quinta, 18 de abril de 2024

COVID-19 tira de cena um ícone da comunicação e da cultura ourinhense

A notícia de seu falecimento repercutiu em toda a imprensa regional, especialmente nas redes eletrônicas e mereceu destaque no Portal G1 da Rede Globo e no noticiário regional da TV TEM

 

Rose Pimentel Mader

 

A morte do jornalista, publicitário, produtor cultural e empresário Fernando Cavezale, aos 58 anos de idade, causou comoção na comunidade ourinhense. Fernando Henrique Mella Ribeiro, filho de tradicional família ourinhense, que adotou o nome de Fernando Cavezale, em homenagem ao sobrenome da família da mãe, construiu uma bela história de vida profissional e pessoal e deixa um valioso legado nas áreas da comunicação e cultura.

 

Fernando Cavezale se destacou nas áreas de comunicação e da Cultura Ourinhense

 

A notícia de seu falecimento repercutiu em toda a imprensa regional, especialmente nas redes eletrônicas e mereceu destaque no Portal G1 da Rede Globo e no noticiário regional da TV TEM.

A LUTA PELA VIDA – Fernando Cavezale testou positivo para COVID-19 nove dias depois de ter tomado a vacina Oxford/Astrazeneca. Permaneceu três dias hospitalizado no Hospital de Campanha de Ourinhos e com o agravamento de seu quadro foi transferido para o Hospital Amaral Carvalho, de Jaú. Neste Hospital lutou pela vida durante seis dias, vindo a falecer às 22h20 do sábado, 5 de junho, de parada cardíaca em decorrência das complicações da COVID-19.

JORNALISTA ATÉ O FIM – No Hospital de Campanha, pouco antes de ser transferido para Jaú, Fernando reuniu todas as suas forças e a pedido da esposa Elaine Geraldo, gravou um vídeo com uma emocionante mensagem para os filhos e foi além de expressar seu amor à família, fez um apelo a todos para se cuidarem, evitar contrair a doença e necessitar de uma hospitalização. Neste momento exerceu o seu papel de jornalista, horando seu compromisso social.

Suas últimas palavras foram de fé e de esperança em Deus: “Deus seja louvado. Deus é bom o tempo todo.”

 

FAMÍLIA TRADICIONAL OURINHENSE – Fernando era o filho caçula de Elziro Ribeiro da Silva e Carolina Mella Ribeiro (Cali), falecidos, e tinha seis irmãos Maria Helena (falecida), Sérgio (O Mágico), Vera Lúcia, Roberto, Antônio Eduardo (falecido) e Maria Alice.

 

A música era uma de suas paixões

 

Honrou plenamente a família que amava e, sempre, expressava sua admiração pela querida mãe Cali, também artista plástica que se notabilizou pelos seus belos trabalhos e pelas suas memoráveis participações como Verônica nas procissões religiosas da cidade.

CONSTRUIU UMA GRANDE FAMÍLIA – Fernando foi grande até na hora de construir uma família. Deixou seis filhos: Ananda, 28 anos, jornalista que mora em Brasília, mãe de Benjamim de 2 meses (neto de Fernando); Clareana, 20 anos, estudante e modelo que mora em Campinas; Guilherme, 25 anos, cineasta que mora em Calgary, no Canadá; Isabela, 28 anos, jornalista que mora em Foz do Iguaçu; Vítor, 31 anos, light designer, que mora em Campinas e Théo, de 4 anos. Ananda e Isabela são gêmeas.

 

Fernando e a esposa Elaine por ocasião do Baile Ourinhos Gala 100 que organizou no Leluí Hall

 

Fernando era casado há 9 anos com Elaine Geraldo, de 41 anos, consultora de Recursos Humanos, graduada em RH e pós-graduada em Gestão de Pessoas, sua grande companheira com quem comandava atualmente a Agência de Publicidade e Marketing Like UP, com atuação nacional e com quem teve o filho Théo.

