sábado, 27 de julho de 2024

Associação ourinhense busca a promoção dos direitos da comunidade LGBTQIA+

Publicado em 09 set 2023 - 08:45:19

           

Falta de acolhimento no mercado de trabalho, prostituição, dificuldades para ter acesso a serviços de saúde e falta de acesso a condições básicas de cidadania tornam as pessoas não binárias, sobretudo as mulheres trans, um alvo fácil para doenças e miséria

 

 

Alexandre Mansinho

 

 

O mês de maio é conhecido como o mês da diversidade e, por todo o mundo, são realizadas ações para dar visibilidade a grupos que são historicamente vítimas de preconceito e exclusão. No dia 26 de maio de 2023 foi realizada a fundação da Associação Ourinhense Pela Diversidade de Ourinhos Phietra Blakimon, em atenção ao mês de combate à violência contra a comunidade LGBTQIA+ e ao Dia Mundial Contra a Homofobia e Transfobia.

A realidade das ruas

O palco para essa fundação e eleição dos membros que irão compor o órgão, foi a sede do Senac de Ourinhos e o evento contou com a presença expressiva de ativistas da causa LGBTQIA+, de membros da comunidade, do Vice-prefeito e Secretário de Educação Lucas Suzuki, que compôs a mesa ao lado da Secretária de Assistência e Desenvolvimento Social Viviane Barros, Secretário de Desenvolvimento Econômico Trabalho e Turismo Thiago Moreira, Vereadora Roberta Stopa e o Dr João Victor Camoti, Advogado e Presidente da Comissão da diversidade da OAB de Ourinhos.

A cantora e Drag Queen Ourinhense Kyara D’Liss se apresentou e emocionou a todos com sua linda voz.

A Associação Ourinhense pela Diversidade presta uma homenagem à jovem trans Ourinhense Phietra Blakimon, que morreu em 2016. O principal objetivo da ONG é oferecer apoio às vítimas de discriminação e violência com base na orientação sexual e identidade de gênero. Para isso, disponibiliza uma equipe composta por advogados, psicólogos, assistentes sociais e agentes de direitos humanos, que fornecem orientações sobre casos de homofobia e procedimentos para a mudança de nome social.

Além disso, a associação trabalhará na promoção dos direitos da comunidade LGBTQIA+ e na conscientização sobre saúde, com foco na prevenção de infecções sexualmente transmissíveis, incluindo o HIV/AIDS. O grupo também promoverá debates, eventos e cursos profissionalizantes para abordar questões de interesse da comunidade LGBTQIA+.

A diretoria ficou composta pelo presidente Lucas Totty, Vice-Presidente Naine Santos, 1º Secretário Fred Mansur, 2º Secretário Viviane Muniz, 1º Tesoureiro Greice Karine, 2º Tesoureiro Renan Souza e os Suplentes Jeferson Xavier e Camila Mostasso. Que deverão cumprir o mandato até a próxima eleição, que deverá ocorrer em 2027.

Autoridades presentes no evento de fundação

 

A REALIDADE DAS RUAS – O Jornal Negocião foi à Rua Duque de Caxias, local conhecido por ser um ponto de prostituição de mulheres transexuais na cidade de Ourinhos para saber um pouco mais sobre a realidade vivida por essa população e quais são suas principais reclamações acerca do preconceito e da violência que são vítimas diariamente.

No momento em que a equipe chegou, havia quatro mulheres trans em situação de prostituição no local e duas delas aceitaram conversar com o jornalista.

 

SAÚDE BÁSICA – Karina* (nome fictício) disse que raramente busca as unidades de saúde básica por não se sentir à vontade: “quando a gente entra no posto, somos a atração do lugar, mas o problema não é só esse, nós não somos atendidas direito – parece que o médico quer que a gente saia dali logo – não tem paciência para ouvir os nossos problemas (…) é como se a prostituição fosse um vírus”.

