sexta, 29 de março de 2024

Dra Juliane Campos fala sobre a eficácia e diferenças entre os tipos de vacinas contra a covid

Em Ourinhos, as primeiras 1.440 doses da vacina contra Covid-19 chegaram no dia 21 de janeiro

 

 

Marcília Estefani

 

Os efeitos da vacinação contra covid-19 no Brasil são claros e se mostram cada dia mais eficientes, basta observar os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), que, pela primeira vez desde dezembro, têm leitos de UTI com menos de 90% de ocupação.

Em Ourinhos, as primeiras 1.440 doses da vacina contra Covid-19 chegaram no dia 21 de janeiro. Seis meses depois, enfim, temos contemplado boletins informativos com números cada dia menores de casos novos e de óbitos.

 

Em Ourinhos, as primeiras 1.440 doses da vacina contra Covid-19 chegaram no dia 21 de janeiro de 2021

 

A proteção conferida pelas vacinas já tinha sido observada quando o percentual de idosos em relação ao total de internados caiu após a vacinação dessa faixa etária, e o cenário atual confirma novamente que as vacinas produzem níveis elevados de proteção contra casos graves da doença.

A vacinação continua, e nesta sexta-feira, 30 de julho, Ourinhos imunizou pessoas a partir de 26 anos. Começamos recebendo doses de Coronavac, depois veio a Astrazeneca, já tivemos Janssen, de dose única, Phizer, e as constantes discussões sobre as diferença e eficácia entre as vacinas acabam causando confusão entre a população, que se sente no direito de escolher que vacina tomar, mesmo diante de um cenário onde 490 ourinhenses não puderam ao menos entrar nas filas para receber qualquer dose.

 

Diferença de metodologia das vacinas não diminui sua eficácia

 

A reportagem do Negocião esteve no recinto da Fapi durante uma tarde de vacinação e conversou com N.G., 38 anos, que atualmente mora na cidade, mas esteve fora por vários anos, e não conseguiu sua dose naquele momento pois não tinha um comprovante de endereço em seu nome ou de um familiar. Ela ficou muito descontente porque na oportunidade eram oferecidas doses únicas da Janssen. “Queria ver se fosse Coronavac, se alguém ia negar a vacina”, esbravejou a mulher.

Já M.A.M., 40 anos, afirmou que estava ali para tomar a vacina, mas não confiava na eficácia, pois sua mãe havia tomado as duas doses da Coronavac, e mesmo assim, contraiu a doença e faleceu. “Eu nem sei qual vacina eu vou tomar, mas pra mim qualquer uma serve, não confio em nenhuma”, frisou.

 

Ourinhos vacinou até a última sexta-feira, 30 de julho, público a partir de 26 anos

 

Para tirar algumas dúvidas sobre as vacinas, conversamos com a Doutora Juliane Campos, ourinhense, Bióloga, especialista em Imuno-hematologia e Hemoterapia, mestre em Biotecnologia e Doutora em imunologia e diagnósticos, pela Unesp – Botucatu, que trabalha na área de imunoterapia na Santa Casa de Ourinhos e é docente da UNIFIO.

A profissional nos falou sobre as vacinas, suas diferenças e eficácias, deixando claro que o importante não é o tipo, a marca, mas sim, tomar a vacina.

Apesar da gente achar que a aprovação das vacinas depende da política, primeiro de tudo a gente não pode esquecer que a aprovação e a produção das vacinas são feitas por órgãos seríssimos, que são órgãos de pesquisa, pessoas que até hoje nós confiamos a nossa vida porque tomamos medicamentos, nos vacinamos com outras coisas, nos alimentamos (…) tudo que a gente usa é graças a essas pesquisas, ao avanço tecnológico e existe um compromisso muito sério dos pesquisadores por trás de tudo isso”, afirma a profissional.

 

Doutora Juliane Campos é ourinhense, Bióloga, especialista em Imuno-hematologia e Hemoterapia, mestre em Biotecnologia e Doutora em imunologia e diagnósticos, pela Unesp – Botucatu, trabalha na área de imunoterapia na Santa Casa de Ourinhos e é docente da UNIFIO.

 

EFICÁCIA – Questionada quanto à eficácia das vacinas, Dra Juliane afirma que nenhuma delas é 100% eficaz pois cada pessoa traz um sistema imunológico diferente.

“A vacina contra a covid não é remédio, nenhuma é 100% eficaz, e ela se comporta de uma maneira diferente em cada pessoa, algumas já têm um sistema imunológico mais debilitado, outras têm doenças que debilitam o sistema imunológico, outras já têm mais idade e com o passar dos anos o sistema imune vai ficando cada vez mais fraco, nenhuma vacina diz que é 100% e que ninguém vai morrer. É importante saber que seria tudo muito pior sem as vacinas, seria um caos”.

 

DIFERENÇA ENTRE AS VACINAS – De acordo com a bióloga, as vacinas são produzidas com diferentes tecnologias, algumas com metodologias mais antigas, outras mais modernas, mas todas têm o mesmo objetivo, que é nos proteger contra a covid – preparar o nosso sistema imunológico para combater a doença.

Ela explicou que a Coronavac, primeiro imunizante que recebemos em Ourinhos, produzida em parceria com o Instituto Butantã, usa vírus morto, que faz com que o sistema imunológico o reconheça como estranho e comece a produzir os anticorpos.