UMA VIDA DEDICADA À COMUNICAÇÃO E À CULTURA – Fernando era sinônimo de trabalho, talento e criatividade. Idealista e visionário, transformou seus sonhos em realidade. Como jornalista atuou em vários jornais, como o Jornal da Divisa, criou jornais como o Acontece e revistas como a Front e colaborou com diversas instituições públicas e privadas, entre as quais Prefeitura Municipal e Associação Comercial e Empresarial de Ourinhos, como assessor de imprensa. Como publicitário, criou agências de Propaganda e Marketing que foram responsáveis pela criação de importantes e memoráveis campanhas publicitárias. A primeira agência criada há mais de 30 anos foi a Cavezale Comunicação, mais tarde a CVZL e em 2015 em sociedade com a jornalista Cintia Gales nasceu a Like Up Comunicação focada em estratégia digital.

 

Fernando comandou a secretaria da Cultura durante 4 anos

 

E seguindo a sua vocação estimulada pela mãe Cali, revelou seu talento artístico se notabilizando também como compositor e músico na noite ourinhense e em festivais. Como músico, idealizou e produziu vários eventos culturais. Fernando, suas composições, voz e violão encantaram várias gerações.

FORMAÇÃO PROFISSIONAL E ATUAÇÃO PÚBLICA – Consultor em Marketing, publicitário, jornalista e professor universitário, Fernando era graduado em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pela Universidade Estadual Paulista “Julio de Mesquita Filho” (UNESP-Bauru), com especialização lato sensu em Propaganda, Marketing & Negócios pela Universidade Filadélfia (UNIFIL-Londrina). Foi professor nas Universidades do Norte do Paraná (UNOPAR-Londrina) e Centro Universitário Faculdades Integradas (UNIFIO) e deu aulas em cursos de pós-graduação, como o MBA em Marketing da UNIVEM-Marília.

Teve ativa participação em campanhas eleitorais de Ourinhos, tendo sido coordenador de comunicação nas campanhas eleitorais do ex-prefeito e ex-deputado estadual Claury Santos Alves da Silva, respectivamente em 1992 e 1998. No período de 1993 a 1996 foi chefe do Serviço de Imprensa da Prefeitura Municipal, colaborando com ações de inserção de Ourinhos no recém-criado Mercosul, participando e organizando encontros de negócios em Mar del Plata (Argentina) e Ourinhos.

No período de 2000 a 2002 foi assessor de imprensa do deputado estadual Claury Alves da Silva na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo.

Em 2000, coordenou o marketing da campanha a prefeito de Claudemir Alves da Silva.

Em 2014 participou da campanha eleitoral que elegeu o deputado federal Capitão Augusto pela primeira vez. De 2016 a 2018 foi o coordenador do Projeto Angra Doce, baseado no Projeto de Lei do deputado federal Capitão Augusto que instituiu a área de interesse turístico nacional na região que compreende os 15 municípios lindeiros à represa Chavantes na divisa dos Estados de SP e PR.

Em 2018 participou na campanha eleitoral que reelegeu o deputado federal Capitão Augusto.

Também coordenou e participou de campanhas eleitorais em várias cidades da região, inclusive do Paraná.

O HINO OFICIAL DE OURINHOS – Fernando teve a felicidade de compor e presentear a cidade que tanto amava com um Hino maravilhoso, cuja letra evidencia todos os elementos que contribuíram para o surgimento da cidade, destacando seus recursos naturais e os valores humanos.

 

Autor do Hino de Ourinhos, Fernando tem seu nome imortalizado na história da cidade

 

Fernando participou e venceu o Concurso Público promovido pela Secretaria Municipal de Educação para a escolha do Hino de Ourinhos. O Concurso foi realizado em 1991 no final da gestão do então prefeito Clóvis Chiaradia, um historiador, amante das artes e da Cultura que teve a iniciativa de propor este evento. A secretária municipal de Educação da época, professora Haid Chiaradia, relatou com emoção a participação de Fernando e todas as ações realizadas até a gravação do Hino Oficial.

