sexta, 16 de maio de 2025
Publicado em 13 jul 2016 - 12:07:56
A maternidade sempre me encantou. Desde adolescente eu sonhava com muitos filhos e ter duas crianças era atingir a plenitude de uma mulher. Primeiro veio o menino, Artur, um anjo, nem parecia ter um bebe em casa. Então decidimos ter o segundo, só que em vez de um, vieram os gêmeos Plácido e Alma, em homenagem aos avós.
Férias escolares, quinze de julho e o primeiro dia de sol de um mês chuvoso e friorento. Sentada aqui no tapete da sala, nessa barraca de cadeiras, lençóis e cobertores, talvez… pensando bem… um só nem seria tão ruim assim. Não sei se é o ar abafado da barraca, o som alto do desenho animado na TV, ou o cheiro do vômito da Alminha no meu casaco, mas estou meio em transe. Observo Placidinho tentar enfiar um lego redondo no nariz enquanto Alminha rasga a capa de um livro antigo e caro. Sinto algo me puxando pela blusa, talvez seja a morte, provavelmente o sono. Mas eu só saio do meu transe quando Artur segura meu rosto com suas duas mãozinhas de sete anos e grita: Mãe! Vamos brincar lá fora!
Sair com três crianças de casa é o mesmo que completar uma das tarefas de Hércules. Dar banho, trocar, pentear, colocar sapatos e tentar sair de casa antes que alguém faça coco ou vomite. Três cadeirinhas no carro, três bicicletas com rodinhas, bolsa com mamadeiras e fraldas pros gêmeos, agua, lanchinho e algumas trocas de roupa. Eu nem sei se tomei banho hoje, ou se escovei os cabelos ou os dentes, mas minhas fofuras estão limpas, cheirosas e amarradinhas nas cadeirinhas. #partiupracinha.
O sol no rosto, a brisa fresca do fim da tarde e encontrar uma pracinha limpa e bem cuidada é um alivio depois de tanta chuva. As crianças sorriem, pulam e brincam e percebo que é tão fácil fazê-las felizes nessa idade. Voltamos outras vezes na pracinha. Outros dias tomamos caldo de cana em frente ao mercado com direito a pula-pula, mudamos de praça e escorregamos no jacaré inflável, assistimos um desenho ‘’maior legal mãe’’ no cinema. E assim as férias foram passando, morna e mansamente.
Agosto chegou. Meio aflita eu tiro as crianças do carro, pego nas mãos dos gêmeos e Artur pega nas mãos de Placidinho. A professora vem nos receber com olhos radiantes e descansados, bem diferentes dos meus. Ela nota em mim um olhar estranho, um sorriso meio insano nasce nos meus lábios quando os três passam para o lado de dentro da escola. Viro nos calcanhares e aperto o passo. Sussurrando desejo a ela “boa sorte”, afinal ela vai precisar de muita…
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