Cris* (nome fictício) também deu sua opinião sobre o atendimento médico: “eles não têm conhecimento para entender nosso corpo, eu, por exemplo, faço uso de hormônios desde que tinha 18 anos, hoje tenho 32, e os médicos não têm ideia do que precisam examinar no nosso corpo para saber se estamos bem de saúde”.

 

VIOLÊNCIA – Segundo as entrevistadas, Ourinhos é uma cidade pacífica e elas não consideram que haja transfobia violenta e agressiva: “aqui estamos seguras, por incrível que pareça, acho que a violência que mais nos afeta é a violência silenciosa”, diz Karina. “Acontece muito do cara negar emprego pra gente de dia, mas à noite vir aqui procurar nossa companhia”, completa.

Cris concorda que Ourinhos não é uma cidade agressiva, inclusive ela fala que é bem atendida no comércio: “temos nossas lojas de preferência, mas, de modo geral, não somos destratadas”.

 

PROSTITUIÇÃO – São poucas as mulheres transexuais que podem afirmar que nunca precisaram recorrer à prostituição, em face à dificuldade de oportunidades no mercado de trabalho. No comércio e na rede supermercadista de Ourinhos existem poucas profissionais que se identificam como mulheres trans; no entanto pesquisas apontam que o número tem crescido.

As entrevistadas concordam que a situação já foi pior, mas que ainda é bastante difícil viver de forma independente sem recorrer à prostituição: “eu tive carteira assinada por alguns anos, mas quando me assumi como mulher trans, ficou cada vez mais difícil manter o emprego e deixar de “vir para a rua”, afirma Cris.

 

O QUE SIGNIFICA A SIGLA “LGBTQIAPN+” – é uma versão ampliada da sigla “LGBT”, ou LGBTQIA+, que representa um conjunto diversificado de identidades de gênero e orientações sexuais. Cada letra ou símbolo na sigla corresponde a uma categoria ou identidade dentro dessa comunidade. Aqui está o significado de cada uma das letras e símbolos na sigla:

L: Lésbicas – Refere-se a mulheres que são atraídas emocionalmente, romântica ou sexualmente por outras mulheres.

G: Gays – Refere-se a homens que são atraídos emocionalmente, romântica ou sexualmente por outros homens.

B: Bissexuais – Refere-se a pessoas que são atraídas emocionalmente, romântica ou sexualmente tanto por pessoas do mesmo sexo quanto por pessoas de sexo oposto.

T: Transexuais – Refere-se a pessoas cuja identidade de gênero é diferente do sexo de nascimento. Por exemplo, uma pessoa é designada como masculina ao nascer, mas que se identifica como mulher.

Q: Queer ou Questioning – “Queer” é um termo abrangente que abarca diversas identidades de gênero e orientações sexuais fora da norma heterossexual e cisgênero. “Questionar” refere-se a pessoas que estão explorando sua identidade de gênero ou orientação sexual e ainda não têm certeza de onde se encaixam.

I: Intersexuais – Refere-se a pessoas que nascem com características físicas, cromossômicas ou hormonais que não se enquadram nas definições típicas de masculino ou feminino.

A: Assexuais – Refere-se a pessoas que experimentam pouca ou nenhuma atração sexual em relação a qualquer gênero.

P: Pansexuais – Refere-se a pessoas que são atraídas por outras pessoas independentemente de seu gênero ou identidade de gênero.

N: Neutro de Gênero – pode representar pessoas que se identificam como gênero neutro, não-binário ou de gênero não especificado. Isso incluiria indivíduos cuja identidade de gênero não se alinha com os papéis de gênero tradicionais.

+: Essa parte da sigla representa a ideia de que a diversidade de identidades de gênero e orientações sexuais é vasta e está sempre evoluindo. O sinal de “+” indica a inclusão de todas as identidades e orientações não mencionadas nas letras anteriores.

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