sexta, 19 de abril de 2024

“Temos 270 casos confirmados de dengue e 400 suspeitos”, diz secretário

José Luiz Martins

O aumento de casos de dengue em Ourinhos nas últimas semanas tem sido bastante preocupante podendo-se considerar a cidade em estado de epidemia da doença. No mundo anualmente mais de 250 milhões de pessoas são acometidas pela dengue, conforme a OMS – Organização Mundial de Saúde, caracteriza-se epidemia quando são constatados 300 casos para cada 100 mil habitantes. Já os órgãos federais e estaduais relacionados à questão usam outra sistemática e números para avaliar se está ou não havendo uma epidemia. O sul da Bahia e a região sudeste há anos são classificadas faixas endêmicas, pois a doença possui um alto grau de continuidade.

Em Ourinhos, na sexta-feira dia 20 de fevereiro, 139 casos de dengue foram confirmados pela secretaria de saúde e desde então o número vem aumentando dia a dia. Na data de quarta-feira, 25, em apenas quatro dias os casos duplicaram passando a 270 confirmados e 400 suspeitos aguardando comprovação dos exames. Em entrevista exclusiva ao Jornal NovoNegocião o advogado André Melo, Secretário Municipal de Saúde, revelou que a partir desse número de casos confirmados, a determinação é para que não seja feito o exame sorológico em todos os suspeitos de estarem contaminados. Conforme o secretário são protocolos e parâmetros do Ministério da Saúde e Secretaria de Estado da Saúde que os municípios são obrigados atender. As exceções são casos em que depende do entendimento e justificativas do médico que tem autonomia para uma conduta de solicitação do exame, fora isso os demais são tratados como casos suspeitos. Na entrevista realizada quarta-feira, 25, André Melo considerou a cidade em estado de emergência, um nível alto dentro do estado de epidemia que o país vive segundo ele.

Ressaltou que nessa questão cabe ao poder público fazer o trabalho que é feito dia a dia, as equipes de combate a dengue estão trabalhando de domingo a domingo, faça chuva ou faça sol com a tarefa de fiscalização e orientação. Desde o dia 22 os agentes da Secretaria de Saúde passaram também a notificar e multar os proprietários dos imóveis com criadouros. Primeiro são notificados e posteriormente se o problema não for sanado são lavradas as multas. Numa primeira fase as advertências e penalidade estão direcionadas entre outros, a locais como ferro velhos, depósitos de sucatas, empresas de caçambas, depósitos de materiais recicláveis. Existe uma determinação para que a sobreposição e acúmulo desses materiais sejam feitas em áreas cobertas, a medida é lei (5935/2013) em Ourinhos há dois anos, esses locais podem abrigar grandes focos de proliferação do aedes aegypti e outros vetores. A multa é de R$ 500,00, em caso de reincidências variam de R$ 1.000,00 a R$ 2.000.00. Para pessoas jurídicas (empresas) após uma terceira reincidência a sanção é a cassação do alvará de funcionamento.

Mutirões de limpeza e arrastões estão sendo realizados em vários bairros, muitos locais com acumulo de objetos e coisas de toda espécie têm sido encontrados, no jardim Josefina, Anchieta e Vila Brasil foram retiradas mais de 100 toneladas em duas semanas. Conforme o secretário da Saúde, além desses bairros o CDHU, Parque Minas Gerais, Vila Christoni, Boa Esperança e Nova Sá são as áreas de maior concentração de focos do mosquito. A vigilância intensificou as visitas domiciliares eliminando focos de larvas, orientando, alertando sobre os perigos da doença e incentivando os moradores a se desfazerem corretamente de materiais inservíveis. Atualmente a Secretaria da Saúde mantém uma equipe de 34 agentes realizando esses trabalhos.

Analisando a questão percebe-se que todo ano o problema da dengue é recorrente, não tem o caráter de imprevisibilidade e a prevenção tem que ser muito eficiente para que o surto da doença não chegue a patamares verificados nos últimos dias. Questionado sobre esse aspecto Melo declarou que independente do aparecimento inesperado ou não da doença, ela se alastrou por toda região sudeste onde a dengue quintuplicou devido a fatores climáticos e em Ourinhos o trabalho de prevenção sempre foi feito durante todo ano. 

