quarta, 09 de outubro de 2024

Fábrica de ração sofre ação de despejo e pode desempregar dezenas de colaboradores em Ourinhos

Publicado em 21 jun 2021 - 15:36:47

           

A Nutrier Alimentos foi condenada em uma ação movida por uma Cooperativa de leite que há décadas não atua em Ourinhos/SP, mas alega ser dona de um terreno do Distrito Industrial I

 

 

Alexandre Mansinho e Hernani Corrêa

 

Uma decisão judicial em primeira instância proferida em Ourinhos pode desempregar dezenas de funcionários diretos e indiretos de uma fábrica de alimentos para pets em Ourinhos. A decisão cabe recurso.

 

A Nutrier está instalada no Distrito Industrial I em Ourinhos, em atividades há 12 anos

 

ENTENDA O CASO – Em julho de 1991, quando da estruturação do Distrito Industrial I na cidade de Ourinhos/SP, uma cooperativa de produtores de leite foi fundada e recebeu, via doação, um terreno para que pudesse montar o seu parque industrial.

A Associação Produtores de Leite da Região de Ourinhos, no entanto, funcionou apenas alguns anos e, posteriormente, passou a alugar o espaço e a estrutura montada para outras empresas.

No entanto, conforme é possível verificar nos Diários Oficiais do Estado de São Paulo, nenhuma outra empresa conseguiu se firmar no local, até que Dr. Antônio Nunes, médico cardiologista conhecido na cidade, e Rodrigo Maretti Nunes, seu filho e hoje gerente da fábrica, fizeram um contrato de aluguel com a Associação para que pudessem instalar ali sua fábrica de alimentos para pets.

INCÊNDIO NO INÍCIO – A Nutrier Alimentos nasceu em 2009 e, ainda com poucos meses de funcionamento sofreu grandes prejuízos por conta de um incêndio. Felizmente não houve vítimas, mas o fato acabou prejudicando o desenvolvimento da empresa: “procuramos um acordo com a Associação, mas nunca houve sucesso”, afirma Rodrigo.

 

Situação em que se encontrava o terreno nos inícios das atividades da Nutrier

 

Ainda segundo o gerente, houve investimentos de R$ 10 milhões nesses 12 anos, além do pagamento de todas as taxas e impostos devidos: “quando mudamos aqui havia apenas o galpão e a alvenaria do escritório, tudo precisou ser reformado (…) o terreno estava em situação de abandono (…) empregamos diretamente 20 pessoas, além dos cerca de 15 empregos indiretos (…) hoje fornecemos rações para a Rede Assaí Supermercados e temos outros projetos à vista”.

COOPERATIVA ENTRA COM AÇÃO DE DESPEJO – Em 2017 os responsáveis pela Associação de produtores de leite, segundo consta, ricos empresários bastante conhecidos na cidade, entraram com uma ação de despejo que tramitou até 2021. A ação acabou sendo deferida.

Atualmente a Nutrier briga na justiça para que seja reconhecida a relevância social da empresa e que a ação seja derrubada: “a Associação não está mais ativa, não há sentido em querer cobrar por um terreno que, em tese, pertence ao município”.

TENTATIVA DE ACORDO – Dr. Nunes afirmou que houve contatos para que houvesse acerto nos aluguéis e que a ação fosse suspensa. Houve até uma visita dos interessados da Associação na Nutrier, mas nenhum acordo foi firmado. Inclusive, nessa semana, foi feita uma última tentativa sem sucesso.

DEMANDA CRESCE – Atualmente, a Nutrier tem sido procurada por diversos parceiros para que possa produzir rações para outras marcas, como parceira terceirizada. Os planos, caso seja permitido que a empresa continue funcionando, é de ampliar os turnos de funcionamento e de dobrar o número de funcionários: “será muito triste ver todo esse investimento sendo perdido”, completa Rodrigo.

MUITAS VIDAS EM JOGO – Rodolfo Rodrigues Gonçalves de Oliveira, há 10 anos na empresa, operador de extrusora, teme perder o emprego e acabar ficando sem renda, pois a função que exerce na fábrica é muito específica: “além de ser funcionário, como cidadão eu também temo pelo fechamento da fábrica (…) serão divisas que o município vai perder”.

Édson Flávio Gomes Tavares, funcionário da Nutrier há quatro anos, operador de caldeira, tem medo de não ter recursos para sustentar os seis filhos, muitos deles menores de idade e totalmente dependentes: “eu vou “estar na roça” se essa empresa fechar (…) nesse momento de crise, serão várias pessoas que irão depender de auxílios do governo”.

 

Diretores e colaboradores da empresa, que gera emprego e renda à dezenas de famílias

 

Gedilson Barreto, com 12 anos de casa, entrou na empresa com 20 anos e aprendeu a função de operador de caldeira, tem um filho de seis anos e, como seus outros colegas de empresa, não vê um futuro muito promissor caso a empresa seja obrigada a encerrar suas atividades: “eu entrei aqui sem saber nada, hoje sou um operador de caldeira com 12 anos de experiência, mas estou no pior momento e no pior lugar para ficar desempregado (…) a recolocação profissional para pessoas que trabalham no meu setor é muito complicada, teria que ir para outra cidade”.

Karen Bielawski, veterinária, que é inspetora de qualidade e responsável técnica da Nutrier há quatro anos, afirma que uma demissão seria muito complicada para a fase da vida na qual ela se encontra: “estou terminando de construir a minha casa, sou mãe, esposa, trabalhadora e, se perder o emprego, perdem também os pedreiros que trabalham para mim, a profissional que cuida do meu filho para que eu possa trabalhar e outras tantas pessoas que precisam de mim”.

REVOGAÇÃO DA DOAÇÃO PODE REVERTER DECISÃO – a Lei nº 3.327, de 01 de julho de 1.991, que doava o terreno à Associação dos Produtores de Leite da Região de Ourinhos foi revogada em agosto de 2019. Essa decisão já foi objeto de recurso e é mais um episódio desse complexo problema.

A revogação determina que “será procedida a reversão do imóvel ao patrimônio público municipal, independente de interpelação judicial ou extrajudicial, ficando o mesmo à disposição para nova alienação por doação”.

OUTRO LADO – José de Alencar Telles, atual presidente da Cooperativa, afirmou que a entidade praticamente foi extinta, devido Ourinhos não ser uma região produtora de leite. Que apenas querem receber os alugueis da Nutrier que, segundo ele, faz 10 anos que não paga.

Teles afirmou ainda que só não devolveram a área para a prefeitura porque pretendem receber a inidenização de uma edificação de 1.000 m2 que a Cooperativa fez no imóvel.

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