domingo, 09 de março de 2025
Publicado em 11 dez 2023 - 18:51:41
Entre transformações históricas o município se revela como um ponto estratégico enraizado na hospitalidade e no desenvolvimento econômico
Alexandre Mansinho
Em 1915, o mundo enfrentava a agitação da Primeira Guerra Mundial, enquanto o Brasil, a jovem República de menos de 30 anos, ainda possuía vastas regiões do seu território desconhecidas dos pioneiros. Aos poucos, as divisas dos estados estavam sendo forjadas: povoados surgiam, municípios eram formados e as terras que eram lar de diversas nações indígenas passaram e acolher também toda a sorte de etnias.
Na mesma conjuntura histórica, em 13 de dezembro desse mesmo ano (1915), um importante marco ocorreu: uma parada de trens da Estrada de Ferro Sorocabana foi elevada a distrito. Inicialmente ligado politicamente a Salto Grande, o povoado de Ourinhos, estrategicamente situado na fronteira de São Paulo e Paraná e rota tradicional para o Mato Grosso, prosperou. Três anos após sua oficialização, em 1918, tornou-se um município emancipado.
A história de Ourinhos remonta à aquisição de vastas terras por Jacintho Ferreira de Sá, originário de Santa Cruz do Rio Pardo. Loteando o centro da cidade, ele doou terrenos para a construção de um grupo escolar e de uma igreja. O povoado teve início em 1906, com um número limitado de casas, e em 1908, estabeleceu-se o Posto da Estrada de Ferro, posteriormente transformado em estação.
Quanto à origem do nome há diversas versões, mas a mais aceita remete à fazenda chamada Ourinho, que se situava no município de Jacarezinho, Paraná. Por esse motivo, o povoado que se formou em 1906 nas terras de Jacintho Ferreira de Sá passou a se chamar, por tradição oral, de Ourinho Paulista, que foi posteriormente alterado para Ourinhos após sua elevação a distrito.
Ourinhos integra a “zona pioneira” com características econômicas ligadas ao avanço do café nas terras recém-desmatadas às margens do Rio Paranapanema. Com a presença de posseiros, estrangeiros e migrantes, a monocultura de café e algodão floresceu, conectando o médio Paranapanema à economia do Estado de São Paulo.
Atualmente, Ourinhos abrange uma área de 296 km², com uma população de mais de 103 mil habitantes. Classificado como o 76º município mais populoso de São Paulo, a cidade é o epicentro de uma região geográfica em ascensão econômica e importância política no Brasil. O município é referência em atendimento médico especializado e tecnologia de imagem; é referência no setor imobiliário de alto padrão; é referência em educação pública e privada, sendo sede de diversas universidades; é referência no atendimento para pessoas com deficiência e também se destaca como polo de entroncamento rodoferróviário logístico.
Além de tudo isso, existe há décadas a reputação da população como sendo “de coração de ouro”, o que provavelmente é o resultado da hospitalidade enraizada na população. Ponto de parada para migrantes e estalagem para comerciantes nacionais e estrangeiros, Ourinhos é caracterizado pela acolhida calorosa e fraterna de sua comunidade. Exemplo disso são instituições antigas como a Guarda Mirim, que surgiu para auxiliar na educação dos filhos dos operários que vinham de todo o país para trabalhar na ferrovia e nas antigas olarias.
“Ourinhos são várias”, essa frase é atribuída ao Dr. Eitor Martins, advogado e historiador, um apaixonado pela trajetória do município. Pode-se interpretar as palavras do Dr. Eitor de diversas formas, no entanto, seja para aqueles que foram acolhidos pela cidade quanto para aqueles que nasceram aqui, para cada uma dessas pessoas, Ourinhos tem uma identidade especial. O Jornal Negocião foi para a rua com o objetivo de ouvir essas pessoas e confirmar as palavras do historiador.
Clayton Pelógia Squilino é de uma família de comerciantes, povo que chegou a Ourinhos há mais de quatro décadas, diz: “Ourinhos é uma ótima cidade para investir, temos um comércio que está crescendo e se referenciando em toda a região, são quarenta anos que vejo Ourinhos cada vez melhor”.
