sexta, 04 de julho de 2025
Publicado em 07 maio 2019 - 10:58:38
Letícia Azevedo
Em 28 de abril, dia em que Eiji Marvulle Nagae faria 26 anos, o Jornal Negocião conversou com a mãe do jovem, Rosana Marvulle, e com a ex-sogra Silvana Rocha, mãe de Victória Alana Rocha Meireles, que namorava o jovem há 7 anos na época do crime que chocou a cidade e ainda levanta diversas questões, principalmente sobre a demora do julgamento de Arthur José Nogueira, autor dos disparos, que aguarda preso pela decisão do júri, que possivelmente ocontecerá ainda em 2019.
Rosana Marvulle falou da importância de relembrar os fatos, desabafou e contou como foi o dia em que recebeu a notícia mais triste da sua vida. “Eu fui avisada por uma funcionária da Faculdade Estácio de Sá, fui levada até o hospital pelo pai da namorada do meu segundo filho, porém em nenhum momento fui avisada da gravidade da situação. Soube quando a Vitória veio gritando e falando que o Eiji tinha levado um tiro. A partir daquele momento eu comecei a pedir que Deus levasse meu filho, porque eu queria ele vivendo bem, entre ter o meu filho comigo, mas tê-lo sem qualidade de vida, eu preferia que Deus o levasse”.
Rosana relatou que entrou em desespero, e que gritava sem parar. “Eu me lembro de estar recebendo medicamento, pois minha pressão alterou muito e eu cheguei a perder os sentidos, a sensação era de morte. A única coisa que eu pensava era que precisava ver o Eiji, eu precisava ver o meu filho, e ninguém me deixava vê-lo. Como psicóloga holística entendi que eu precisava falar com ele, e foi o que eu fiz depois de muito insistir com a equipe. Quando cheguei no local onde ele estava, sangue ainda escorria pelos orifícios da bala, comecei a falar com ele, expliquei o que havia acontecido, que ele tinha sido tirado de nós e inclusive pedi perdão por todas as vezes em que eu não havia sido boa mãe. Eu senti ali, após esse dia que eu nunca mais vou esquecer, de que o meu papel de mãe havia sido cumprido, havia terminado ali” – relatou emocionada.
Sobre o resultado do julgamento de João Paulo Oliveira, cumplice no assassinato, que já se encontra em liberdade, Rosana disse não concordar com a condenação. “Na minha opinião a pena de João Paulo não foi justa, porém eu acredito que a cadeia viva dentro dele (…) se ele entendeu que aquilo que ele fez foi algo ruim, não importa o quanto tempo que ele ficou preso, ele nunca mais fará novamente. Tudo bem, a pena passou e que ele tenha uma vida nova”.
Rosana acredita que infelizmente muitas outras pessoas saíram impunes. “O rapaz que emprestou a moto, a menina que estava dentro da sala de aula enviando mensagens a respeito da localização do meu filho, todos eles teriam que responder por isso. Eles não foram nem arrolados ao processo. Eles também têm sua parcela de culpa, talvez em menor escala, mas também teriam que ser julgados, condenados. Agora o Arthur, que diversas vezes disse não se arrepender do que fez, eu peço a Deus que ele permaneça preso o maior tempo possível”.
A mãe de Eiji falou a respeito da dor que a família ainda sente e sobre a indignação a respeito de Arthur Nogueira. “Eu não posso dizer que tenho raiva dele, acredito que a raiva está dentro dele. Eu não sinto absolutamente nada por ele. Infelizmente o que ele causou em mim e na minha família gerou uma dor indescritível, um pesar imenso em mim como mãe, no irmão, em toda a família. Raiva ele sente, sempre sentiu, e não conseguiu lidar com esse sentimento fazendo o que fez. Eu não gostaria que ele estivesse em sociedade. E o que eu posso dizer em relação a ele é que mesmo passando por tudo, por toda essa dor eu ainda prefiro ser a mãe do Eiji do que a mãe dele” – lamentou.
Silvana Rocha contou que no dia que antecedeu o crime ela teve um sonho estranho e que decidiu mudar um pouco a rotina da filha. “Eu falei com a Vitória, e disse que iria levá-la à faculdade naquela noite, pois estava com um mal pressentimento. Pedi que ela não fosse com o Eiji de moto para faculdade, pois no dia anterior ele havia ganhado uma moto enorme, linda, e eles estavam entusiasmados em andar com essa moto. Antes das nove e meia da noite, meu telefone tocou, era uma amiga da minha filha que só gritava e falava que o Eiji tinha sido baleado. Nisso eu pensei que a Vitória com certeza também tinha sido atingida. Ainda me dei conta que era dia primeiro de abril, e pedi que ela parasse de brincadeira, mas constatamos logo em seguida que não se tratava de uma brincadeira. A Vitória entrou em desespero, eu tenho os gritos dela na minha cabeça até hoje”.
Silvana também acredita que a justiça foi muito falha até aqui, e que é inadmissível a forma como foi conduzido o caso até aqui. “A justiça brasileira é muito falha. Falando a respeito do João Paulo, eu me decepcionei muito com a pena arbitrada a ele. Ele foi conivente com a situação, deu guarida ao Arthur, escondeu os fatos, fugiu. Olha é realmente terrível pensar na frieza desses rapazes. Não existe no mundo uma pessoa que presencie um crime bárbaro desses e não tenha culpa, ou tenha uma culpa tão pequena. Na minha opinião, o rapaz que emprestou a moto para os dois, deveria ter sido julgado também, não só ouvido como testemunha. Como você empresta um veículo para outra pessoa, principalmente ouvindo que ele iria “resolver uma treta” como foi dito. Você não sabe a que ponto essa “treta” vai chegar. Quanto a menina, é pior ainda. Ela indicar onde o Eiji estava, sabendo que o Arthur não estava bem-intencionado, é tão culpada quanto o João Paulo e o Arthur. Para mim, os quatro deveriam pagar por essa atrocidade, cada qual com sua pena, mas todos condenados” – finalizou.
Para a justiça, os dois “envolvidos” não sabiam das intenções criminosas de Arthur. O Ministério Público acabou acatando a versão de que o mentor do crime teria apenas usado tanto F.A.O, que emprestou a moto para que ele fosse até a Faculdade, como também a colega de sala M.F.B, que teria indicado os passos de Eiji dentro da instituição.
À família, apesar de toda dor, resta esperar que o caso ganhe o seu desfecho ainda este ano, e que Arthur José Nogueira seja julgado sob um olhar mais crítico dos jurados, para que pague com justiça pelo crime que cometeu.
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