terça, 17 de junho de 2025
Publicado em 16 maio 2016 - 09:35:16
Seu João tem câncer de intestino. Três vezes por semana, uma ambulância vai até sua residência buscá-lo e ao lado de outros dois pacientes, se dirige até ao Hospital das Clínicas em Marília, onde faz tratamento para a doença. Dona Ana tem câncer de pele e já não requer tantos cuidados delicados e vai até o Hospital Amaral Carvalho, em Jaú, de ônibus cedido pela prefeitura. A viagem é longa, algo em torno de três horas, e na volta, ela se estende ainda mais, devido as condições físicas que ela se encontra depois da quimioterapia.
Seu João tem parentes em Botucatu, mas viaja para Marília. Já Dona Ana diz que, se pudesse escolher, faria tratamento em Marília, para evitar a longa viagem até Jaú, evitar a espera na volta pra casa, e evitar os desconfortos que só quem faz tratamento para o câncer sabe o que é passar por essa situação. Seu João e Dona Ana são apenas personagens fictícios, mas que representariam muito bem os quase 600 pacientes e acompanhantes que saem todas as semanas de Ourinhos em busca da cura para o seu câncer.
A maioria deles prefere não se identificar, tem medo de perderem a oportunidade de se tratarem, porém a maioria dá o mesmo depoimento: as viagens são cansativas e desgastantes, um tempo enorme de espera até que o último paciente seja atendido, e a volta para casa é igual para todos, tomada por enjoos, cansaço físico e mal estar por pelo menos três horas.
De acordo com dados da prefeitura, praticamente 95% dos pacientes são tratados em Jaú, no Hospital Amaral Carvalho, que hoje é referência no Estado no setor de atendimento oncológico. Já a pequena porcentagem restante são casos raros que são encaminhadas para Marília, no Hospital das Clínicas, e para Assis.
A solução, para todos eles, é a mesma: poder fazer o tratamento em sua própria cidade. Para isso, esperam ansiosos pelo credenciamento da Santa Casa de Ourinhos e do Hospital do Câncer de Ourinhos ao SUS. Porém, diante de tantos percalços, e inclusive a crise que o Brasil atravessa, as notícias são desanimadoras. A equipe do jornal NovoNegocião entrou em contato com a assessoria de imprensa da Santa Casa de Ourinhos e obteve a informação de que a direção do hospital enfrenta um entrave demorado e burocrático para o credenciamento junto ao governo federal em relação ao atendimento de alta complexidade em oncologia pelo SUS. E que a crise política e econômica que o país atravessa tem sido um agravante que tem postergado a pactuação do credenciamento, não podendo estipular uma previsão para que isso aconteça. Os custos dos tratamentos de câncer na rede privada, por sua vez, têm valores absurdamente altos e que não são divulgados. A justificativa do Hospital é que calcular esses custos é uma equação complexa que precisa respeitar várias conformidades e exigências.
Para o secretário municipal de saúde, a implantação de tratamentos oncológicos é muito dificultosa para os municípios. Ele acredita que seja necessária uma sólida estrutura para dispor de tal. “O hospital Amaral Carvalho já tem 50 anos só em atendimento de câncer, é muito difícil montar toda uma estrutura que propicie um pleno atendimento para a população. As demandas na busca para esse tipo de atendimento têm que ser paulatinas e é preciso ter uma excelente equipe de profissionais da área além de toda a estrutura necessária”, ressalta. Entre outros aspectos, Melo acredita que o não credenciamento não está relacionado apenas a questões burocráticas e econômicas, mas também a articulações políticas.
Enquanto os pacientes que não tem condições de pagar seus tratamentos pela rede particular continuam enfrentando estrada, cansaço e espera, Ourinhos continua avançando no atendimento privado através da Santa Casa e do Hospital do Câncer. Em funcionamento há alguns anos o Coor – Centro Oeste Oncologia da Santa Casa de Ourinhos, já realiza tratamento quimioterápico regularmente para pacientes particulares, o hospital importou dos EUA um equipamento de radioterapia que já está instalado desde o início deste ano. A previsão era de que os tratamentos radioterápicos tivessem início nos primeiros meses de 2016, mas devido a tramites técnicos e burocráticos os aparelhos ainda não estão devidamente liberados para utilização. Recentemente o maquinário passou por vistoria de técnicos do CNENA – Comissão Nacional de Energia Atómica e o hospital aguarda a publicação de portaria do Ministério da Saúde para posterior expedição de alvará liberando-os para uso.
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