sexta, 21 de novembro de 2025
Publicado em 14 dez 2024 - 09:19:04
A história de famílias de Ourinhos que se encontraram pela adoção
Fernando Lima
Adoção é o processo afetivo e legal por meio do qual uma criança passa a ser filho de um adulto ou de um casal. De forma complementar, é o meio pelo qual um adulto ou um casal de adultos passam a ser pais de uma criança gerada por outras pessoas.
Esta é uma das muitas definições que encontramos na internet, nas teorias, sobre a adoção. No entanto, falar sobre adoção requer muito mais que definições teóricas, é falar sobre um sentimento único que une FILHOS à MÃES e PAIS: O AMOR!
Sabe aquela frase que tantas vezes já ouvimos de mães e pais: “o amor que você sente por um filho é totalmente diferente de tudo que você já sentiu antes”, “o amor por um filho é incondicional”, dentre algumas outras que por vezes achamos clichê? Para ser bem franco, isso me parece realmente verdade!
Peço licença a todos os nossos leitores, para deixar um pouco de lado neste texto, o jornalista e repórter, para falar um pouco com vocês sobre esse assunto como pai, como pai adotivo.
Muitos aspectos permeiam a percepção das pessoas sobre a adoção, coisas que, infelizmente, ainda contribuem negativamente. Muitas pessoas ainda têm medo de adotar, medo de como a família, os amigos e a sociedade vão aceitar a criança. Medo de não ser capaz de “amar suficientemente”, medo de não dar conta de criar um filho. Medo das pessoas, da escola, dos ambientes, terem algum tipo de tratamento diferente com seus filhos. Os medos são justificáveis, alguns próprios da parentalidade, outros próprios de questões relacionadas à adoção.
Algumas pessoas também acabam perpetuando crenças que não fazem mais sentido simplesmente por não conhecerem sobre o assunto, ou terem alguma opinião formada sobre algum caso de adoção mal sucedido que já conheceu na vida e acabam opinando negativamente para pessoas que querem adotar. Frases como: “mas você não conhece a genética”, “uma hora o sangue fala mais alto”, “e se um dia quiser conhecer a família de origem?”, “não dá pra saber como será a criança, você não conhece os pais”, ainda são usadas e, num mundo onde o conhecimento é tão plural e acessível, já não é admissível repetir tais sentenças, afinal, adotado ou não, filho dá trabalho!

É preciso entender que as crianças que estão nos abrigos nunca foram FILHOS. Eles não possuem laços de maternidade ou paternidade com seus genitores, pois foram negligenciados, não foram acolhidos em seus choros e medos e, quando isso acontece, quando alguém os dá a oportunidade para serem filhos, os laços de amor se sobrepõem a qualquer genética.
Formar um ser humano, cuidar de uma vida, para sempre, é uma missão que somente quem passa vai entendendo o que é. Mas um pai e uma mãe, só nascem quando nasce um filho para eles. E assim como os filhos que nascem biologicamente, os filhos que nascem pela adoção – ou pelo coração, como costumamos dizer – transformam as pessoas que assim tem este desejo em pais e mães.
Abro um parêntese aqui para dizer que não há absolutamente nada de errado em não ser pai ou mãe, esta é uma decisão absolutamente pessoal, que (teoricamente) teria que ser tomada com muita consciência, porque aqui, preciso usar outra frase clichê “Filho é para sempre”.
Mas, o que quero contar para todos os leitores que nos acompanham, são histórias. Histórias de pessoas reais de nossa cidade, de famílias reais, que através da adoção, encontraram-se com seus filhos, formaram ou aumentaram suas famílias e que compartilharam comigo, as emoções de todo o processo, a espera, as angústias, os medos, as alegrias, a emoção e o amor, sobretudo o amor.
Aqui também vamos entender como funciona o processo de adoção para quem tem esse desejo. Como começar? Quem procurar? Demora muito? Como fazer? E também apresentar um panorama da adoção no Brasil e em nossa cidade, com dados deste ano que termina.
