segunda, 04 de novembro de 2024
Publicado em 02 abr 2018 - 03:07:50
Alexandre Mansinho
Os vereadores Edvaldo Lúcio Abel, o Vadinho, e Flavinho do Açougue, na última sessão da Câmara, segunda-feira, 26, questionaram a prefeitura quanto aos números divulgados de cirurgias feitas em 2017 e quanto aos valores gastos.
Segundo os vereadores, a Câmara Municipal destinou R$ 746.923,60 em 2017 para pagamento de cirurgias eletivas e a prefeitura só gastou R$ 148.000 para a realização de 87 cirurgias, conforme documento enviado pelo Hospital Santa Casa de Misericórdia de Ourinhos.
Já o vereador Cícero Investigador questionou esses números e afirmou que foram 387 cirurgias em 2017, com uma despesa de R$ 420.000.
CLIMA QUENTE NA CÂMARA – As divergências numéricas em relação às cirurgias eletivas fizeram os vereadores subirem o tom das críticas e das acusações.
Vadinho disse que “há pessoas indo a óbito na nossa cidade (…) há quem não sabe mais o que fazer para conseguir a cirurgia (…) por que enganar nossa população? O dinheiro foi colocado à disposição e não foi usado (…) nós estamos falando de famílias que estão ajoelhadas rezando, implorando pela cirurgia”. Cícero Investigador acusou os colegas por “transformar ‘isso aqui’ em um picadeiro com a transmissão de inverdades”.
Éder Mota disse que o discurso da oposição é mentira: “estamos lutando com o Prefeito Lucas Pocay para resolver o problema das cirurgias eletivas (…) eu tenho vergonha na minha cara”. A troca de ofensas que começou no plenário continuou dentro da antessala na qual os vereadores ficam durante o intervalo – foi possível escutar várias vozes exaltadas ainda a respeito dos números referentes às cirurgias eletivas.
O QUE É UMA CIRURGIA ELETIVA – De acordo com o Ministério da Saúde, por meio de seu site oficial, chamamos de cirurgia eletiva uma cirurgia não urgente, cujo paciente pode esperar até 1 ano para sua realização. No Brasil, a fila para esse tipo de cirurgia é de 904 mil pacientes, segundo dados do próprio SUS, e há registros de pessoas que esperaram mais de 10 anos para a realização do procedimento.
Entre os mais de 5 mil municípios brasileiros, pouco mais de 60 conseguiram cumprir a meta dessas cirurgias em 2017: “os estados brasileiros que cumpriram a meta de produção estabelecida em portaria para que municípios pudessem organizar a produção de mutirões de cirurgias eletivas, terão a oportunidade de receber o dobro dos recursos pagos no último semestre, ou seja, poderão realizar ainda mais procedimentos, diminuindo o tempo de espera dos pacientes que aguardam por uma cirurgia eletiva.
O Ministério da Saúde liberou mais R$ 61,1 milhões para repassar aos 67 municípios de 17 estados brasileiros que atingiram a meta, conforme produção cirúrgica realizada. No total, foram feitas mais de 80,6 mil cirurgias eletivas em 2017”, diz o Ministério da Saúde por meio da assessoria de comunicação.
EMENDAS PARLAMENTARES – Quando é definido o orçamento dos governos para o ano seguinte, os deputados estaduais e federais têm o direito de destinar, por meio de emendas parlamentares, uma quantia em dinheiro para os municípios que desejarem. Geralmente os deputados usam dessas verbas para estreitar relações políticas e ampliar seu eleitorado.
HISTÓRIA DE ANGÚSTIA – Aparecida de Fátima Brustolin Barbosa, comerciante, tem uma história angustiante em relação ao tempo no qual espera por uma cirurgia de retirada de uma hérnia: “eu tive uma crise de apendicite, que quase me matou porque os médicos demoraram para diagnosticar (…) como resultado dessa cirurgia feita em regime de urgência, eu acabei desenvolvendo uma hérnia (…) o primeiro médico que me atendeu disse que eu teria que aprender a conviver com ela, mas, hoje em dia, eu não encontro nem posição para dormir por causa da dor (…) tenho que tomar remédios o tempo todo”.
José Lourival Alfredo Barbosa, esposo de Aparecida de Fátima, afirma que já brigou várias vezes na SMS e chegou até a ir em Marília para conseguir essa cirurgia: “quem está precisando de cirurgia é feito de bobo”, afirma.
HÁ DOIS ANOS NA FILA – O menino Luiz Otávio Cardoso dos Anjos tem uma preocupação dobrada, está na fila de duas cirurgias: amigdalas e criptorquidia. Ele mora com a família no Parque Pacheco Chaves e está há dois anos esperando uma resposta dos serviços de saúde.
Segundo Raquel Cardoso, mãe do menino, ele já esteve até internado em Marília para fazer a cirurgia mas, segundo ela, houve uma emergência e a cirurgia do pequeno Luiz Otávio teve que ser remarcada: “há dois anos que estamos nessa vida (…) ele hoje tem 6 anos (…) chegaram a dizer para nós que esse procedimento só seria marcado se procurássemos alguém influente para nos ajudar”.
OUTRO LADO – Na última segunda-feira, 26, a secretária Cássia Borges Palhas, responsável pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) em Ourinhos, afirmou que as pessoas que estão esperando por 1.591 cirurgias eletivas serão submetidas aos procedimentos ainda em 2018.
Segundo a pasta, as instalações do antigo Hospital de Saúde Mental irão concentrar todos os procedimentos pré-cirúrgicos, a avaliação pré-anestésica e os agendamentos: “antes de mais nada a equipe de auditoria médica da SMS faz uma análise a fim de verificar se está tudo correto do ponto de vista clínico”, afirma a secretária.
O anúncio da realização das cirurgias eletivas foi feito durante uma entrevista coletiva da equipe da SMS e do Deputado Estadual Gilmar Gimenez, na ocasião da destinação de R$ 200 mil de emenda.
De acordo com a Secretaria de Saúde, o valor aproximado para a realização das 1.591 cirurgias será de R$ 2,8 milhões e, quase a totalidade, será composto de emendas parlamentares, sendo que as informações sobre o uso dos valores obtidos por meio das emendas serão disponibilizados pelos canais próprios de transparência.
PROMESSA DE CAMPANHA – Por meio da Secretaria Municipal de Comunicação, a secretária Cássia afirmou que essa modalidade cirúrgica é obrigação do governo do estado, mas que o governo Pocay tem se empenhado em zerar essa fila por ser, entre outras coisas, uma promessa de campanha: “É importante ressaltar que as cirurgias eletivas são de competência do Estado e da União. Os municípios são responsáveis pela atenção básica, pelos postos de saúde, as UPAs”.
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