domingo, 16 de fevereiro de 2025
Publicado em 13 nov 2015 - 10:06:31
José Luiz Martins
Ao contrário dos Jogos Olímpicos nos quais atletas do mundo todo competem na busca de medalhas, a 1ª edição dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas realizado em Palmas, no estado de Tocantins, entre 23 e 31 de outubro, teve como principal objetivo aumentar a consciência mundial sobre a cultura indígena no planeta.
O evento reuniu mais de 2 mil atletas de 24 etnias e 23 países em competições de 16 modalidades como: arremesso de lança, arco e flecha, cabo de força, natação, canoagem, futebol, corrida de rua entre outros e atraiu a atenção de todo mundo, mobilizando milhares de pessoas de vários países para trabalhar como voluntários. Foi o caso do ourinhense Laurentino Aparecido Alves, professor de Educação Física há mais de 30 anos, que teve seu currículo classificado em centésimo lugar entre mais de 1.300 concorrentes voluntários.
Com especialização em arbitragem, Laurentino viveu uma experiência única por duas semanas num evento internacional que conforme ele, celebrou a integração, respeito, diversidade e a paz. “Haviam etnias de toda América do Sul, México, Canadá, Estados Unidos, Espanha, Nova Zelândia, Mongólia, Filipinas, África e outros. “Trabalhei nas competições em áreas externas, natação rústica, futebol, canoagem e corrida de rua e, internamente na arena em corrida de toras, lançamento de flecha, cabo de força e na luta uga uga”.
Uma semana antes do evento, ele passou por treinamento para voluntários organizado pelo Comitê Intertribal em parceria com as Organizações das Nações Unidas (ONU). Em entrevista a reportagem do Novo Negocião, Alves explicou que as disputas foram divididas entre jogos de integração, que são esportes tradicionais praticados pela maioria dos povos indígenas. E os jogos de demonstração, que são particulares de cada povo, praticados e disputados por integrantes da própria etnia, atividades tradicionais.
Para ele foi um contato extraordinário com esses povos podendo observar as etnias e sua cultura e costumes. “Foi um convívio com os índios vivendo nas suas origens, como eles vivem na selva, todos estavam alojados em uma área com várias tendas chamadas “Ocara”, cada etnia tinha uma grande habitação como essa”, destacou o professor. Disse ter ficado impressionado com as várias etnias dos índios brasileiros, índios do Mato Grosso do Sul como os Terena, os Pataxós da Bahia, do Tocantins, Paraná, Amazônia e outras. Cada qual som suas práticas e tradições, como se vestem, alimentam-se, sua língua e como se relacionam entre si e com os outros povos.
“Foi muito interessante ver que eles têm uma alimentação muito forte, diversificada, principalmente no uso de peixes e vegetais. Entre eles haviam índios doutores, poliglotas, arqueólogos, gente muito estudada que mantém o vínculo com suas origens. Descobri coisas curiosas, tem etnia que quando uma índia está grávida, se a criança for menina, já está comprometida para o casamento com um índio pretendente”.
Finalizando a entrevista e falando ainda da sua experiência nos jogos, Laurentino observou que esses povos são organizados politicamente e vivem em luta constante para manter suas tradições, cultura e os seus direitos. “Teve também protestos, manifestações, não nas competições, mas fora do evento nas ruas de Palmas. É lamentável que muitos direitos dos Índios no Brasil não estejam sendo respeitados, no Maranhão, Mato Grosso e outros lugares muitos indígenas estão até se suicidando por conta disso”.
No Brasil várias tribos de diferentes estados estão unidas contra planos que enfraquecem os direitos dos povos indígenas aos seus territórios. A bancada ruralista no Congresso tem avançado com propostas no que vão deixar as terras indígenas vulneráveis ao desenvolvimento industrial, e bloquear a demarcação de novos territórios. Dependendo de sua terra para sobreviver, a recente aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 215, que transfere a decisão final sobre demarcação de terras indígenas do Ministério da Justiça para o Congresso Nacional, provocou as maiores manifestações de protesto nos dez dias dos jogos no Tocantins.
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