quinta, 03 de outubro de 2024
Publicado em 07 maio 2019 - 10:43:25
Letícia Azevedo
A saúde pública no Brasil como um todo vive um momento de caos. O problema de nível nacional não deixa de fora a nossa cidade, que apesar de alguns esforços por parte do Poder Público, ainda não é suficiente para atender a demanda populacional.
Registros de reclamações sobre exames que demoram, filas de espera gigantescas e principalmente a falta de profissionais agravada pela readequação do Programa Mais Médicos, são problemas presentes diariamente na vida de pessoas em todo o país.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, há aproximadamente 17 médicos para cada 10 mil habitantes no Brasil, enquanto na Europa esse número chega a 33. Em Ourinhos são 19 Unidades Básicas de Saúde espalhadas pelos bairros com maior concentração de moradores, e a UPA que atende de maneira emergencial. Nas UBS da Cohab e no Postão Central os horários foram estendidos até às 23 horas no intuito de “desafogar” a UPA do número de pacientes atendidos. Porém o pronto atendimento não vem se realizando de modo satisfatório para os pacientes que buscam essas unidades, pois por se tratar de um “Pronto Atendimento”, o profissional da área da saúde não pode realizar pedidos de exames e nem encaminhamentos para outros profissionais especialistas.
Segundo a Secretária de Saúde Cássia Palhas, existe um protocolo de atendimento a ser seguido que faz com que esses profissionais ajam dessa forma. “O horário estendido funciona como atendimento apenas de urgência e emergência. Os médicos não podem solicitar exames, pois não conseguirão dar o acompanhamento necessário a esse paciente quando os resultados estiverem prontos. Para que haja o acompanhamento necessário o munícipe deve se dirigir até a Unidade Básica de Saúde e agendar um clínico geral, que é o profissional que vai conseguir dar o devido acompanhamento e inclusive, se necessário, encaminhar para o especialista na área” – esclareceu Cássia.
Entramos em contato com o médico ortopedista Dr. Jadir Grilo que apontou que a problemática da saúde não é exclusividade de nossa cidade. “Há uma necessidade urgente em se fazer a chamada ‘Descentralização e Otimização de Logística’, ou seja, realizar um atendimento mais dividido e com mais qualidade. 90% dos problemas vêm da falta de profissionais. A UPA de Ourinhos divulgou um número preocupante. Ela realiza cerca de 8.500 atendimentos ao mês. São 284 pacientes por dia, e se dividirmos isso por hora, daria um total de 12 pacientes/hora, para serem atendidos por um profissional. Isso é humanamente impossível”.
O médico disse que se algumas mudanças fossem realizadas no SUS em geral, vários episódios enfrentados pelos pacientes de nossa cidade seriam ao menos amenizados. “Se a UPA fosse ampliada, se ela se tornasse intermunicipal, e o PA fosse levado para a Santa Casa, desafogaria com certeza o atendimento da Unidade. A Santa Casa, que é mais equipada, também levaria aos pacientes um atendimento com maior otimização. Construir um Ambulatório de Especialidades Municipal também desafogaria a fila de espera dos pacientes. Se a Saúde fosse dividida em duas partes: Preventiva e Curativa, nós teríamos também menos pacientes para atender. É necessário a criação de políticas públicas que incentivem uma vida mais saudável para que possamos tratar o doente não a doença” – finalizou.
CPI sobre a UPA de Ourinhos – Na noite da última sessão da Câmara Municipal de Ourinhos, o assunto novamente foi a questão da saúde na cidade, e o Vereador Edvaldo Lúcio Abel (Vadinho) propôs a criação de uma CPI que tratasse das mortes ainda sem resposta ocorridas na UPA. “As pessoas procuram por nós, quase que semanalmente, apontando alguma irregularidade no atendimento envolvendo a UPA. O Conselho Nacional de Medicina diz que as Unidades de Pronto Atendimento não podem manter o paciente por mais de 24 horas dentro da Instituição. E o que está acontecendo é a ida e vinda dos pacientes até a Unidade, até que o paciente tenha uma grande piora e venha a óbito. E isso não está sendo um caso isolado. São mais de 10 casos onde temos a certeza que não tiveram o atendimento necessário”.
O vereador relatou que o pedido de CPI já tem três assinaturas, que conta com o próprio parlamentar, com o vereador Dr. Salim e também Flavinho do Açougue. “O que nós queremos é ter o acesso ao contrato da UPA, queremos ter acesso ao que a Unidade tem ou não obrigação para com os pacientes. Há muito tempo nós estamos fazendo requerimentos, estamos pedindo informações até para esclarecer a população. Existe inclusive uma comissão chamada Comissão de Óbito na instituição. Nós queremos saber quem faz parte, quem são os médicos responsáveis por essa comissão. Queremos saber também dos relatórios de atendimento que a UPA encaminha para a Secretaria de Saúde do Município, onde através desse documento é realizado os pagamentos dos atendimentos. Como estão sendo feitos os pagamentos dos casos de óbito. E nós só vamos ter acesso a todas essas informações se a CPI for instaurada. Só assim a população poderá saber o que realmente está acontecendo dentro da UPA. Se é negligência, se os profissionais não são qualificados, nós não sabemos. O que nós sabemos é que foram 10 casos de pessoas que vieram a óbito sem nenhuma explicação” – finalizou o vereador.
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