quinta, 22 de maio de 2025

Abandonados, moradores de rua fazem de praça na Vila Perino uma “cracolândia”

Publicado em 28 nov 2016 - 10:26:51

           

Alexandre Q. Mansinho

“Sou moradora de Ourinhos há 40 anos, já tive orgulho em dizer que morava perto da rodoviária, hoje tenho medo, às vezes me sinto presa dentro da minha própria casa”, diz Anésia Bordinhão da Silva, moradora e comerciante da Rua Antônio Prado. “Aqui na minha janela virou ponto de prostituição, toda a hora tem brigas e gritaria, os clientes aqui da minha lanchonete acabam indo embora”, lamenta. De fato, toda a população que mora ou trabalha nas imediações do terminal é obrigada a viver com medo e se sujeitar a privações: “não podemos sair de casa na hora que queremos, não podemos dormir na hora que queremos, aqui quem dita as regras são os marginais”, protesta José Aparecido Bordinhão, que é morador da Rua Espirito Santo.

As ruas do entorno do Terminal Rodoviário nos bairros Vila Christoni, Barra Funda, Vila Perino e Vila Recreio, durante o dia são lar de andarilhos e usuários de drogas – durante a noite essas mesmas ruas passam a ser domínio de cafetinas, prostitutas, traficantes e ladrões. “A gente aqui não tem pra onde ir, o SOS já não existe mais e o Centro POP (centro de acolhimento aos moradores de rua) não recebe quem não é de Ourinhos”, relata V.A.S., andarilho oriundo de Cambará. A concha acústica, obra que já consumiu milhares de reais do dinheiro do contribuinte, é ponto de usuários de drogas e dormitório de mendigos. “A prefeita Belkis foi derrotada nas eleições do dia 4 de outubro, no dia 5 já não havia mais o policiamento permanente no Terminal Rodoviário e na frente do Cemitério Municipal, ela cancelou o convênio com a Polícia Militar e entregou o controle da região para os bandidos”, diz uma funcionária da rodoviária que pediu anonimato. “Aquela concha acústica é dominada pelos bandidos, quem sai das escolas e tem que passar por lá fica cheio de medo”.

Renê Zequi, proprietário da Padaria Libanesa, reclama que precisou diminuir o horário de funcionamento do seu estabelecimento por causa da falta de segurança: “eu trabalhava todos os dias até às 22h, atualmente eu tenho que fechar às 20h por causa dessa malandragem, esse pedaço todo aqui, da rodoviária até o CSU lá embaixo, virou uma Cracolândia mesmo”. “Dois vagabundos meteram o pé-de-cabra aqui na porta do bar, estouraram tudo e levaram 200 reais que estavam no caixa”, diz Nilton Alves Paixão, dono de um bar e lanchonete da Rua Santa Catarina. “Durante o dia um outro vagabundo puxou o revólver pra mim e também me levou dinheiro, aqui a gente vive com medo”. Além de todos os problemas verificados pela reportagem, há um outro que se observa muito em regiões de alta criminalidade de São Paulo e Rio de Janeiro: a lei do silêncio. Pelo menos 8 pessoas que foram entrevistadas se negaram a dar o nome ou pediram anonimato alegando que os traficantes podem promover represálias para aqueles que reclamam.

NOTA: Enquanto a reportagem do Novo Negocião colhia depoimentos dos moradores de rua, havia um menino de 13 anos com aspecto de usuário de drogas no meio deles. Quando foi perguntado o motivo dele estar ali e não na escola, ele respondeu: “eu fico aqui com eles todo dia, minha casa é lá na São Luiz, mas não gosto de ficar em casa”. Depois de responder essa pergunta o menino não disse mais nada, a reportagem acionou o Conselho Tutelar e, até o fechamento dessa edição, não houve respostas sobre quais foram os procedimentos tomados.

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