Te convido a embarcar na leitura desta grande reportagem comigo e conhecer histórias que eu te garanto, vão te emocionar!
KAROL E JOAQUIM
Karoline de 41 anos, é a mamãe do Joaquim, de 5 anos. A história dos dois começa quase sem querer, já que ela sempre pensou em ser mãe, mas nunca pensou em adotar.
“Sempre tive o desejo de ser mãe, mas nunca passou pela minha cabeça ser mãe adotiva. Tudo aconteceu depois de ter uma perda gestacional de uma bebê de 5 meses”, conta Karoline. Ela teve uma depressão após a perda da filha e neste período, sua sogra sugeriu que ela pensasse em adotar.
Depois disso, ela começou a pesquisar sobre o assunto, buscou entender como funcionava todo o processo, ela queria saber como as famílias viviam, procurou conhecer famílias adotivas e participar de um grupo de apoio à adoção.
Karoline nos contou que seu processo foi relativamente rápido e aconteceu durante a pandemia. Depois de fazer os cursos que são exigidos no processo e dar entrada na documentação necessária, sua “gestação” durou 11 meses, que segundo ela, pareciam intermináveis. Ela compartilhou com a gente também os medos e angústias que viveu durante o processo.

“Eu sempre fui muito ansiosa na minha época de fila de adoção. Eu tinha muito medo do que minha família ia pensar, meus amigos, medo de olhares diferentes pro meu filho, tratamentos diferentes, eu mesma tinha muitas dúvidas: será que eu vou amar de verdade? Será que eu vou conseguir dar o carinho que essa criança merece? Mas foi nessa época que eu realmente quis estudar o assunto, fui atrás de mais conhecimento, participar de grupos de adoção, fui numa passeata de adoção que teve em São Paulo, tive mais contato com outros pais por adoção e eu via nos olhos deles o amor que um sentia pelo outro, que realmente é um amor que nasce dentro da gente e que isso tudo flui naturalmente depois que acontece”, conta Karoline. “A gente não entende na hora, mas o tempo de espera é justamente pra gente poder aprender e acalmar nosso coração para todas as emoções que vem pela frente”.
Karoline adotou o Joaquim com 11 meses de idade, hoje ele está com 5 anos, e ela conta que, sem dúvidas essa foi a decisão mais assertiva que já tomou.
Pergunto para ela o que ela diria para as pessoas que sentem vontade de serem pais por adoção, ela responde sem hesitar: “Eu diria é que não é nada diferente de ser pais ou mães biológicos, eu fui mãe biológica por algumas horas, tive um amor imenso pela minha filha e tenho um amor imenso pelo Joaquim, não existe diferença”.

Karoline destaca a importância da pessoa ou do casal se preparar para este momento, para lidar com toda a sociedade e atenta a importância de buscar conhecimento sobre o assunto: “É importante que estejamos bem preparados e estruturados, porque sempre vão existir palavras de pessoas que não entendem a situação e às vezes falam coisas que podem magoar, então, nós como pais por adoção, precisamos estar preparados para lidar com estas situações, mas não tenham medo, é um amor que nasce como por qualquer outro filho em nossos corações, não tem diferença”.
Quando pergunto o que significa a adoção para ela, a resposta é muito precisa: “Joaquim veio pra completar, pra ser meu companheiro, meu parceiro, adoção pra mim é construção de família”.
CAMILA, MARCELO E VITÓRIA*
Camila me conta que sempre teve o desejo de ser mãe, desde a adolescência. Ela sempre vislumbrou uma família ao lado de seu namorado na época, hoje marido.
No entanto, a ideia de adotar surgiu a partir de uma experiência que ela teve em uma festa de aniversário com uma criança que estava abrigada. “Essa criança com seu carisma e desejo de ter uma família me fez enxergar a possibilidade de ser mãe por meio da adoção. Então entrei em contato com uma instituição da cidade e fui orientada sobre todos os processos que eu deveria percorrer para a habilitação”.
