sexta, 24 de janeiro de 2025

Mesmo com ações da Prefeitura de Ourinhos, moradores de rua ocupam a concha acústica

Publicado em 16 jun 2017 - 03:54:44

           

Alexandre Mansinho

Noite fria na cidade de Ourinhos, um grupo de jovens de um movimento social/religioso vê vários sem-teto abrigados na Concha Acústica, bem próximo ao Terminal Rodoviário Municipal, e decide organizar um sopão para, pelo menos naquela noite, oferecer um pouco de humanidade àquelas pessoas. A equipe do Jornal Negocião esteve lá e pôde testemunhar um pouco das histórias e da realidade de cada um daqueles que sobrevivem cada dia enfrentando vícios e discriminação. Os jovens, membros da Juventude Vicentina, estão sempre envolvidos em ações sociais. Guilherme Rodrigues Dias, coordenador do grupo, diz que ele sempre é surpreendido com o envolvimento desses jovens na ajuda aos necessitados: “hoje, por exemplo, partiu deles a ideia de fazer o sopão”.

Histórias de vida – Havia ali migrantes, pessoas oriundas dos estados do Mato Grosso e do Paraná – alguns jurados de morte nas suas cidades natais por dívidas de drogas ou até mesmo fugindo de internações compulsórias. No entanto, o que mais chama a atenção são os que tem família no próprio município de Ourinhos e, por problemas familiares ou vício em álcool, preferem viver nas ruas a reconectarem-se com as famílias. Esse é o caso de Moacir José de Melo, que vive nas ruas embora tenha filhos e netos ourinhenses: “tenho dois filhos, um é mecânico de motos e o outro trabalha como motorista na usina, costumo ficar no Centro Pop, mas tive problemas com uma mulher que é atendida lá e preferi ficar nas ruas mesmo”. Moacir admite que é alcoólatra, fato que torna a reconecção familiar bem mais difícil. 

“Não tem nenhum coitado ali” – C.R.O., 31 anos, morador das imediações da rodoviária, critica as ações sociais “assistencialistas” que, segundo ele, “só serve para dar moleza para esses vagabundos” – segundo C.R.O. o governo gasta dinheiro do contribuinte para “mimar” essas pessoas e, com isso, aumenta o problema: “não tem nenhum coitado ali, quem mora aqui perto da concha não tem liberdade, eles pedem nas ruas e são violentos, tenho medo até de deixar meus filhos andarem sozinhos nas ruas aqui perto de casa”. De fato, o Jornal Negocião já noticiou vários incidentes envolvendo violência por parte dos moradores de rua e também registrou o protesto da população local que considera ter seus direitos limitados por tal situação.

Políticas públicas – A Prefeitura de Ourinhos, por meio da secretaria de Bem Estar Social e pelo Fundo de Solidariedade tem um trabalho sistemático de acolhimento e atendimento para a população migrante e população de rua. Segundo dados do governo municipal, há um trabalho diário de abordagem com aqueles que estão dormindo nos logradouros. 

O Prefeito Lucas Pocay diz, com exclusividade para o Negocião, que não há receita mágica para a resolução do problema: “há uma atenção especial do nosso governo para essas pessoas, há abordagens diárias e há também um trabalho para identificar quais são as causas que levaram essas pessoas a estarem em situação de rua”.

A presidente do Fundo Municipal de Solidariedade, Clara Pocay, diz que uma das causas do problema são as esmolas, que acabam dificultando o trabalho psicossocial exercido pela prefeitura: “são várias as causas que levam uma pessoa a estar em situação de rua, precisamos ter responsabilidade nas ações sociais, a população precisa compreender que a esmola não resolve o problema, pelo contrário, acaba sendo mais um fator que perpetua a situação de rua do indivíduo”.

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