domingo, 08 de setembro de 2024

Falta remédio de alta complexidade na rede pública

Publicado em 29 jul 2016 - 04:25:15

           

Os fatos são recorrentes. Munícipes que necessitam de medicamentos que deveriam ser disponibilizados gratuitamente estão sofrendo com a falta dos remédios nas farmácias dos postos de saúde da cidade. Nos últimos meses o NovoNegocião vem recebendo várias reclamações de pacientes atendidos pelo SUS que passam pelo drama e a angústia diante do agravamento de doenças cujos tratamentos dependem do sistema público de saúde.

A dona de casa Neide Francisco dos Santos moradora na Vila Sá foi até o posto de saúde para buscar remédios para baixar o nível de colesterol no sangue que previne acidente vascular cerebral, o AVC. Ela relatou à reportagem a situação que vive: “Uso dois medicamentos de alto custo Atorvastatina e Fenofibrato. Acontece que sempre um desses está em falta quando venho retirar, ou é um ou outro, é difícil ter os dois. Já aconteceu de não ter nenhum. Se tiver que comprar custa quase cem reais. Vivo uma situação da doença se agravando por que não tenho condições de comprar e aí a diabete e colesterol sobe e passo muito mal. Eu já cheguei a pedir pra falar com a assistente social para pedir ajuda, mas fui esnobada e não fui atendida”.

A aposentada Izildinha Benedita Ciane disse que encontrou os medicamentos Fluoxetina e Amoxilina mas não conseguiu retirar Levotiroxina sódica, hormônio sintético usado no tratamento de reposição hormonal quando há déficit de produção de tiroxina pela glândula tireoide. “Olha não é a primeira vez que fico sem esses remédios e quando isso acontece a gente aperta daqui e dali, pede ajuda pros parentes e compra. Não tem o que fazer a gente que ganha salário mínimo tem que se virar”.

“Hoje eu consegui pegar mas há dois meses atrás não tinha e eu tive que comprar e isso acontece com outros remédios também. No posto da vila falta mais e eles pedem para ir buscar no postão e não tem também”. A reclamação é da dona de casa Madalena da Silva moradora na vila São Luiz, ela usa diariamente os medicamentos Fluoxetina e Amytril indicados como antidepressivos.

 O SUS disponibiliza desde medicamentos básicos até remédios para doenças graves com risco de morte. O déficit vai do medicamento básico ao de alto custo, fármacos como antibióticos, analgésicos, anticoncepcionais a remédios para colesterol alto, diabetes, hipertensão e doenças cardiovasculares entre outras. Além da falta dos medicamentos outro problema diz respeito às receitas médicas com prazo, com a eventual falta dos remédios as receitas perdem validade sendo preciso passar novamente pelo médico. Isso gera outro transtorno para os pacientes devido a espera para conseguir remarcar nova consulta e obter nova receita. “Desta vez tinha, mas minha mãe ficou uns três meses sem a Fluoxetina e quando isso acontece não dão uma previsão de quando vai chegar. Tem que ficar passando ou telefonando aqui pra saber se tem ou não. Outro problema é que as receitas são para três meses e tem que ficar passando no médico pra renovar. Minha mãe tem 84 anos e isso é muito dificultoso”, contou a aposentada Ivani de Almeida.

Existem casos mais graves ainda como o de uma paciente que após cirurgia para retirada da vesícula foi-lhe receitado Clindamicina, Profenid, Dramin, Dipirona e Ciprofloxacina; somente esses dois últimos foram encontrados no dispensário do posto de saúde. A paciente moradora da COHAB não tinha dinheiro para comprar os remédios que faltaram e seu quadro pós-operatório se agravou com infecções, complicação decorrente do não uso da Ciprofloxacina e Clindamicina. Ela acabou obtendo ajuda de terceiros que compraram os remédios, mas teve que voltar ao hospital para outros procedimentos médicos por conta da infecção que se alastrava.

Moradoras do Pq Pacheco Chaves, Marta Molins Caetano e Maria Tereza Caetano também estão sofrendo, uma vez que a falta de medicação controlada coloca em risco a saúde das duas. O casal relatou à reportagem as dificuldades que estão passando. “Eu tomo Fluoxetina e outro medicamento para colesterol que normalmente não tem e dizem pra comprar porque não sabem dizer quando vai ter. E o pobre como é que fica, vai morrer?”, questiona a advogada Marta. Já Maria Tereza faz tratamento psiquiátrico e narrou que a cerca de dois meses o medicamento Lítio usado na terapia para Doença Bipolar não é encontrado na farmácia do posto central.

Ela também usa Quetiapina, remédio da classe dos antipsicóticos para esquizofrenia. “Eu já fiquei internada por 120 dias por causa da piora da doença. O Lítio já faz um mês que não tem no posto e não é tão caro, mas, o Quetiapina custa quase 400 reais, eu comprei o genérico que custa mais de 200 reais. Nós ainda temos condições de comprar e quem não pode vai morrer por causa do sistema de saúde que não funciona como deveria”, indaga a professora.

 

Embora na divisão de competência administrativa da saúde pública o município possa figurar apenas como distribuidor dos medicamentos comprados e disponibilizados pelo governo Federal e Estadual, a união, estados e municípios são igualmente responsáveis quanto à garantia do acesso gratuito a remédios por quem não pode comprar. Todos esses entes federativos formam o Sistema Único de Saúde (SUS), estão inseridos na chamada responsabilidade solidária e devem garantir o direito à saúde ao cidadão. O NovoNegocião entrou em contato com a Secretaria Municipal de Saúde na última quarta-feira (27/07) reportando os problemas e pedindo um posicionamento, porém, até o fechamento desta edição não houve retorno à reportagem.

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