Camila conta que fez o curso para pretendentes durante 4 semanas e logo depois procurou o fórum de Ourinhos para iniciar a formalização da solicitação. Após preencher o questionário e realizado novo curso com a juíza, ela e o esposo foram entrevistados pela assistente social e pela psicóloga. Após analisados todos os dados foram habilitados e entraram no Cadastro Nacional de Adoção.
Ao todo, Camila e o marido Marcelo tiveram uma “gestação” de 2 anos e meio. Ela fala que lidou muito bem com a ansiedade da espera.
“A minha história é um pouco incomum, nos primeiros meses após a habilitação fiquei ansiosa, mas logo passou. Nos meus planos eu ainda teria um filho biológico enquanto aguardava na fila, o meu desejo em adotar não surgiu inicialmente da impossibilidade de gestar. No meu caso, posso afirmar que não havia medo ou angústia. Minha filha chegou para mim sem que eu estivesse esperando ansiosa, mas foi o melhor presente que eu recebi”.
O casal adotou uma menina há 5 anos, e na época a pequena Vitória tinha 4 anos e 2 meses. “Hoje já está com 9 anos e 2 meses, cheia de muito amor, espiritualidade e energia!”, comenta a orgulhosa mamãe.
Para as pessoas que pretendem adotar, Camila recomenda que as pessoas estudem, conheçam sobre o assunto e façam tudo conforme a lei. “Pesquisem sobre, procurem vivenciar as realidades dos grupos de pais e alimentem esse desejo. Aconselho a se despir de todo medo ou preconceito e nunca duvidem do amor a ser construído na família que se forma por meio da adoção”.
Quando pergunto o que significa a adoção para eles, eis a linda resposta:
“A adoção para nós foi a permissão de Deus para constituirmos a nossa família como ela é hoje! Ele foi tão generoso conosco que minha filha chegou para nós exatamente após 9 meses do meu segundo aborto, e me fez entender que o meu desejo era de ser mãe e não de gestar! Eu e meu esposo olhamos para a nossa filha hoje e sempre nos perguntamos o que fizemos para merecer tamanho presente! Ela é a representação do amor para nós, meu e dele e de Deus por nós!”.
*Nomes fictícios.
JOYCE, HOSTER E BENJAMIN
Joyce e Hoster, ambos com 43 anos, estão juntos há 11 anos e já são papais do Benjamin, que tem 8 anos.
Essa linda família me contou que quando o Benjamin completou 4 anos começou a pedir um irmão e foi então que o casal passou a pensar e amadurecer a ideia de ter um segundo filho. “O Hoster sempre desejou ter mais filhos e eu também, mas eu tinha dúvidas pois acabamos não cogitando a ideia mais cedo e eu já estava próxima de completar 40 anos e engravidar após o 40 me causava algum medo, por eu ser da área da saúde e conhecer os riscos que aumentam juntamente com a idade”.

O casal ficou muito feliz quando, em 2021, soube que estava esperando o segundo filho, no entanto, a perda do bebê causou um trauma, que teve que ser superado por toda a família. “Em junho de 2021 acabamos engravidando e todos ficamos muito felizes e ansiosos pela chegada de nosso segundo filho, entretanto, com 12 semanas de gestação perdemos o bebê. Foi muito traumática para nós essa perda, e após alguns meses, percebemos/sentimos que ainda não estávamos completos como família e faltava alguém em nosso lar”.

Foi a partir deste acontecimento que o casal começou a considerar a possibilidade da adoção. Após amadurecerem a ideia, Joyce e Hoster conversaram com um casal de amigos que já tinha adotado e se informaram sobre o assunto. Assim, em julho de 2022 o casal conversou com o filho Benjamin sobre a adoção e ele ficou extremamente feliz com a notícia de que ele teria um irmão, aparentando não ver a menor diferença se viria da adoção ou “da barriga”. O que deixou o casal ainda mais feliz e motivado com a ideia e a certeza que estava faltando alguém, o segundo filho.
