terça, 13 de maio de 2025

Mulheres que ocupam cargos de liderança em Ourinhos falam sobre sonhos, desafios e preconceito

Publicado em 10 mar 2017 - 06:46:35

           

Alexandre Mansinho e Rose Pimentel

A lista de conquistas adquiridas no currículo das mulheres é grande, e recente. Atualmente elas já ocupam todos os lugares de destaque e liderança na sociedade, no entanto ainda têm que lidar com questões que ainda as perseguem, como o machismo, o preconceito, a violência tão comum ainda no mundo moderno. Ainda assim, continuam suas lutas, buscando a realização de seus sonhos e o equilíbrio entre a força de um leão e a doçura e encanto feminino.

Viviane Silvestre, ourinhense, promotora de justiça, atua em casos de repercussão, como processos envolvendo prefeitos e crimes relativos a vara da infância e juventude; embora Viviane reconheça que ainda faltam conquistas para as mulheres, pessoalmente considera que nunca sofreu discriminação: “não posso apontar nenhuma diferenciação ou discriminação durante minha atuação como Promotora de Justiça, o que seria inconcebível e improvável dentro de uma instituição como o Ministério Público, que justamente combate qualquer forma de preconceito. Sem dúvida, no curso de minha vida profissional, mesmo antes de ser promotora, enfrentei alguns conflitos normais por divergência de opiniões, falta de empatia pessoal com alguns e outros aspectos inerentes ao relacionamento humano no ambiente de trabalho, sem qualquer relação com minha condição feminina. Mas o que realmente importou e ficou registrado em minhas lembranças foram as pessoas formidáveis e amigas que tive a felicidade de conhecer no trabalho, as quais terei afeto eterno.”, afirma.

Para Viviane, o que falta para as mulheres é um maior envolvimento com questões políticas: “talvez falte para a mulher mais envolvimento na fiscalização da política brasileira, no sentido de fazer mais cobranças, exigir mais resultados e unir-se para protestar. Nesse segmento penso que falta muito espaço para ser conquistado e a mulher precisa ser autora das mudanças necessárias”.

Dra Viviane contou que trabalha desde os quinze anos de idade e tem boas lembranças dos seus locais de trabalho e das pessoas que conheceu e que nunca se sentiu desrespeitada por ser mulher, muito embora em algumas ocasiões tenha enfrentado conflitos ao se deparar com situações e pessoas desagradáveis, mas acredita que independente do gênero, todos nós passamos por dissabores e alegrias na vida profissional.

Raquel Grellet P. Bernardi, juíza do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo desde 1998, atua na vara criminal e já presidiu tribunais do júri cercados de tensão e polêmica que se referiam a crimes violentos e de grande comoção. Na sua trajetória de trabalho, afirmou que em razão da igualdade dos salários no serviço público, provavelmente há menos diferenciação e discriminação entre os sexos, mas conta que já se deparou com situações bastante interessantes: “houve, no Estado de São Paulo, a proibição do uso de calças compridas pelas mulheres nas dependências do Tribunal de Justiça entre 1974 e 2000. Apenas no dia 19 de abril de 2000 o Conselho Superior da Magistratura revogou essa norma que exigia o uso de vestidos ou saias para a entrada e a permanência das mulheres nessas dependências”.

Sobre a questão do assédio, Raquel diz nunca ter sofrido com este tipo de situação, mas reconhece que é bastante difícil no começo da carreira, diferenciar entre a mera conversa sobre um processo e o assédio moral e relata um caso vivenciado em uma das vinte e quatro comarcas por onde passou como juíza substituta: “um indivíduo, que havia sido condenado criminalmente, entrou no gabinete e disse que tinha uma parente juíza que era muito bonita, e acrescentou que ela não era “como umas barangas que também passam no concurso”. Concluí imediatamente que eu, que o havia condenado, fazia parte desse outro time a que ele havia se referido”.

Sobre o ser mulher, Raquel acredita que a conquista de cada mulher é aceitar que, apesar de se imaginar sempre a Mulher Maravilha, é preciso reconhecer que não é possível dar conta de tudo com a mesma eficiência ao mesmo tempo, e que na maioria das vezes fazer o melhor possível já é o suficiente.

Clara Pocay, primeira dama da cidade de Ourinhos, assume o Fundo Social de Solidariedade em um momento de profunda crise econômica e de desemprego, mas diante desses desafios, afirma que acredita no protagonismo feminino como forma de superar as dificuldades: “A esposa do Prefeito cuida do Fundo Social, não apenas tradicionalmente, mas publicamente. Digo isso porque nos bastidores as esposas fazem muito mais, sem elas dificilmente seus maridos alcançariam conquistas como essa. E esse não é um privilégio das esposas de Prefeitos, mas de todas as esposas. A esposa pode ser a maior aliada do seu marido e impulsioná-lo a crescer, ou a sua pior inimiga, dificultando a realização dos sonhos dele.

Eu acredito em uma ampla participação das mulheres em todas as áreas da sociedade, e ainda que apenas nos bastidores, as esposas de todos os Prefeitos participam e influenciam na gestão como um todo, direta ou indiretamente. Estou disponível a colaborar nas áreas da gestão que meu coração pulsar mais forte e disser “Sim”. Acredito que todo e qualquer trabalho feito com Amor e para o bem é sempre bem-vindo”.

Sobre a violência contra a mulher e assédio, Clara se posiciona de forma bem crítica: “acredito que toda mulher já tenha sofrido assédio verbal ou moral, como chingamentos, piadinhas machistas, “elogios” inadequados, comentários inoportunos e excludentes. As mulheres são violentadas diariamente das mais diversas formas, seja de maneira velada ou explícita. Para mim, quando uma mulher é violentada, todas somos! Quando uma menina chora pelo abuso sofrido, todas choramos! A consciência feminina é uma só e qualquer tipo de assédio afeta todas nós, deixa uma marca em todas as meninas, filhas, irmãs, esposas e mães! Na história da humanidade, a mulher viveu muitas lutas, e todas nós carregamos em nosso sangue e na nossa alma as batalhas vencidas e perdidas. Cada uma de nós sabe o peso e a leveza de ser o que somos, de ser mulher. Por isso, como esposa do Prefeito, estando tão próxima do núcleo dessa gestão, irei honrar a divindade de ser mulher. 

A respeito de suas conquistas, Clara acredita “que as mulheres já lutaram muito, derramaram muitas lágrimas e muito sangue. Quem tem conquistas a realizar é a sociedade! Respeitar, valorizar e amar as mulheres não é uma conquista feminina, é uma conquista para a sociedade como um todo.

Eu não acredito que as mulheres queiram exercer o mesmo papel que o homem na sociedade. Mesmo porque, do meu ponto de vista, isso seria perder a essência feminina. Não sei se posso falar isso em nome das mulheres, mas posso certamente dizer que o que eu quero é poder ser eu mesma, poder ser mulher sem rótulos, sem estereótipos. Se eu pudesse falar em nome das mulheres, eu diria que o que nós queremos é ter liberdade de escolher o que fazer da nossa vida sem ouvir vozes (as vezes de outras mulheres) nos dizendo se isso é certo ou errado! O que nós queremos é ser livre das amarras sociais, dos julgamentos, das fofocas, dos rótulos, da cultura machista. O que nós queremos é exercer o direito de ser quem cada uma de nós quiser ser. Porque tudo isso é o que eu quero, o que eu quero conquistar e imagino que talvez outras mulheres queiram isso também.

Não só as mulheres, mas toda a sociedade precisa conquistar o equilíbrio.”

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