terça, 09 de dezembro de 2025

Ato foi registrado em vários locais do Brasil e representa um grito de revolta contra o feminicídio

Publicado em 08 dez 2025 - 19:41:27

           

Mobilizadas por coletivos, movimentos sociais e organizações feministas, as manifestações têm o objetivo de romper o silêncio, exigir justiça e afirmar que a sociedade não aceitará mais a impunidade

 

Marcília Estefani

 

Revoltadas contra a violência que todos os dias tira a vida de ao menos quatro mulheres no país, numa verdadeira epidemia de feminicídios, milhares de mulheres foram às ruas no domingo, 7/12, e demonstraram através de cartazes, palavras de ordem, todo descontamento, tristeza, dor e porque não dizer medo, com que são obrigadas a conviver todos os dias.

 

Reprodução Redes Sociais

 

Com o lema “Basta de feminicídio. Queremos as mulheres vivas”, elas protestavam contra todas as formas de violência de gênero que violam o direito das mulheres a viver com liberdade, respeito e segurança. As manifestações alcançaram várias cidades do país.

Mobilizadas por coletivos, movimentos sociais e organizações feministas, as manifestações têm o objetivo de romper o silêncio, exigir justiça e afirmar que a sociedade não aceitará mais a impunidade.

Em São Paulo, que registrou um recorde de feminicídios neste ano, mais de 9 mil pessoas participaram do ato sob o mesmo apelo: Parem de nos Matar!

Em Bauru, cerca de 300 pessoas, segundo os organizadores, fizeram uma passeata na Avenida Getúlio Vargas com cartazes que pediam o fim da morte violenta de mulheres.

O caso de Jéssica Pereira Silva, ocorrido nesta segunda-feira, 8/12, em Bauru, quando foi agredida e morta pelo ex-companheiro, se une aos mais de mil casos de feminicídio registrados no Brasil em 2025, segundo os dados divulgados no início deste mês de dezembro.

 

Reprodução Redes Sociais

 

Os casos vêm aumentando e chocando o país

Na sexta-feira, 5, foi encontrado, em Brasília, o corpo carbonizado da Cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos, 25 anos. O crime está sendo investigado como feminicídio, após o soldado Kelvin Barros da Silva, 21 anos, ter confessado a autoria do assassinato. Ele está preso no Batalhão da Polícia do Exército.

No final de novembro, na zona norte de São Paulo, Tainara Souza Santos teve as pernas mutiladas após ser atropelada e arrastada por cerca de um quilômetro, enquanto ainda estava presa embaixo do veículo. O motorista, Douglas Alves da Silva, foi preso por tentativa de feminicídio.

 

Manifestante em Brasília durante o Levante Mulheres Vivas (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

Na mesma semana, duas funcionárias do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-RJ), no Rio de Janeiro, Allane de Souza Pedrotti Matos (professora doutora) e Layse Costa Pinheiro (psicóloga), foram mortas a tiros por um funcionário da instituição de ensino que se matou em seguida.

Na manhã do sábado, 6/12, em Ibirarema, durante uma discussão, o marido teria esfaqueado a esposa. Mesmo feida, ela conseguiu fugir, acionou a polícia, que encontrou o homem sem vida no interior de sua casa. O estado de saúde da mulher não foi confirmado.

No domingo, 7/12, a farmacêutica Daniele Guedes Antunes, de 38 anos, foi morta pelo marido em Santo André, na frente da filha de 11 anos. A vítima chegou a ser socorrida, mas não resistiu.

No mesmo dia, Milena de Silva Lima, de 27 anos, foi encontrada morta pela Polícia no banheiro do apartamento que morava em Diadema/SP, ao lado do corpo do suspeito, também sem vida, com ferimentos no pescoço. O casal estava separado havia dois meses e tinha um filho. A porta do apartamento tinha sinais de arrombamento.

Em Piraju, em 21 de novembro, a advogada Camila Silva foi morta pelo marido, o Policial Militar Leonardo da Silva, de 25 anos, que matou também o pai da esposa e após atingir as vítimas com uma faca, tirou a própria vida.

Isso sem falar em Isabely Gomes, morta com os quatro filhos em incêndio provocado pelo marido em Recife (PE); e Catarina Kasten, estuprada e assassinada em uma trilha em Florianópolis (SC) quando ia para a aula de natação.

Esses são apenas alguns dos casos mais recentes, que marcaram o fim trágico destas mulheres, mães, profissionais, filhas. A verdade, segundo pesquisas, é de que cerca de 3,7 milhões de mulheres brasileiras viveram um ou mais episódios de violência doméstica nos últimos 12 meses, segundo o Mapa Nacional da Violência de Gênero.

Em 2024, 1.459 mulheres foram vítimas de feminicídios. Em média, cerca de quatro mulheres foram assassinadas por dia em 2024 em razão do gênero, em contextos de violência doméstica, familiar ou por menosprezo e discriminação relacionados à condição do sexo feminino.

 

Medidas insuficientes

Indicadores de violência revelam que as medidas que endurecem a punição para casos de feminicídios são importantes, porém insuficientes para evitar o assassinato de mulheres.

O perfil das ocorrências mostra que 63,6% das vítimas registradas em 2024 eram negras; 70,5% tinham entre 18 e 44 anos; oito em cada dez foram mortas por companheiros ou ex-companheiros, e 64,3% dos crimes ocorreram dentro de casa. Ainda segundo levantamento, 97% foi assassinada por homens.

Diante desse cenário mundial e do agravamento da violência no país, os movimentos destacam que para enfrentar o feminicídio são necessárias ações permanentes e articuladas.

A necessidade de políticas contínuas é imprescindível, como delegacias da mulher 24 horas, campanhas permanentes de enfrentamento à misoginia, com criminalização da prática, responsabilização das plataformas digitais, fortalecimento da rede de abrigos, formação continuada de agentes públicos e orçamento garantido para programas de proteção.

Além de São Paulo, as mobilizações tomaram conta de ruas no Rio de Janeiro (RJ), Vitória (ES), Belo Horizonte (MG), Maceió (AL), Fortaleza (CE), São Luís (MA), João Pessoa (PB), Recife (PE), Teresina (PI), Natal (RN), Rio Branco (AC), Manaus (AM), Boa Vista (RR), Palmas (TO), Florianópolis (SC), Curitiba (PR), Campo Grande (MS), Goiânia (GO), Brasília (DF), Bauru (SP).

Em Salvador (BA), o protesto está marcado para o próximo domingo, 14/12, às 10h, na Barra.

(Com informações g1)

© 1990 - 2023 Jornal Negocião - Seu melhor conteúdo. Todos os direitos reservados.