Joyce e Hoster conversaram novamente com o casal de amigos, pais adotivos, para começar a entender os trâmites de um processo para a adoção e os processos legais. Decidiram então procurar o fórum e iniciar essa trajetória.

O casal está há dois anos aguardando desde o início do processo de capacitação, e foram habilitados e entraram na fila do Cadastro Nacional de Adoção há 1 ano.
“Esse tempo de espera encaramos como uma gestação, nos sentimos grávidos, mas cientes que não vai durar apenas 38-40 semanas (9 meses), e isso nos causa um pouco de ansiedade, em não saber quanto vai durar essa “gestação”, em não poder deixar o enxoval pronto, visto que não sabemos se será menino ou menina e com quantos anos nosso filho vai chegar (optamos por uma criança de até 2 anos e meio)”, conta Joyce.
Este tempo de espera, às vezes gera angústias, mas a esperança da breve chegada de um filho tão desejado, conforta os corações dos papais e mamães que estão à espera de seus filhos. Joyce conta que até Benjamin fica ansioso pela chegada do irmão. “Esse tempo de espera gera muita ansiedade também no meu filho de apenas 8 anos, que reza todas as noites pedindo ao papai do céu seu irmão logo e fica nos perguntando porque está demorando tanto para chegar”.
“Às vezes pensamos se nosso filho já nasceu e está sendo bem cuidado, até conseguir chegar na sua real família (nós)”, completa.
O casal diz que suas famílias souberam da decisão de adotar desde o início e aceitaram e respeitaram sem qualquer crítica ou qualquer outro comentário. Felizmente eles ouviram o que tínhamos a dizer (o que tínhamos decidido) e preferiram não opinar.
Pedi para que o casal deixasse uma mensagem para as pessoas que pensam em adotar:
“Para as famílias que já cogitaram uma adoção e ainda tem dúvidas, talvez preconceito, medo ou qualquer outro sentimento contrário, e também para aquelas que nunca pensaram sobre, mas querem ter um filho, torcemos para que deixem o receio de lado, pois acreditamos que o maior laço de uma família é do amor e união, não o do sangue”, finaliza o casal.
Os Grupos de Apoio à Adoção
O trabalho dos Grupos de Apoio à Adoção são fundamentais para a desmistificação e quebra de pré-conceitos existentes a respeito do assunto. Em Ourinhos o Grupo de Apoio e Incentivo a Adoção (GIARRO) realiza há 30 anos um trabalho com os pretendentes e também com os pais que já adotaram, e atendem pessoas na cidade de Ourinhos e toda a região, inclusive outros estados.
Ivone Maria de Lima Jaime, uma das fundadoras do GIAARO e também mãe adotiva, conta como foi o início dos trabalhos do grupo. “O Giaaro nasceu para discutirmos os desafios da família adotiva. Trocar experiências e informações. Somos um grupo de pessoas voluntárias que trabalha para a garantia do direito da criança e adolescente à convivência familiar”.
O grupo sempre teve como missão ajudar pessoas a entender a adoção, entender a realidade dos processos e também levar às pessoas e a sociedade a compreenderem sobre o assunto. O GIAARO é um dos grupos que realiza o curso de preparação dos pretendentes à adoção. Os cursos podem ser ofertados pelos próprios fóruns, ou por grupos de adoção, depende de cada jurisdição. Ivone falou um pouco sobre a dinâmica do curso. “Pela lei 12010 foi realizada uma parceria com os fóruns de nossa região para o preparo dos pretendentes à Adoção. São 2 turmas ao ano, porque o preparo passou a ser obrigatório. Neste curso abordamos os seguintes temas: A motivação na adoção, os mitos e os preconceitos na adoção; Aspectos legais e ilegais da adoção; A idealização dos filhos; A criança real, a criança que está para adoção; Convivência na família adotiva e família extensa”.
