sexta, 24 de janeiro de 2025
Publicado em 18 ago 2017 - 06:12:05
Alexandre Mansinho
A última semana entrará para a história do município como aquela em que Ourinhos viveu dias de cidade grande. Mas não pelo desenvolvimento e geração de empregos e renda, mas sim pelo número de assassinatos. Em 6 dias foram registrados 3 homicídios. A população, desacostumada com esse tipo de ocorrência, está perplexa. O próprio Jornal Negocião já havia noticiado, por várias vezes, o crescimento dos índices de violência na cidade (furto, roubo, tráfico e lesão corporal). No entanto, nem o mais pessimista dos cidadãos poderia antever aquilo que a cidade viveu nos últimos dias.
O crime está comandando? Os números da Secretaria de Segurança Pública dão conta de que os furtos (subtração de bens sem que a vítima esteja presente), roubos (subtração de bens com a vítima presente, com uso de armas ou grave ameaça) e furto de veículos têm crescido no município. No período de janeiro a junho, comparando 2016 e 2017, os três tipos de crimes somados perfizeram um aumento de 18,9%, sendo que o número de casos em 2016 foi de 820, e em 2017 foi de 975 (155 casos a mais).
Furtos: em 2016 tivemos 692 casos registrados e, em 2017, temos 815 (crescimento de 17,8%).
Roubos: em 2016 tivemos 72 casos registrados e, em 2017, temos 95 (crescimento de 31,9%).
Furto de veículo: em 2016 tivemos 56 casos registrados e, em 2017, temos 65 (crescimento de 16,1%).
Especialistas consultados pelo Jornal Negocião vêem com preocupação esses números, sobretudo porque isso indica o crescimento dos crimes violentos (roubos) e indicam um fortalecimento do crime organizado, pois os crimes de furto de veículo e furtos de modo geral precisam de um sistema para funcionar (receptadores). Portanto, isso equivale a dizer que a estrutura criminal em Ourinhos tem se fortalecido.
Aumento da violência e da letalidade – Um policial civil ouvido pelo jornal demonstrou muita preocupação com os aspectos particulares dos três homicídios da última semana. Em todos eles os acusados são ourinhenses: “esse tipo de crime, tanto os passionais quanto os latrocínios, não são comuns em nossa cidade, porém o latrocínio é mais preocupante, pois pode indicar que os criminosos estão se tornando mais violentos, talvez por acreditar que a polícia está enfraquecida”.
Caso Rodolfinho – Luís Rodolfo Crespo (Rodolfinho), que cumpria pena por tráfico e estava fora da cadeia beneficiado pela saída temporária (saidinha) do dia dos pais, foi morto por Gabriel Oliveira. A motivação do crime está clara para a Polícia Civil, tratou-se de um crime passional. Rodolfinho não aceitou a separação de Cilene Aparecida e, após saber que a moça tinha um novo namorado, passou a fazer ameaças. Gabriel Oliveira, o novo namorado de Cilene e também vítima das ameaças de Rodolfinho, matou o rapaz para, segundo ele, defender a sua própria vida e a de Cilene.
O que falta esclarecer? – Conclusões da Polícia Científica não combinam com o depoimento de Gabriel Oliveira. A ausência de sangue no chão na cena do crime, a falta de furos na camisa da vítima, mesmo depois de ter tomado três facadas e a aparente possibilidade de ter havido um cúmplice no assassinato, tudo isso somado, ainda intriga a equipe de investigação.
Caso Valdir – Valdir Vitor da Silva, funcionário administrativo da Usina São Luís, foi morto com um tiro enquanto andava na rua com sua esposa, a poucos metros de sua casa. Os acusados, Alysson F. Lopes e Ramón Corrêa, de 20 e 19 anos respectivamente, estão presos. Terceiro suspeito de participar do crime prestou depoimento na Delegacia de Investigações Gerais de Ourinhos (DIG) acompanhado de dois advogados. A Polícia Civil não revelou sua identidade.
O que falta esclarecer? – Talvez seja o caso que mais guarda “pontas soltas”, a começar por um dos acusados, Alysson, que nega a participação no crime. O jovem foi identificado pelo celular que teria deixado cair enquanto perseguia Valdir. No entanto, ele diz que perdeu o celular e não tem nenhuma participação no ocorrido. Ramón se entregou à polícia na tarde de quarta-feira, 16, e foi preso a noite, mas ainda não disse qual foi a real motivação do homicídio.