Anualmente o período de maior incidência da dengue é entre fevereiro e abril e as regiões e bairros já citados na reportagem voltam a ser os pontos mais críticos, o que significa que há um relaxamento por parte da população dessas localidades no que se refere à conscientização e medidas preventivas. Por outro lado verifica-se que áreas públicas de responsabilidade da prefeitura são alvo de muitas reclamações e denúncias de mato alto escondendo os criadouros. Perguntado se esse descuido por parte da municipalidade dificulta o trabalho de prevenção o secretário respondeu: “Em nenhum momento eu abonei as falhas da administração, houve sim um descompasso no serviço de limpeza urbana e na questão da pavimentação asfáltica, isso é nítido, não temos porque não reconhecer isso. Mas 90% dos focos da dengue estão nas casas, imóveis comerciais e empresas. Uma maior atenção vem sendo dada aos bairros que tiveram casos da doença registrados”. 

A constatação de que a imensa maioria dos ataques do mosquito ocorre dentro do próprio domicílio das pessoas ou nas proximidades onde residem, é atestada por órgãos de controle epidemiológicos dos Estados e da União. Ela é explicada pelo fato de que o aedes desloca-se somente em um raio de no máximo 200 metros de onde surgiu, a doença é levada para outras regiões distantes pelas pessoas contaminadas que são picadas pelos mosquitos desses outros locais. Os focos devem ser extintos não só com a eliminação da água parada, mas também com a limpeza de recipientes e locais, pois os ovos do mosquito sobrevivem até um ano. Basta uma nova chuva e acúmulo de água para que em dois ou três dias novas larvas eclodam e surjam novos insetos. 

A batalha para controlar a proliferação de mosquitos com a eliminação das larvas e seus criadouros é difícil, a fêmea do mosquito põe os seus ovos na água limpa contida nos mais minúsculos objetos como tampinhas de garrafa até caixas d´águas, piscinas, casas e terrenos abandonados. Entre as formas de combate ao mosquito, a prática do fumacê é considerada um paliativo, a nebulização com veneno só elimina o mosquito e não elimina as larvas e ovos dos criadouros, além de ser um desperdício de dinheiro público e representar perigo a saúde das pessoas. Mas a ação não é descartada, nos locais mais críticos o fumacê tem sido adotado, Melo alerta para que a única maneira de controlar o surto é não deixar que o mosquito se reproduza. 

Diante do exposto é imperativo que semanalmente, inspecionar a casa, quintal e eliminar água parada e criadouros do mosquito se torne um hábito dos munícipes. Para isso campanhas de conscientização antecipadas e eficientes devem ser realizadas utilizando-se de todos os meios possíveis para que essas ações de prevenção atinjam a população de modo geral. Nesse sentido as mídias, radio/TV, jornais e internet tem um papel importante desde que haja uma real avaliação da penetração desses órgãos na comunidade. Em Ourinhos, num comparativo sobre esses aspectos está claro que existe desperdício de dinheiro público, pois, a prefeitura gasta mensalmente algo em torno de 140 mil reais com tvs, rádios, sites e jornais. No caso dos seis jornais impressos existentes na cidade, cinco recebem “verbas publicitárias” para, entre outras coisas, também divulgar campanhas de prevenção e alerta do problema da dengue, mas, esses veículos além de pequenas tiragens não tem uma circulação abrangente ou nenhuma, deixando patente o desperdício e ineficácia. O secretário informou que uma massiva panfletagem com material específico sobre os perigos e cuidados para que a doença não se alastre ainda mais será iniciado na próxima semana. A ideia é um bom reforço, por sinal muito mais barato e eficaz, se bem realizada pode atingir senão todos, pelo menos 90% dos domicílios da cidade. Mas, no fundo depende do comprometimento de cada cidadão.

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