terça, 17 de setembro de 2024
Publicado em 15 jan 2016 - 04:36:53
José Luiz Martins
Desde que a diretoria da Santa Casa de Ourinhos reuniu a imprensa no último dia 5 para expor as dificuldades financeiras do hospital, a situação da instituição só piorou. Com as contas fechando no vermelho há alguns meses, a eminência de demitir 100 funcionários, o fechamento de uma ala, o corte de 5 especialidades oferecidas no plantão, o atraso do pagamento dos salários de dezembro dos médicos e funcionários aumenta o tamanho da crise financeira que se abate sobre o hospital.
Segundo Celso Zanuto, o administrador da entidade, dos 85% de atendimento do SUS, mais de R$ 2 milhões são extra teto (além dos 60% previsto em contrato) produzido, que os governos não cobriram. Para a direção não é justo endividar cada vez mais o hospital amargando prejuízos que estão se acumulando. Conforme Zanuto essa situação já era esperada com números catastróficos ante a falta de recursos, mas embora o prejuízo seja crescente a entidade tem que continuar atendendo. Até novembro de 2015 em média foram 800 atendimentos mensais totalizando cerca de 8.900 internações no ano.
“Dizem por aí que a Santa Casa agora é um hospital particular, de rico, mas a maioria das internações é do SUS (…) ninguém quer pagar, acham que o hospital sobrevive de brisa”, contestou o presidente da instituição demonstrando que os números de pacientes internados são 66,87% do SUS; 19,78% convênios vários, particular 7,42% e 5,93% atendimentos pelo IAMSPE.
O atendimento de ambulatório por período até o mês de novembro de 2015 atingiu 30.070 atendimentos, são pacientes que (na teoria) não precisam de internação, nem estar acamados. Segundo ele outros convênios fora o SUS pagam mal também e o trabalho de alguns novos médicos especialistas corresponde ao resultado do faturamento no atendimento particular onde sempre querem pagar parcelado e buscam negociação de preço.
Sobre o IAMSPE afirmou ser um absurdo a demora para os pagamentos devidos a Santa Casa, destacando que a dívida do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público do Estado (IAMSPE) com o hospital está acumulada em R$ 2 milhões. Ele observou que existe um teto de 300 mil para atendimento do IAMSPE e, mês a mês o atendimento ultrapassa esse teto. Tanto a contratualização do SUS quanto do IAMSPE diz que o número máximo de internações mensais estará vinculado ao limite de recursos estabelecidos pela internação de média e alta complexidade regulada pelo gestor municipal incluindo cirurgias eletivas.
Uma vez ultrapassado o teto limite, por lei, o número de atendimentos no mês subsequente será reduzido imediatamente para compensar o excedente até o equilíbrio da compensação entre o faturamento do teto financeiro definido pelo gestor. E completou: “O IAMSPE deve 2 milhões, e pela lei nos últimos dois meses a Santa Casa poderia ficar sem atender o IAMSPE. E nós somos ruins, estamos bancando isso, prestando o serviço, correndo o risco de não receber. Não está autorizado a fazer, porque fez? Não era pra fazer está aqui na lei. E os outros ficam falando besteiras por aí”. Durante a entrevista foram apresentados dados informando que a taxa de ocupação de UTI com internação pelo SUS, entre 2013 e 2015 chegou perto dos 100%. UTI adulto em 2015 foi em média de 95,27% e infantil 87,31%, o percentual é reflexo do atendimento de complexidade.
Conforme Zanuto, no ano passado foi solicitado o credenciamento de mais 10 leitos de UTI a serem estruturados no antigo centro cirúrgico quando ficasse pronto o novo, mas não houve o credenciamento. Mesmo assim além dos leitos (UTI) credenciados, o hospital improvisou 10 novos leitos de terapia intensiva com equipamentos, médicos e enfermagem sem receber qualquer ajuda dos órgãos governamentais. “Em 2015 nós começamos a atender os casos de maior complexidade, aqueles em que o paciente está a beira da morte temos que atender senão entramos na estatística e perdemos recursos. São pacientes com AVC, infartados, vítimas de armas, acidentados. Aqui temos recorde de acidentes de moto. E isso aumentou muito o custo do hospital. Em 2015 o número de cirurgias realizadas foi de 390, com muito mais riscos, despesas com UTI. Hoje atendemos bem acima do que está estabelecido pelas contratualizações”. E ainda desabafou: “São tantas besteiras que falam, que somos uma diretoria que não planeja nada, só pensamos em construção. Em 2015 lavamos 320 toneladas de roupas, 20 toneladas por mês, mil quilos por dia, lavar, passar, distribuir é uma fábrica funcionando com água quente, roupas passadas pelo vapor e pela calandra sem ninguém por a mão, esterilizada. Confeccionamos atualmente cerca 6 mil peças de roupas hospitalares. Então temos todo esse custo o ano inteiro e dizem que nós só pensamos em tijolo”.
Hoje a entidade tem 669 funcionários com 100 trabalhadores na fila para serem demitidos e segundo Celso, só não foram ainda, por que isso também gera despesas e não há dinheiro para pagar esse pessoal. Mesmo com os repasses estadual e federal sempre atrasados, o atendimento geral vem se mantendo, com a instituição até agora cobrindo esses déficits com empréstimos bancários, porém, se em dois meses não houver o corte de despesas a situação vai ficar insustentável, avisou Zanuto. O hospital de saúde mental também carrega um déficit financeiro de R$ 101.000 mensais, e atendendo as diretrizes do Ministério da Saúde será transformado em um Hospital Geral, mas com uma ala específica para pacientes psiquiátricos que hoje custam mais de R$ 100 por dia e o dinheiro repassado pelo governo é de R$ 43 de diária.
Em conversa com a reportagem o presidente da Santa Casa explicou que a folha de pagamento do hospital gira em torno de uma média mensal de R$ 1.138 milhão. Com os repasses do governo atrasados e por conta do hospital estar inserido na categoria sustentável estruturante, o rombo hoje é muito maior. Se o hospital não tivesse linhas de créditos bancários para contornar a situação de déficit orçamentário já teria fechado. Com isso os salários dos funcionários e médicos novamente estão atrasados devido a falta do repasse que deveria acontecer até o 5º dia útil de cada mês.
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