Na quinta-feira, 17, Alysson foi reinquirido pelo delegado da DIG de Ourinhos, Dr. José Henrique e, conforme tem sustentado desde o início, negou a participação no crime que deu fim à vida de Valdir Vitor e reservou-se o direito de só se pronunciar em juízo. Dr. José Henrique disse ao Jornal Negocião que as investigações continuam sendo feitas e brevemente teremos novidades sobre o caso.
A linha de investigação que mais se sustenta, para a polícia, é a de que Valdir foi morto em uma tentativa de assalto que deu errado. A polícia também acredita que, além dos dois suspeitos já presos, há mais pessoas envolvidas no plano de roubo que terminou em latrocínio.
Caso Josiane – Dos três homicídios, esse é o que está mais adiantado na apuração. O feminicídio (assassinato motivado por relação abusiva entre cônjuges, envolvendo aspectos afetivos e passionais, cometido contra a mulher) foi praticado por Wellington da Silva, policial reformado, que já tinha contra si várias denúncias de violência doméstica.
Josiane, a vítima, estava levando um amigo para casa, depois de ter passado a noite confraternizando em um conhecido barzinho de Ourinhos. Wellington apareceu e deu três tiros na moça, sendo um na cabeça. Josiane ainda foi levada ao hospital e lutou pela vida por algumas horas antes de ir a óbito.
O que falta esclarecer? – Segundo a delegada responsável pelo inquérito, Dra. Ana Rute Castro, faltam apenas alguns dados técnicos para a conclusão total da fase de investigação. Embora o acusado tenha exercido o direito de permanecer calado, não paira dúvidas sobre a motivação, que seria ciúmes.
Uma questionável “entrevista” que ele teria dado a um portal de notícias de Ourinhos, encarada por muitos como uma tentativa desesperada da defesa de criar alguma simpatia da opinião pública para com o assassino, acabou por provocar mais protestos da população quanto a covardia do ato.
“Estou cansado de falar de morte” – Dr. Pedro Telles do Nascimento, delegado substituto da Delegacia de Investigações Gerais de Ourinhos (DIG), responsável pelas investigações enquanto durarem as férias do Dr. João Beffa, não teve vida fácil durante a semana passada. Embora os delegados de plantão na Central de Polícia Judiciária (CPJ) estivessem cumprindo muito bem suas funções, a quantidade atípica de homicídios tirou, literalmente, o sono de Dr. Pedro.
Em entrevista ao jornal, ele disse, logo após a confirmação da morte de Josiane, que “estava cansado de falar de morte” e que “as pessoas precisavam com urgência se amar mais, para tirarmos da cidade essa “áurea nebulosa””.
“A justiça é para todos” – A Dra. Ana Rute, delegada titular da Delegacia de Defesa da Mulher de Ourinhos (DDM), responsável pelas investigações do Caso Josiane, foi muitas vezes questionada sobre supostos privilégios que Wellington, na condição de policial reformado, teria no curso das investigações.
Dra. Ana foi clara ao dizer: “a justiça é para todos, ele não é diferente de ninguém pelo fato de ser militar, tanto que ele já está preso (…) a única particularidade é que ele ficará preso e, se condenado, cumprirá pena no Presídio Romão Gomes – que é próprio para os membros das forças de segurança envolvidos em ilícitos”.
“Estou cansado de falar de morte” – Dr. Pedro Telles do Nascimento, delegado substituto da Delegacia de Investigações Gerais de Ourinhos (DIG), responsável pelas investigações enquanto durarem as férias do Dr. João Beffa, não teve vida fácil durante a semana passada. Embora os delegados de plantão na Central de Polícia Judiciária (CPJ) estivessem cumprindo muito bem suas funções, a quantidade atípica de homicídios tirou, literalmente, o sono de Dr. Pedro. Em entrevista ao jornal, ele disse, logo após a confirmação da morte de Josiane, que “estava cansado de falar de morte” e que “as pessoas precisavam com urgência se amar mais, para tirarmos da cidade essa “áurea nebulosa”.
Polícias militar e civil: poucos, mas valentes – Outro aspecto que chamou a atenção nessa semana funesta é a postura das mulheres e homens que fazem parte da polícia. Noites sem dormir, trabalhos rápidos e bem feitos, respostas efetivas para tranquilizar a comunidade. Embora haja crescimento no número de crimes, isso não é culpa dos profissionais de segurança pública – a responsabilidade é do baixo efetivo que, mesmo com o empenho dos policiais ainda é restrito.
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