A HISTÓRIA DE UM HINO – “No início dos anos 90, Ourinhos era uma cidade marcada pelas Olarias, pela riqueza do barro do Panema, como carinhosamente era chamado seu rio pouco piscoso, mas belo pelo lazer proporcionado, e começava a se destacar pelos serviços oferecidos, descobrindo novas missões. Ourinhos não tem a história de seu nascimento e crescimento documentada, nem tinha um Hino. Um Hino que a cantasse e a tornasse sempre presente na alma do seu povo. Mas, Ourinhos merecia que sua história tão recente fosse contada em prosa e cantada aos quatro ventos, seu tempo passado registrado e seu futuro prenunciado. Cantado numa Marcha? Numa Marcha ufanista, tradicional? Resolveu-se então lançar um concurso para a criação e escolha do Hino Oficial. E Fernando foi muito feliz na criação do Hino, destacando os elementos que compõe o brazão da cidade, evidenciando a sua posição estratégica, seus rios, matas, a ferrovia e a essência de seu povo. Nossa eterna gratidão ao Fernando pela sua obra que tanto nos orgulha”, afirmou Haid Chiaradia.

 

Fernando na apresentação do Hino Oficial no Teatro Municipal com o coral da Escola Estadual Maria do Carmo, tendo ao piano a professora Vera Neli, sua irmã

 

Para fazer o arranjo do Hino, o então prefeito Clóvis Chiaradia convidou o maestro Nelson Ayres, regente da Sinfônica do Estado de São Paulo. E um fato muito curioso relatado pela ex-secretária Haid Chiaradia e pelo ex-vereador Euler Penteado Bastos, foi a participação da cantora ourinhense Vânia Bastos na gravação do Hino. “Por ter uma voz lindíssima, o maestro Nelson Ayres convidou Vânia Bastos para compor o coral e ela só ficou sabendo que o Hino era de Ourinhos quando chegou ao estúdio para gravar”, contou a professora Haid Chiaradia.

A Lei Municipal nº 5647, de autoria do então vereador Edvaldo Lúcio Abel (Vadinho), instituindo a obrigatoriedade de execução do Hino de Ourinhos nos eventos do município, foi sancionado pelo então prefeito Toshio Misato, no dia 25 de julho de 2011.

O Hino se popularizou na comunidade e sempre é elogiado pelos visitantes que tem a oportunidade de participar de eventos na cidade, pela letra e melodia.

UM GRANDE LEGADO CULTURAL – Em 2013 Fernando foi convidado pela então prefeita Belkis Gonçalves Fernandes para assumir a pasta da Cultura. Foram quatro anos como secretário municipal de Cultura durante os quais idealizou e implementou grandes projetos e ações que colaboraram para democratizar a cultura ourinhense, como conta Belkis.

Fernando ocupou o cargo de secretário durante toda a gestão de Belkis até 2016, tendo se afastado apenas durante seis meses para disputar a eleição como candidato a vereador pelo PMDB.

“Fernando era um ser humano empolgante, viveu a sua vida e a carreira profissional de forma intensa. Tinha o espírito idealizador e, especialmente, realizador. Colocava otimismo, arrojo e ousadia em tudo que fazia”, afirmou Belkis.

 

“Como secretário de Cultura sempre buscou ações inovadoras e sabia otimizar os poucos recursos financeiros de sua pasta”, disse Belkis

 

E entre tantos projetos e ações importantes que realizou como secretário, Belkis destacou a restauração da antiga Casa dos Ingleses para ser sede da Secretaria da Cultura. “Fernando garantiu que era possível fazer o restauro com poucos recursos e conseguiu realmente realizar o projeto, preservando as linhas arquitetônicas e mantendo a originalidade da casa que se transformou num espaço de referência da Cultura e um Cartão Postal da cidade”.