Ivone destaca a importância da legalidade da adoção, para que ela seja feita de forma segura, através das leis que regem a área, respeitando a Constituição, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e também a Lei que ficou conhecida como “Lei da Adoção”, de 2010. Só através de uma adoção legal, é que se garante o direito à parentalidade da criança e não mais como antigamente, em que genitores escolhiam pessoas a quem “doar” as crianças nascidas.
Ivone conta que todo o processo de inclusão das crianças nas famílias é de responsabilidade do Judiciário e o grupo tem como responsabilidade dar apoio às famílias que se formaram pela adoção que procuram o grupo.
O GIAARO, além do curso também tem a chamada Escola de Pais, que se encontra mensalmente em Ourinhos e tem a finalidade de trocar experiências entre pais e pretendentes.
Ivone e seu esposo Santiago, também me contaram sua experiência pessoal com a adoção. “A adoção veio para nós como uma das maneiras de se ter filhos, nós entendemos assim a adoção da nossa filha, que hoje está com 30 anos. Tivemos um primeiro filho biológico, depois tentamos um segundo filho, que apesar das tentativas não veio e isso me causou muita dor e, assim surgiu a adoção em nossas vidas. E, para nossa surpresa, quando decidimos adotar, eu já estava grávida do nosso terceiro filho”.
“Tenho como missão ajudar essas pessoas, com essa dor que elas sentem, principalmente as mulheres, que por algum motivo não podem conceber, e mostrar que a adoção é uma forma de construirmos nossas famílias”, comenta emocionada.

O SNA
O sistema Nacional de Adoção e Acolhimento (SNA) regulamentado pela Resolução CNJ n. 289/2019, foi criado em 2019 da união do Cadastro Nacional de Adoção (CNA) e do Cadastro Nacional de Crianças Acolhidas (CNCA). O sistema abrange milhares de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade, com uma visão global da criança, focada na doutrina da proteção integral prevista na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA). Os maiores beneficiários do SNA são as crianças e adolescentes em acolhimento familiar e institucional, que aguardam o retorno à família de origem ou a adoção.
O SNA possui um inédito sistema de alertas, com o qual os juízes e as corregedorias podem acompanhar todos os prazos referentes às crianças e adolescentes acolhidos e em processo de adoção, bem como de pretendentes. Com isso, há maior celeridade na resolução dos casos e maior controle dos processos, sempre no cumprimento da missão constitucional do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
No mês de outubro deste ano, o SNA foi atualizado e modernizado, incluindo funcionalidades que facilitarão ainda mais o sistema de cruzamento de dados entre pessoas pretendentes e crianças e adolescentes e os candidatos habilitados para adoção.

As novas funcionalidades foram desenvolvidas no âmbito do Programa Justiça 4.0, com o objetivo de melhorar cada vez mais a experiência dos usuários do sistema e, ao mesmo tempo, tornar o processo mais preciso e humano.
“A atualização do SNA, com a introdução do novo módulo de pretendentes à adoção, marca um avanço importante na proteção dos direitos das crianças e adolescentes. Ao oferecer dados mais detalhados e consequentemente possibilitar um processo de busca ativa mais eficiente, o sistema aprimora as condições para que pretendentes habilitados possam estabelecer vínculos com crianças e adolescentes, especialmente aqueles de difícil colocação em família substituta. Essa modernização reforça o compromisso do Poder Judiciário em promover processos mais inclusivos, eficientes e humanos”, pontua a juíza auxiliar da Presidência do CNJ Rebeca de Mendonça Lima.
Estatísticas Nacionais
Desde 2019, o SNA viabilizou mais de 24.000 adoções. Desse número, 895 foram realizadas pela busca ativa. Só em 2024, foram concluídas 3.409 adoções, sendo 307 por busca ativa, o que representa cerca de 9% de todas as adoções realizadas nesse período.