Este é o sistema mais antigo de se produzir vacinas, o que não diminui a eficácia do produto. Da mesma forma é produzida a Covaxim.

“Nós só não estamos em um caos maior hoje em dia porque a vacina do Butantã começou a ser aplicada”, disse Juliane.

Já a Astrazeneca leva o vírus vivo, o ‘adenovírus’ não replicante, que ao contrário do que muitos pensam, não tem capacidade de nos deixar doentes. “O organismo vai olhar aquela célula viva e vai ter que lutar contra ela, produzindo anticorpos, o que muitas vezes causa um efeito adverso, como uma gripe forte com febre, cansaço, que podem durar um ou dois dias”.

A mesma tecnologia é usada na fabricação da vacina Janssen que, mais moderna, só requer uma dose para a imunização completa.

“A vacina Janssen foi fabricada depois da Astrazeneca, os pesquisadores já tinham a experiência da primeira, então puderam melhorar, possibilitando que com apenas uma dose ela traga toda a eficácia possível, essa é a única diferença entre elas”.

A Phizer tem a metodologia mais moderna até então, e mais cara por sinal, ela só traz o material genético do vírus, o que faz com que a pessoa vacinada não tenha praticamente efeito colateral e que ela seja super eficaz com a aplicação das duas doses, o que não quer dizer que as outras não funcionem.

“Muitas vezes a forma de elaborar é diferente, mas se o resultado final é bom, não tem problema”.

 

REAÇÕES – A vacina Oxford Astrazeneca ganhou fama por conta de seus efeitos adversos, que variam de pessoa para pessoa, mas não são regra. Há relatos de pacientes que ao se vacinar têm reações tão fortes que chegam a pensar que estão com covid e outros que não têm reação alguma, porém, Dra Juliana afirma “estão protegidos da mesma forma”.

 

QUAL O MAIOR PROBLEMA EM NÃO SE TOMAR A VACINA – “O grande problema da não vacinação, é que se você pega, a chance de você melhorar esse vírus e gerar mutações é muito grande, pessoas vacinadas já têm o seu sistema imunológico mais garantido de que mesmo se for contaminado não ‘muta’ esse vírus, por isso que enquanto todo mundo não se vacinar não vai poder sair sem máscara, ficar se aglomerando, as medidas de higiene precisam continuar e a gente precisa ter consciência de que existem coisas que vamos ter que fazer pro resto da vida por conta da covid”, explica.

 

AS VACINAS PROTEGEM CONTRA TODAS AS VARIANTES?

“Até agora os resultados dos estudos são otimistas. Um estudo da Fundação Osvaldo Cruz divulgado nessa quarta-feira (21) afirma que: “Todas as vacinas protegem contra todas as variantes. O quanto elas protegem será determinado quanto mais formos estudando e fazendo vigilância genômica”.

 

QUAL A POSSIBILIDADE DE TERMOS QUE TOMAR REFORÇOS DESSAS VACINAS TODOS OS ANOS?

Segundo Juliane, a necessidade e o momento para as doses de reforço contra Covid-19 não foram estabelecidos. “’Nenhuma dose adicional é recomendada neste momento’ essa é a fala do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), eu particularmente acredito que precisaremos de reforço, talvez não com o mesmo imunizante que recebemos agora, mas com uma dose ‘melhorada’ que garante ampla proteção e eficácia contra as variantes”.

 

SEGUNDA DOSE DA VACINA – Sobre a segunda dose a Dra Juliane ressalta aquilo que todos sabemos, porém, muitos ainda não fizeram: tomar a segunda dose da vacina é imprescindível. “Importante ressaltar que somente com a segunda dose de todas as vacinas que requerem esse reforço, é possível atingir a eficácia e o estímulo necessário ao nosso sistema imunológico, portanto se você recebeu a 1ª dose, fique atento para não perder a data do reforço”. 

Enfim Doutora Juliane deixou claro que a doença é nova para todo mundo, não só para a população em geral, mas também para os pesquisadores, para quem desenvolve vacinas, exames, tudo é muito novo, ninguém tem 100% de certeza em nada, e que o real conhecimento da Covid só virá com o tempo, com muita pesquisa, com muito estudo.

“Temos uma longa jornada pela frente. Como profissional, mais do que nunca hoje eu sei o quão minha profissão é importante e essencial, tanto na parte da assistência direta ao paciente como na pesquisa. Deixa claro o quanto precisamos de incentivo e investimento na saúde, pois sem isso vamos padecer cada vez mais. E se me permite uma colocação como Cristã, a Covid-19 me mostrou que não temos controle de nada, e que somos pequenos e fracos na fé, mas o Senhor nos ama e nos faz fortes para viver com intensidade o hoje”, finaliza a imuno-hematologista.

 

DADOS VACINAÇÃO EM OURINHOS DE ACORDO COM SITE DA PREFEITURA –

 

1ª dose aplicadas: 67.006

2ª dose aplicadas: 22.759

Doses únicas aplicadas: 2.010

Doses aplicadas (total): 91.775

Fonte: Retirado do site Vacinômetro do sistema Vacina já (Secretaria de Saúde do Governo do Estado de São Paulo), às 9h no dia 31/07/2021.

© 1990 - 2023 Jornal Negocião - Seu melhor conteúdo. Todos os direitos reservados.