Também foi sua iniciativa transferir a Biblioteca Tristão de Athayde para o novo espaço na avenida Rodrigues Alves, valorizando e ampliando a sua importância na vida Cultural de Ourinhos. A ideia de instalar um vagão de trem naquele local também foi maravilhosa. A intenção era criar um espaço de leitura infantil, contou Belkis.

 

O vínculo de Fernando com Belkis transcendeu o universo político e foi muito além do relacionamento de secretário e prefeita para consolidar uma grande amizade

 

Belkis lamenta que, infelizmente, não deu tempo para ele concretizar todas as ações que sonhava para a democratização da cultura.

Outro projeto importante que implantou foi a Vila da Cultura, desenvolvido com as crianças nos bairros, nos espaços disponíveis, oferecendo música, pintura e outras artes. No final do ano, as famílias se reuniam no Teatro Municipal para assistir as apresentações.

A Cantata de Natal no Centro Cultural Tom Jobim também foi idealizada e realizada na sua gestão como secretário, com a participação da empresária Sirlei Zanuto e da professora e coordenadora cultural Therezinha de Paula (Tiririca). “Foram quatro edições que evidenciaram Ourinhos no cenário estadual e o evento se tornou uma referência no Estado de São Paulo”, recorda Belkis.

 

O sepultamento de Fernando Cavezale, no domingo, 6 de junho, às 16 horas, no Cemitério Municipal foi realizado num clima de muita emoção

 

Fernando também apoiou e foi um grande incentivador dos festivais de música abrangendo do popular ao erudito. Foram muitas importantes ações e projetos que marcaram a sua passagem pela Secretaria da Cultura, ressaltou a ex-prefeita.

Belkis destacou, de maneira especial, o maravilhoso Hino que Fernando criou para a cidade. “Imprimíamos a letra e distribuíamos nos eventos para todos cantarem e era um orgulho e alegria muito grandes os elogios que recebíamos e poder dizer que o autor do Hino era o nosso secretário de Cultura”.

O vínculo de Fernando com Belkis transcendeu o universo político e foi muito além do relacionamento de secretário e prefeita para consolidar uma grande amizade. “Tivemos uma convivência maravilhosa durante todos esses anos, fortalecida especialmente porque professamos a mesma fé e Fernando sempre se mostrou leal e companheiro. Este é um momento de muita dor e de angústia, a morte de Fernando deixa uma grande lacuna na comunidade. Perdi um grande amigo de fé e Ourinhos perdeu um ícone da Cultura, cujo nome está eternizado na história da cidade, através da sua obra como autor do Hino Oficial”.

A ÚLTIMA HOMENAGEM – O sepultamento de Fernando Cavezale, no domingo, 6 de junho, às 16 horas, no Cemitério Municipal foi realizado num clima de muita emoção. Familiares, amigos e admiradores participaram de um grande cortejo que culminou com uma homenagem em frente ao Cemitério.

A iniciativa de prestar uma última homenagem ao jornalista Fernando Cavezale foi da ex-prefeita Belkis Gonçalves Fernandes e prontamente foi abraçada por todos. Carlinhos Arruda disponibilizou um carro de som e o comunicador Edu Bala prestou uma comovente mensagem de despedida ao som do Hino de Ourinhos. Ao final, sob aplausos, o corpo de Fernando foi conduzido para o sepultamento, acompanhado apenas pelos familiares, como determina o protocolo de segurança.

Uma homenagem singela, afirmou Belkis, diante de tudo que Fernando nos legou, mas que expressou o sentimento unânime da comunidade ourinhense pela grande perda, de um ilustre cidadão e bravo guerreiro, digno de ter seu nome registrado e imortalizado na história da cidade que tanto amou.

Um sentimento compartilhado por todos que tiveram o privilégio de conviver com ele e, de maneira especial, os companheiros da imprensa, os músicos e amantes da cultura e os jovens estudantes.

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