sábado, 07 de setembro de 2024
Publicado em 08 abr 2016 - 12:12:24
José Luiz Martins
Durante os 13 anos em que a concessionária Econorte vem explorando o pedágio em Marques dos Reis na divisa SP/PR, a distribuição de cartões de isenções da tarifa vinha sendo feita de forma política cooptando autoridades, empresários, políticos da região, e, especificamente alguns donos de imóveis (sítios, chácaras) nas imediações.
No ano passado uma tentativa de abertura de um desvio do pedágio acabou por expor como a corrupção se instalou na relação entre a concessionária e proprietários de sítios e chácaras do local. Na ocasião, o proprietário de um sítio em Marques dos Reis que se dizia revoltado com a negativa da concessionária em estender a isenção (cartão) a seus familiares de Ourinhos, resolveu abrir uma passagem próximo a sua propriedade para todos os veículos desviarem do pedágio. Usando dessa alegação ele e outros proprietários pressionaram a concessionária para um acerto que foi além da simples cessão de cartões de isenção.
Segundo os moradores, além de conceder o cartão que libera a passagem nas cancelas aos parentes do sitiante, a Econorte realizou melhorias na propriedade como a construção de um barracão para que ele não mais importunasse a empresa. Na última segunda-feira (04/04) a atitude de outros moradores do local também conhecido como K1 e que é parte do bairro de Marques dos Reis, vem gerando polêmica e desnudando a nefasta intervenção do pedágio ilegal dentro do perímetro da pequena comunidade e na vida de seus moradores.
Com a instalação do pedágio no bairro de Marques dos Reis que pertence ao município de Jacarezinho, mas geograficamente é mais um bairro de Ourinhos, a localidade foi dividida ao meio gerando, desde então, vários problemas aos moradores. Ao todo, cerca três mil pessoas formam a população do bairro e com o pedágio dividindo a pequena cidadela, cerca de 800 pessoas ficaram isoladas dentro do próprio bairro em que residem.
Revoltados com essa situação de injustiça, eles resolveram abrir uma passagem para carros como forma de protesto contra o pedágio que os vem penalizando a mais de uma década. Exigem da concessionária a construção de uma passarela ligando o lugar onde moram (K1) ao que pode ser chamado de centro comercial e social de Marques dos Reis.
Para o jovem Elvis Junior Cunha, auxiliar de produção que trabalha em Ourinhos e cuja família reside na Rua Caramuru há mais de 40 anos, desde que o pedágio foi instalado a vida de quem mora ali piorou muito. “Tem pessoas aqui que são muito beneficiadas pelo pedágio mas a gente que é mais humilde não. Estamos ilhados aqui, não temos saída até o outro lado de Marques dos Reis. É lá do outro lado que tem mercado, padaria, açougue, escola, posto de saúde, ponto de ônibus, correio. Dependemos praticamente de quase tudo que está lá do outro lado, além de ter ficado muito mais longe, temos que atravessar todo o trevo do pedágio nas duas rodovias que são superperigosas com muito tráfego em alta velocidade. Nossa casa está a 20 metros da pista e os caminhões passam a 100 km por hora colocando em risco a vida das pessoas, das crianças que precisam ir a escola”, relatou Elvis.
Antes da chegada do pedágio, a Rua Caramuru se estendia quase que em linha reta, dando acesso até o outro lado de Marques dos Reis. Com a construção do trevo e alças do pedágio parte da rua desapareceu deixando os moradores isolados. “Além de nós a maioria dos moradores daqui estão sofrendo com isso, nossos parentes e amigos que moram em Ourinhos e mesmo em Jacarezinho não podem mais vir aqui, a Econorte não libera a passagem pra eles. A gente abriu esse desvio onde continuava a rua que levava até o Marques dos Reis. Esse desvio não é um caminho que facilita nossa vida aqui, continuamos com a mesma dificuldade, mas o que fizemos é um protesto que está livrando do pedágio quem vem de Jacarezinho para Ourinhos”, desabafou.
Já Eduardo Cunha, irmão de Elvis, relatou que horas depois que o desvio foi aberto a concessionária bloqueou a entrada com blocos de concreto que foram removidos pelos moradores, liberando a passagem novamente somente para carros. Caminhões não conseguem acessar o desvio devido a estreiteza da passagem, guardas da Policia Rodoviária Federal estiveram no local tentando convencê-los a fechar o desvio mas não obtiveram sucesso. “O que queremos não é conflito e sim melhoramentos para o bairro, pra todos que moram aqui, a prioridade para nós é a construção de uma passarela ligando esse lado do bairro até o outro lado. São muitas crianças que estudam lá do outro lado e tem que ficar atravessando a pista das duas rodovias. Elas não têm nenhuma segurança, sem falar que nossas casas estão rachando com tanto caminhão pesado que passa por aqui, o barulho constante também perturba a nossa vida. O ponto de ônibus pra Jacarezinho e Ourinhos fica lá perto da ponte, é de dia e de noite uma dificuldade muito grande que criaram pra nós e nada é feito pra resolver isso tudo”, reclamou Eduardo.
O grupo formulou e assinou um documento entregue a Econorte pedindo que seja construída uma passarela no local, além de outras melhorias no bairro. A concessionária pediu um prazo até dia 31 para dar uma resposta, e conforme os moradores até que se tenha uma solução a contento, eles não irão deixar que fechem o desvio até que a passarela seja construída.
Denúncia de favorecimento e corrupção – “A Policia Rodoviária veio aqui duas vezes tentar calar nossa boca e fechar o desvio mas nós não vamos desistir até que essa situação mude. A gente tentou abrir uma outra passagem lá em cima mas fomos impedidos pelo donos de sítios de lá, é uma passagem que por lei deveria estar aberta, mas esses sitiantes tem acordo com o pedágio para manter fechado aquele desvio, fomos até ameaçados de agressão, então abrimos essa passagem aqui”, denunciaram os moradores.
Conforme relatos colhidos no local a Econorte estaria supostamente beneficiando os sitiantes com reformas nas casas, piscinas, perfuração de poço artesiano, asfalto na frente e dentro das propriedades, tendo até quem receba dinheiro mensalmente para manter a passagem próxima aos sítios fechada.
A reportagem verificou que a passagem a qual se referem os reclamantes é uma rua que se estende por cerca de dois Km paralelamente a rodovia BR 369, sentido Cambará, cortando a localidade chamada de K1. São cerca de 10 propriedades que margeiam a via e segundo os denunciantes, quando a concessionária não atende exigências de benfeitorias em suas propriedades, os donos dessas áreas ameaçam abrir aquela passagem usando a ameaça como moeda de troca para obter benesses da empresa de pedágio.
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