quinta, 02 de janeiro de 2025

Cooperativa Recicla Ourinhos é alvo de denúncias

Publicado em 28 mar 2018 - 01:54:09

           

Alexandre Mansinho

Em meados dos anos 90, um grupo de catadores de materiais recicláveis que trabalhava no lixão municipal (hoje aterro controlado) se uniu e criou a ACMRO (Associação de Catadores de Material Reciclável de Ourinhos), ou simplesmente Recicla Ourinhos.

Hoje a instituição conta com mais de 100 cooperados e realiza, através de um convênio com a Superintendência de Água e Esgoto de Ourinhos – SAE, uma coleta porta-a-porta de recicláveis domésticos que rende cerca de 200 toneladas por mês.

Matilde Ramos da Silva Brás ocupou por muito tempo a presidência da Recicla e, em função desse cargo, já esteve em diversos eventos relacionados ao tema da reciclagem, tanto no Brasil quanto no exterior.

Embora o trabalho da ACMRO seja considerado referência para as cooperativas do setor, nos últimos meses as redes sociais têm sido palco de denúncias sobre possíveis irregularidades na destinação do material coletado e na gestão dos cooperados.

Cacilda Aparecida de Souza, ex-cooperada, que atualmente trabalha como catadora de materiais recicláveis de forma independente, denuncia o que, segundo ela, é uma perversão dos princípios que deveriam reger a Recicla Ourinhos: “eu vi muita coisa lá dentro que jamais deveria acontecer em uma cooperativa, para mim aquilo é uma empresa familiar”.

“COOPERADOS VIVEM COM MEDO” – Em entrevista exclusiva para o Jornal Negocião, Cacilda relatou que a ACMRO não informa os cooperados sobre as quantidades de material coletado e nem sobre os preços de revenda da produção: “eles (Recicla) recebem uma verba da SAE para a realização da coleta, no entanto os preços pelos quais são vendidos os materiais coletados não são informados (…) a Matilde e sua família impõem um clima de terror no cooperado para que ele, mesmo sem concordar, não tenha coragem de reclamar (…) há desvios dos materiais nobres para a casa da Matilde, sem nem ao menos dar satisfação aos outros cooperados”.

“FUI EXPULSA POR DISCORDAR DA MATILDE” – Questionada sobre quais foram os motivos que a levaram a deixar a Recicla, Cacilda responde que nunca quis sair: “eu viajava com a Matilde para vários lugares por conta da Cooperativa e, aos poucos, fui aprendendo quais eram os princípios que deveriam nortear o trabalho dos cooperados (…) por discordar do que precisava ser feito, acabaram me expulsando”.

“QUASE PERDI MEU BRAÇO” – Silvia Alessandra Leite, cooperada que atualmente está de licença médica, relata que sofreu um acidente de trabalho e, segundo ela, teve o socorro negligenciado: “eu estava trabalhando na esteira e fui tirar um pedaço de madeira que estava entre os rolamentos, nisso o meu braço ficou preso entre as engrenagens (…) a Matilde, em vez de ligar para o SAMU ou para os Bombeiros, ligou para o seu marido, pois o objetivo deles era salvar primeiro o equipamento (…) quando, depois de algum tempo, os bombeiros chegaram, eles estavam tentando desmontar a esteira (…) os bombeiros fizeram foi cortar a esteira para poder livrar meu braço (…) por pouco não tive que amputar o braço, tudo isso por causa do atraso no socorro (…) quando fui falar com a Matilde, tempos depois, ela disse que não podia fazer mais nada por mim”.

“CACILDA TEM COMIGO UM PROBLEMA FAMILIAR” – Procurada pelo Jornal Negocião para dar sua versão sobre as denúncias, Matilde disse que preferia dar suas respostas no decorrer do processo judicial. No entanto, de forma preliminar, a ex-presidente da ACMRO ressalta que nenhuma das supostas irregularidades apresentadas por Cacilda são verdadeiras: “ela trabalhou um tempo na Recicla e, por conta de problemas familiares, ela acabou tomando essas atitudes (…) as auditorias que já foram realizadas nas contas e nos documentos da cooperativa, por conta do convênio que temos firmado com a SAE, mostram que não há irregularidades (…) as acusações que a Cacilda faz são todas sem provas (…) até o que é dito sobre o acidente não corresponde com a verdade, jamais foi negligenciado socorro”.

“TODAS AS OBRIGAÇÕES TRABALHISTAS FORAM CUMPRIDAS” – Dr. Gilvano José da Silva, advogado que responde pelo setor jurídico da ACMRO, procurou o jornal e afirmou que está levantando toda a documentação necessária para rebater essas denúncias: “precisamos de um tempo para poder juntar as provas, mas podemos dizer preliminarmente que nenhuma das acusações são procedentes (…) o Ministério Público já arquivou a primeira denúncia e, a meu ver, o problema é que essas duas senhoras não compreendem como funciona uma cooperativa (…) sobre o acidente, todas as medidas necessárias foram tomadas e, atualmente, a cooperada recebe do INSS pouco mais de mil reais como auxílio-doença e, ao contrário do que está sendo veiculado, ela não ficou desamparada (…) claro que lamentamos o ocorrido, no entanto podemos afirmar que todas as normas de segurança incluindo o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) são observadas”. 

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