sexta, 26 de julho de 2024

Mortes nas proximidades de adegas em Ourinhos levantam polêmica

Publicado em 04 jul 2021 - 11:20:29

           

Moradores, comerciantes, autoridades e usuários falam sobre o problema das aglomerações

 

Alexandre Mansinho/Marcília Estefani

 

Somente em 2021 houve em Ourinhos/SP três homicídios que ocorreram em aglomerações de jovens nas proximidades de estabelecimentos comerciais de distribuição de bebidas, popularmente conhecidos como “adegas”. Por conta da pandemia da COVID-19 houve proibição de eventos e restrições sanitárias impostas em lanchonetes e restaurantes, dessa forma as “adegas” passaram a ser os destinos preferenciais da juventude que, mesmo sem a anuência dos comerciantes, acabam sendo foco de perturbação para os moradores próximos e espaço para cometimento de crimes.

 

 

Em fevereiro, na madrugada do dia 20, Tauan Augusto Aprígio Braz, de 20 anos, foi esfaqueado durante uma briga generalizada que ocorreu na Vila Musa. G.V.L.S., foi identificado como o autor do crime e teve prisão preventiva pedida no último dia 16 de março e encontra-se foragido. Testemunhas afirmam que havia dois grupos que iniciaram uma briga por motivo fútil e, durante as agressões, o jovem Tauan acabou sendo atingido mortalmente enquanto estava caído no chão.

No último dia 26 de junho, em outra briga generalizada que ocorreu nas proximidades de um estabelecimento de venda de bebidas, Pedro Henrique Cardoso Ramos, 20 anos, foi mortalmente ferido com um golpe de barra de ferro desferido por E.F., 24 anos, de acordo com o boletim de ocorrência nº 1237/2021, registrado na Central de Polícia Judiciária. O autor se entregou à polícia na última quarta-feira, 29, após passado o período de flagrante, na companhia de um advogado.

Para surpresa dos ourinhenses, na noite do sábado, 3 de julho, por volta das 21h30, uma semana após a morte de Pedro Henrique, mais uma briga nas proximidades des uma adega, agora no Jardim Itamaraty, tirou a vida de Renan Augusto Pereira Christoni, 30 anos, morador do Jardim Santa Fé, morto com uma facada no peito, por um rapaz conhecido por “Pedrinho”.

Após confronto dos jovens ainda no estabelecimento de venda de bebidas, os dois continuaram a desinteligência pela Rua Carlos Thomal, onde a vítima foi resgatada pelo SAMU. Relembre: https://negociao.com.br/noticias/cotidiano/homem-e-morto-pos-briga-no-jardim-itamaraty/

Para alguns pode parecer coincidência, mas para muitos as aglomerações nas proximidades de adegas da cidade acabam virando palco para brigas e incomoda vizinhança. A reportagem do Negociao pode perceber que os jovens que adquirem suas bebidas nos estabelecimentos citados, ficam reunidos em turmas no entorno, aproveitando a área aberta e a proximidade das adegas, para novas aquisições de bebidas.

Na última semana foram ouvidas várias pessoas a respeito do assunto que veio à tona de forma frequente nos últimos dias, mas todos pediram que suas identidades fossem preservadas.

W.D.M., 16 anos, afirmou que estava junto com um grupo de amigos na ocasião da morte do jovem Pedro Henrique e que a confusão foi bem longe da “adega”, mas que é comum que jovens se aglomerem e que maiores de idade comprem bebidas para consumo dos menores: “a gente fica aqui porque não tem o que fazer, a bebida os de maior compra para nós, é de boa (…) a polícia passa, até o pessoal da prefeitura passa também, a gente some, depois volta (…) no dia da morte do moleque tinha um monte de gente bêbada”.

 

O QUE PENSAM OS MORADORES?

E.R.T., 62 anos, morador da Vila São José, disse à reportagem que acaba sendo comum a confusão e a gritaria nas madrugadas, principalmente aos finais de semana: “a gente que é idoso não tem paz, eles ficam aglomerados aqui na esquina e não adianta ligar para a polícia (…) deve vezes que eu tive até que aumentar o volume da televisão porque o barulho é demais (…) vai lá e olha a sujeira que fica na praça que você vai ver”.

J.P.D., moradora da Vila Kennedy, reclama da sujeira que fica nas proximidades da sua residência e que adolescentes até fazem sexo em um terreno vazio do lado de sua casa: “quando a polícia passa por aqui eles ficam mais contidos (…) eu já discuti com uns moleques que ficam fazendo coisa aqui no terreno do lado (…) pouca vergonha”.

 

O LADO DOS COMERCIANTES

J.M.S., 45 anos, comerciante do ramo de bebidas, afirma que considera injusto o julgamento das pessoas sempre que acontece uma tragédia: “nós que somos empresários do ramo de supermercados e distribuição de bebidas geramos empregos, cumprimos as normas, pagamos impostos e não disponibilizamos espaço para consumo de bebidas (…) no meu caso, são cinco funcionários que trabalham comigo, são mais de 5 mil reais mensais só de impostos e, mesmo não sendo nossa obrigação, sempre antes de fechar o estabelecimento nós limpamos toda a calçada e até o outro lado da rua (…) não vendo bebidas para menores, mas não tenho como fazer nada com as aglomerações que ocorrem na esquina (…) apoio sempre a Prefeitura e a Polícia Militar, mas, às vezes, nos tratam como inimigos e não como parceiros”.

O.L.S.S., proprietário de um mercado que também vende bebidas, considera que a comunidade e as autoridades deveriam tratar os comerciantes como parceiros: “é meu interesse que o bairro fique cada vez melhor, atendo famílias aqui e tenho centenas de itens de mercado além das bebidas, geramos empregos e colaboramos com a limpeza da rua (…) estamos sempre nas reuniões propostas pela Prefeitura, mas eles não nos tratam como parceiros, às vezes parece que somos os inimigos”.

Extra oficialmente, uma autoridade municipal que atua na fiscalização diz que nem sempre os comerciantes respeitam os horários estabelecidos para funcionamento e que a fiscalização está sendo feita constantemente, sem privilégios ou perseguições.

 

O TRABALHO DA POLÍCIA

Segundo o Capitão Lucas Viol Franciscon, comandante do 31º Batalhão de Polícia Militar de Ourinhos, são realizadas constantemente operações de combate a contravenções e situações que possam disseminar ainda mais a covid, nos ambientes citados, além e ações de combate ao tráfico e outras situações.

 

Capitão Lucas Viol Franciscon, comandante do 31º Batalhão de Polícia Militar de Ourinhos

 

“Parte das operações são realizadas em conjunto com a prefeitura, por meio da atividade delegada, durante a semana e com concentração às sextas e sábados, quando o policiamento se intensifica e paralelo a isso temos as operações do combate ao tráfico, perturbação do sossego, que são corriqueiros até para nós”.

Ainda de acordo com Viol, a prefeitura já fez várias autuações em adegas em geral, e nas imediações desses locais são inúmeras as ocorrências, inclusive de tráfico. “Com relação às ocorrências de tráfico, apenas no mês de junho, foram 20 flagrantes, um número bastante relevante, na área da nossa companhia”, ressalta o Capitão.

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