Sandra Melenchon Negrão também faz parte daquelas pessoas que foram acolhidas pela cidade, e expressa seu amor e sua gratidão ao “povo de coração de ouro”: “desde que cheguei no município, há 25 anos, trabalhei nessa cidade em diversos setores, nunca me faltou trabalho e nunca me faltou acolhimento por parte da população”.
Vanessa Domingos Severino é comerciária e também mãe, afirma que é bom lidar com a clientela e que, olhando pelo lado dos filhos, é ótimo: “não tenho do que falar mal, é lógico que não é uma cidade perfeita, mas, em comparação com a nossa região, aqui é o melhor lugar para se viver”.
“Uma cidade “família”, um lugar bom para criar os filhos” – Karine de Castro disse ao Negocião que a cidade chama a atenção na sua organização urbana: “temos onde passear com as crianças, e até com os cachorros, para quem tem filhos é um lugar ideal”.
Lucilene de Souza Melo diz que Ourinhos é uma cidade sossegada: “a cidade é tranquila, boa de se viver, sou do Paraná, mas tenho orgulho de ter dois filhos ourinhenses”.
Gabriela de Souza Ribeiro, no auge da experiência de seus 7 anos de idade, afirma que “é bom ser criança em Ourinhos”: “eu gosto de passear, gosto de sair pra comer fora e gosto muito de brincar na “prainha” espaço de lazer no Parque Centenário e ver os patos”.
“Um lugar para se investir” – Reginaldo Adriano Ribeiro, comerciante, afirma que a cidade ainda é um lugar bom para se investir: “temos crises econômicas entrando e saindo, mas Ourinhos se mantém como polo regional de consumo, as pessoas das outras cidades vêm para cá por causa do comércio sempre ativo”.
Ana Lúcia Azzoni Squilino, também empresária, acredita que ainda há muito mais para se desenvolver em Ourinhos: “a cidade é bem organizada, é muito bom viver aqui, é lógico que temos problemas, seria importante mais indústrias para garantir mais empregos para os ourinhenses, mas, mesmo assim, Ourinhos ainda é um bom lugar”.
Eduardo Gabriel da Cunha Ferreira é um exemplo da forma carinhosa que o povo trata aqueles que passam pela cidade, seja ele vendedor, turista, visitante ocasional ou novo morador. Eduardo é vendedor ambulante, mora em Piraju, mas encontrou em Ourinhos uma praça ideal para seu comércio de frutas: “aqui o povo me trata muito bem, já sou conhecido e respeitado (…) até meus clientes regulares me tratam diferente da forma que eu sou tratado em outros lugares”.
Mara Eliane Gaspar diz: “Eu não gosto de Ourinhos, eu amo Ourinhos (…) vivi parte da minha trajetória profissional no Grêmio (clube que já foi tradicional lugar de shows e bailes no centro de Ourinhos), hoje trabalho como ambulante e posso dizer: não tenho do que reclamar”.
Já maior de 65 anos, Wilson Garcia é aposentado e escolheu Ourinhos para viver a sua melhor idade: “aqui é um lugar muito bom, não tenho nada do que reclamar”.
“Vida noturna, bares e restaurantes sempre bem frequentados” – Henrique Squilino Silva está em Ourinhos a passeio e Cairo Gustavo Felipe de Mesquita chegou à cidade a menos de um mês, o que essas duas pessoas têm em comum, além da juventude, é o gosto pela vida noturna de Ourinhos: “acho que por ser uma cidade universitária e que recebe muitos jovens, tem muita coisa para se fazer à noite”, diz Henrique. Cairo morava na Vila Madalena em São Paulo, tradicional bairro boêmio, mas também se diz feliz por estar em Ourinhos: “tanto no comércio quanto na vida noturna, Ourinhos tem um clima diferente, gosto de estar aqui”.
© 1990 - 2023 Jornal Negocião - Seu melhor conteúdo. Todos os direitos reservados.