domingo, 08 de setembro de 2024

Artigo: A nação do futuro

Publicado em 12 jul 2015 - 03:33:10

           

Neusa Fleury de Moraes

O governo excluiu o ensino da música nas escolas públicas no ano em que eu estava terminando a faculdade. Sou filha de professores, queria ter a mesma profissão de meus pais, e estava motivada para ensinar música. No decorrer da vida fui assistindo passo a passo ao processo de deterioração da educação, que levou outros segmentos sociais a reboque. Lembro do meu avô, do orgulho com que falava do país, em como acreditava que seríamos a nação do futuro, e hoje comemoramos pouco.
Não quero parecer derrotista, porque não sou. Tenho esperanças e não parei de tentar e trabalhar dando a minha contribuição. Conheço muita gente que fez a mesma coisa, e isso conforta – mas às vezes não dá pra evitar o sentimento de que foi tudo em vão e que as coisas só pioraram. Tivemos conquistas e benefícios importantes nas últimas décadas como o SUS e o INSS, que garantem o mínimo de dignidade para o trabalhador. E hoje existem vagas nas escolas públicas, o que não acontecia há 50 anos. Pena que isso não signifique uma boa formação, porque infelizmente ir à escola nem sempre garante isto. Essas conquistas foram resultado da reivindicação popular e trabalho de governos e partidos diferentes, feitas com o dinheiro que pagamos como impostos, nada de graça não. Dentre os prejuízos, além da decadência de tudo que se relaciona à educação, contabilizo perdas importantes para o nosso desenvolvimento, como o sucateamento das ferrovias. Um país deste tamanho e fazemos praticamente todo o transporte pela rodovia, numa burrice sem fim. 
Neste momento em que as crises econômica e política trazem instabilidade social, fica o receio de que as coisas possam piorar ainda mais – e a percepção de como abundam políticos mal intencionados e oportunistas, que iludem, mentem e prevaricam o tempo todo, e que ainda vão querer se aproveitar desta fragilidade para seus projetos pessoais de poder. E estão espalhados por todos os partidos, nem um escapa. 
Você vai dizer que quando chegam as eleições não temos opções, e é verdade. Não existe renovação porque a imagem dos políticos ficou tão ruim que é difícil quem queira se envolver nesse meio hostil e desafiador. Aí o espaço fica livre para pessoas despreparadas e a renovação é mínima. 
Este jornal tem publicado toda semana entrevistas com ourinhenses que revelam seu desejo de mudança na política da cidade. Existe uma vontade de transformação, um cansaço de ver como o recurso público tem sido mal aplicado, e como, depois de eleitos, os políticos executam uma comunicação de uma mão só, ou seja, só falam, não ouvem mais a comunidade que os elegeu. Que estamos insatisfeitos não é novidade – mas precisamos nos engajar com vontade para mudar este cenário, sabendo com clareza onde queremos chegar.
Vejo políticos discutindo a redução da maioridade penal, um assunto que dá visibilidade, possibilita aparecer na imprensa e provoca debates acalorados. No entanto, nenhuma preocupação com o resultado de uma pesquisa que revelou que 70% dos brasileiros não leram nem um livro o ano passado, atestando nossa dificuldade intelectual e impossibilidade de desenvolvimento. 
Apesar de reconhecer que eu poderia ter trilhado caminhos mais fáceis, sei que não conseguiria fazer diferente, e faria tudo de novo, acreditando na transformação que só a educação e a cultura podem propo

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