Hoje, existem 4.935 crianças e adolescentes prontos para adoção no Brasil e 35.622 pretendentes habilitados a adotar. Desses, mais da metade (26.431) são das regiões Sudeste e Sul, e 33.488 têm preferência por crianças de no máximo 8 anos, com a faixa etária de 2 a 4 anos sendo a mais procurada (11.382 pretendentes). Ao mesmo tempo, há 1.398 crianças e adolescentes disponíveis para busca ativa. Os dados completos podem ser conferidos no Painel de Acompanhamento do SNA, que é atualizado diariamente.
A PALAVRA DA JUÍZA DA INFÂNCIA DE OURINHOS
A Juíza Renata Ferreira dos Santos da 2ª Vara Criminal e Infância e Juventude de Ourinhos, conversou com o EN DIA e falou sobre o trabalho do judiciário na cidade na questão da adoção. Renata assumiu o cargo de Juíza de Direito no ano de 2007, mas começou a trabalhar em 2014 na Vara da Infância e Juventude de Ourinhos e, com 10 anos de um belo trabalho na cidade, ela contou sobre a satisfação de poder ajudar crianças a encontrarem famílias.
“Sempre quis ser juíza criminal, porém após assumir a titularidade da 2ª Vara criminal acabei me apaixonando pela competência da infância e juventude. Apesar do peso do cargo, é bastante gratificante quando, através do meu trabalho, consigo proporcionar um futuro diferente para uma criança que se encontrava em situação de risco”.
Renata fala com muito carinho sobre a adoção e sobre seu trabalho no fórum de Ourinhos. “É claro que a adoção é a parte mais apaixonante do meu trabalho, porém ela sempre é precedida de um processo triste e desgastante, no qual as crianças são retiradas do convívio dos pais e familiares para, em seguida, serem colocadas em famílias substitutas”.
A agilidade nos processos de adoção, que precisam respeitar os trâmites burocráticos e também necessários para que a criança esteja apta para a adoção, é fundamental para que esta mesma criança não passe muito tempo nos abrigos provisórios, e isto, em nossa cidade, é tido como primordial para a juíza.
“Eu e minha equipe técnica buscamos dar atenção prioritária aos processos que envolvem crianças em situação de acolhimento a fim de reduzir, ao máximo, o tempo de acolhimento. É válido lembrar que nem toda criança que passa por acolhimento acaba sendo encaminhada para família adotiva, haja vista que o trabalho desenvolvido pela rede de proteção municipal, muitas vezes, possibilita a reintegração familiar. Já as crianças que não podem retornar ao convívio dos pais ou familiares são inseridas na lista de adoção, após serem destituídas do poder familiar, e em pouco tempo já iniciam o processo de aproximação com os casais interessados em adotá-las. Anota-se que o processo de adoção, por lei, deve ser julgado no prazo máximo de 120 dias”, comenta Renata.
Pedi para que a juíza deixasse uma mensagem às pessoas que pensam em formar uma família por adoção e também aos que já estão na fila, aguardando a chegada de seus filhos. “Aos interessados em adotar uma criança, ou mesmo um adolescente ou grupo de irmão, eu sempre digo para terem paciência e não desistirem de aguardar a chegada do filho do coração. Assim, como uma gestação, que dura de 39 a 40 semanas, a adoção também tem seu tempo para o amadurecimento dos pais e para a chegada dos filhos”, finalizou a juíza.
MAS AFINAL, COMO ADOTAR?
A página do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo apresenta um passo a passo que elucida bem todas as dúvidas sobre os trâmites do processo de adoção.
1 – EU POSSO ADOTAR?
Qualquer pessoa maior de 18 anos de idade pode adotar, independentemente de sexo, estado civil ou classe social.
2 – POR ONDE COMEÇO?
O primeiro passo é ir pessoalmente à Vara da Infância e da Juventude da sua região.
Lá, você será orientado quanto à documentação que deve apresentar para dar entrada ao seu pedido.
