouco direcionar o trabalho das investigações, mas destacar que há um erro muito maior do Estado, a ser corrigido, que é a manifesta falta de incentivos e condições para que o policial atue de maneira adequada.
Não só Brian se foi, como também a vida e estrutura familiar dele e do próprio policial, como também de muitos outros em situações semelhantes! É bem verdade que a pessoa torna-se um policial após enfrentar um concurso com milhares de candidatos, com provas (escritas, físicas e exames psicológicos) muito difíceis e, depois, recebe treinamentos na academia própria da polícia. O que se vê, na prática, é que isto não tem sido suficiente para fazer do policial pessoa cabalmente preparada para o enfrentamento do dia-a-dia junto à sociedade. Por outro lado, a exigência prática do exercício da profissão tem sido de igual modo muito difícil, já que o número de policiais é absolutamente insuficiente para a demanda populacional, os aparatos e equipamentos deficientes, dificultando o trabalho policial. Isto ocorre também na polícia civil, que há muito tempo também trabalha de forma precária e com respostas tardias à sociedade. As Delegacias de Polícia, há muito anos, praticamente tem o atendimento e funcionamento com estagiários, quer seja para a lavratura de boletins de ocorrência, oitivas etc. Todos, enfim, policiais civis e militares, trabalham em absoluta e manifesta precariedade. A sociedade, pois, é a única vítima de todo esse imbróglio criado e mantido pelo Estado. Tenho falado que pouco importa o quanto nossos gestores públicos têm aplicado na saúde, na educação, na segurança, na infraestratutura etc. o que importa é que nada, absolutamente nada, funciona! A questão da morte do Brian deve ser efetivamente apurada e punidos os responsáveis na esfera administrativa, civil e criminal, todavia a população e as instituições envolvidas não podem apenas focar e atuar nos casos práticos do defeito da polícia militar ou civil. Devemos nos preocupar (e muito) em exigir do poder público efetividade e eficácia de suas atividades. A enganação que vem sendo praticada contra os sofridos brasileiros não mais justifica. Temos esperado com bastante paciência as melhorias prometidas em cada palanque e vésperas de eleições, mas sem qualquer resultado prático em favor da população. Deve-se dar um basta aos gastos absurdos dos políticos brasileiros, em todos os níveis no País, com melhor distribuição de investimentos nos campos onde há carência de atendimento à população, dentre eles o aumento do efetivo da polícia civil e militar, como também melhoria em seus salários para uma vida mais digna. Se nossos governantes não fugirem dos discursos de meras promessas e não melhorarem na prática as atividades em prol da sociedade; se a população e instituições, por suas vezes, não se ativarem exigindo melhorias reais e investimentos sérios, outros Brian, Marcos, Antonio, Gabriela, Letícia… vão continuar morrendo! O voto conferido na urna não esgota a escolha do seu político. O acompanhamento das atividades de seu vereador, deputados, senador, prefeito, governador e presidente da república é fundamental para que aquelas promessas políticas da véspera das eleições sejam realmente concretizadas. Se a sociedade é vítima da polícia, não é menos vítima do governo e dela própria, na medida em que não assume o seu real papel de fiscalização dos atos da gestão pública.
Roberto Zanoni Carrasco
Presidente da Ordem dos Advogados de Ourinhos
© 1990 - 2023 Jornal Negocião - Seu melhor conteúdo. Todos os direitos reservados.