sexta, 24 de janeiro de 2025
Publicado em 28 mar 2017 - 06:24:39
Da redação
O grupo Teatral Soarte, de Ourinhos, estreia o espetáculo “Reunião de família”, de Caio Fernando Abreu, no dia 28, terça, no Teatro Municipal às 20h30, com direção de Leandro Faria.
O texto é uma adaptação do livro homônimo de Lya Luft, e o elenco do Soarte trabalha para encená-lo há quase um ano. Segundo Leandro Faria, diretor do grupo desde a morte de Sergio Nunes em 2008, uma das dificuldades foi conseguir que os atores retratassem toda a tensão exigida pelo texto. “A história rmostra o desgaste nas relações familiares provocado pelo comportamento de um pai opressor, e o quanto isso traumatizou os filhos”.
Para o diretor, o mais importante foi orientar para que a “verdade” transparecesse, fugindo de estereótipos. Mas para os atores e atrizes do Soarte também não foi fácil. O elenco é formado por jovens e adultos, que se encontram aos sábados para ensaiar. “A gente se encontra só uma vez por semana porque as pessoas trabalham e estudam, não é fácil”, justificou. “Tivemos que substituir pessoas durante esse período e uma atriz engravidou, o que complicou bastante”, explicou Leandro durante uma tarde de ensaio que aconteceu no Núcleo de Cultura Popular, barracão da antiga ferrovia, local onde o grupo se reúne desde 1993.
A aridez do tema que aborda conflitos familiares, ao invés de provocar angústia, também trouxe crescimento para os atores. Segundo a atriz Sirlene Aquino, “foi muito bom perceber os universos humanos na ficção e o quanto temos em comum. Também foi um aprendizado perceber a forma como os acontecimentos da infância afetam a vida adulta”.
A atriz Cinthia Siqueira encarou como um desafio interpretar Alice, personagem que é mãe na peça. “Os personagens são complexos, não é possível classificar rapidamente porque mostram facetas humanas do bem e do mal. O texto fez com que eu refletisse sobre o meu papel de mulher e mãe, porque apresenta situações reais do cotidiano”, explica.
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas por um grupo independente como o Soarte, seus integrantes percebem o valor do trabalho que realizam. Segundo o ator Luiz Bosco, “encenar esse texto é muito pertinente nos dias atuais, porque questiona situações como o conservadorismo, preconceitos e moralismo. Também escancara vícios que ocorrem nas relações afetivas, como a opressão e a subordinação. Acho que a maneira como o pai e os filhos se comportam na peça tem uma relação com a nossa realidade social e política”.
Mas existem benefícios pessoais para os atores também. O ator Gabriel Monteiro diz que, ao estudar o texto, repensou suas atitudes com o próprio filho, percebendo se estava agindo com violência ou de forma tirana. A atriz Bruna Domingues, veterana do Soarte, percebe a importância do texto de Caio Fernando Abreu quando mostra a forma como o meio familiar pode determinar a formação das pessoas.
Mas nem tudo são flores. Rúbia Rochetto interpreta uma personagem cruel, que trata mal a própria mãe idosa. “Não quero que minha mãe assista… observou rindo”.
Em se tratando de um grupo independente onde os recursos são escassos, o trabalho de produção é outro desafio. Criar e executar cenários e figurinos foi um trabalho em que todo o grupo deu palpite, e é onde entra em cena o Marcelo Piraju, integrante do grupo desde a sua fundação. Leandro explica que o grupo pesquisou em brechós, bazares e nos guarda-roupas da família. “Fomos fazendo um trabalho de exclusão e ajustes até chegar a uma unidade estética. Para o cenário, fizemos a opção por usar ferro outros metais, com objetivo de reforçar o texto que carrega peso e dureza”.
Como a data da estreia se aproxima, Neguitinho, iluminador do Soarte, acompanhava o ensaio fazendo anotações em um caderno. “Preciso conhecer o texto, porém a criação do mapa de iluminação só acontece em definitivo com o ensaio no Teatro. Estou pensando em usar a cor lavanda, imagino que vai dar certo”, explica.
Apesar da tensão da estréia, o grupo se diverte lembrando as “tretas” durante todo o processo de quase um ano de ensaio do espetáculo. Segundo eles, o texto mexeu com os sentimentos e alguns conflitos afloraram. “Tivemos choro, desistências, voltas, acolhimentos… e isso nos fez mais fortes”, conclui Cinthia Siqueira.
Recordando o período de ensaios e todo o trabalho realizado para encenar “Reunião de família”, os atores são unânimes: “Teatro é irradiação e troca de energia. Queremos que isso aconteça com o público que for nos assistir no dia 28”.
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