Agora também é possível fazer um pré-cadastro (disponível no link https://www.cnj.jus.br/sna/), antes de comparecer à Vara da Infância. Após o preenchimento do pré cadastro e munido do número de protocolo e dos documentos necessários (incluir link para a página Documentos Necessários), procure a Vara da Infância e Juventude da sua região.
Consulte aqui o endereço das Varas da Infância e Juventude
3 – DEPOIS DE ENTREGAR A DOCUMENTAÇÃO, O QUE ACONTECE?
Apresentada toda a documentação, seu pedido será registrado e receberá uma numeração. A partir daí, você precisa aguardar o cartório ou setor técnico entrar em contato para fornecer o número de seu processo de habilitação e agendar data para seu comparecimento à Vara para uma entrevista inicial.
4- O QUE ACONTECE NA ENTREVISTA?
A entrevista dará início às avaliações técnicas (estudo social e psicológico) e as orientações quanto ao curso preparatório obrigatório.
5 – COMO FUNCIONA O CURSO PREPARATÓRIO OBRIGATÓRIO?
Esse curso objetiva esclarecer dúvidas sobre a adoção, a expectativa que ela pode gerar, entre outros assuntos.
Vale lembrar que algumas Comarcas optam por realizar esse curso antes mesmo da apresentação da documentação, para que o pretendente possa amadurecer a ideia da adoção e certificar-se de que, de fato, deseja adotar.
É possível que as Comarcas encaminhem o pretendente para realizar o curso em outra localidade, podendo, inclusive, haver mais de um encontro.
6 – O QUE ACONTECE APÓS?
Concluídos os estudos, seu processo será remetido ao Ministério Público para apreciação e, depois, para decisão do juiz, que irá proferir a sentença.
7 – COM A SENTENÇA FAVORÁVEL DO JUIZ, JÁ ESTAREI APTO A ADOTAR?
Com essa sentença favorável, parabéns! Você já estará apto para adotar, em todo o território nacional.
8 – COMO SERÁ EFETUADA A BUSCA PARA QUE EU POSSA ADOTAR?
Não se preocupe como a criança/adolescente irá chegar até você, pois o SNA (Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento) cruzará as informações lá inseridas (perfil dos pretendentes com o perfil das crianças) e a Vara da Infância e Juventude entrará em contato para informar sobre a possibilidade de aproximação com o adotando para iniciar o estágio de convivência.
9 – O QUE É O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA?
O Estágio de Convivência é o período em que o pretendente assume a guarda provisória da criança/adolescente e finalmente pode levá-lo(a) para casa! Mas vale frisar que se trata de guarda provisória. O Estágio de Convivência terá duração até a decisão judicial (sentença) de adoção definitiva. Esse período é variável, sendo definido caso a caso pelo juiz.
10 – QUANDO ACABA O ESTÁGIO DE CONVIVÊNCIA, O QUE ACONTECE?
Decorrido o período do estágio de convivência, o setor técnico apresentará relatório conclusivo que será apreciado pelo Ministério Público e irá ao juiz para a decisão final (sentença de adoção). Com a sentença de adoção proferida, após decorrer o prazo para o recurso, você já poderá providenciar a nova documentação e registrar seu filho. Lembrando que toda a documentação e o trâmite da adoção serão gratuitos. Oficialmente, uma família!
QUAIS SÃO OS DOCUMENTOS NECESSÁRIOS?
Os pretendentes precisam enviar o requerimento de inscrição devidamente preenchido, fornecido no site do TJSP por download, acompanhado dos seguintes documentos:
E se você chegou até aqui, e tem esse desejo de formar sua família por adoção, talvez você já tenha um caminho. Busque informações, veja vídeos, filmes, procure livros, artigos, procure grupos e conheça famílias formadas pela adoção. Com certeza você vai conhecer mais histórias como estas, que te farão pensar sobre o laço mais importante que une as famílias, o amor!
Imagens: Arquivo Pessoal/Reprodução.
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