sexta, 29 de março de 2024

Aumento na energia elétrica afetam o orçamento dos brasileiros

Famílias de baixa renda são as mais afetadas pelo alto custo da produção de energia elétrica; Norte Pioneiro do Paraná e Sudoeste Paulista atravessam maior crise de estiagem das últimas décadas.

 

Alexandre Mansinho

 

Atualmente, o Brasil enfrenta a pior crise hídrica dos últimos 91 anos. A situação das regiões do Sudoeste Paulista e do Norte Pioneiro Paranaense ainda tem contornos mais graves – a falta de chuvas afeta diretamente a produção de energia elétrica das usinas e não há nas proximidades outro modal que não seja o hidroelétrico – o que provoca o risco de “apagões”. Aliado a esses problemas, há o aumento das tarifas – fato que pesa muito no orçamento das famílias de baixa renda.

Níveis de água do Rio Pardo estão muito abaixo do considerado ideal

 

O Rio Paranapanema e o Rio Pardo, além das usinas hidrelétricas de Chavantes, Salto Grande e o Complexo Jurimirim, estão com níveis de água muito abaixo do considerado ideal. A realidade é grave também em outras regiões do país. Por conta disso as tarifas de energia aumentam, pois é necessário usar usinas termoelétricas para suprir a crescente demanda e, como essas usinas são mais dispendiosas, o valor da conta para todos os usuários aumenta.

Assim como na Represa de Jurumirim, a realidade é grave também em outras regiões do país

 

BANDEIRA PRETA – O problema é antigo, tanto que foi criado em 2015 um sistema de “bandeiras tarifárias” – quando o consumo está dentro de demanda, é cobrada a bandeira verde, sem nenhum acréscimo para o usuário; quando o consumo está um pouco acima da demanda, aciona-se a “bandeira amarela”, e cada consumidor paga R$ 1,874 para cada 100 kWh consumidos; quando o consumo supera bastante a demanda, surgem as bandeiras vermelha 1, cobrando R$ 3,971 para cada 100 kWh consumidos e a bandeira vermelha 2, cobrando R$ 9,492 para cada 100 kWh consumidos. Agora, diante da crise, o governo criou a “bandeira preta”, ou, como está na lei, a “bandeira da escassez hídrica”, que acrescenta R$ 14,20 para cada 100 kWh.

 

O problema é antigo, tanto que foi criado em 2015 um sistema de “bandeiras tarifárias”

 

CPFL e ANEEL – A pedido do Negocião, a Companhia de Luz e Força Santa Cruz e a Agência Nacional de Energia Elétrica responderam sobre toda a problemática acerca dessa situação de crise. A CPFL indicou que não há risco imediato de “apagão”, mas recomendou a economia de energia por todos os usuários – na página https://cpflsolucoes.com.br/o-que-voce-precisa-saber-sobre-a-nova-crise-hidrica/ a Companhia elenca as medidas que estão sendo tomadas e indica também links para a leitura das leis/normas criadas pelo Governo Federal. A ANEEL, por sua vez, destaca as medidas de diversificação dos modais, como a produção de energia eólica e de instalação de placas solares.

 

MEDIDA PROVISÓRIA – De forma emergencial, há uma discussão no executivo federal que cria subsídios para carvão, energia rural, pequenas hidrelétricas e gasodutos. Tais ações serviriam apenas para contornar a situação de crise atual.

 

AUMENTO DA POPULAÇÃO E DO CONSUMO – Nas últimas duas décadas o consumo de energia elétrica na região de Ourinhos/SP cresceu exponencialmente; parte pelo crescimento populacional, que foi maior que a média do país e do estado respectivamente; parte pelo aumento da aquisição por parte das famílias de aparelhos elétricos e eletrônicos. Maior número de pessoas vivendo cada vez mais a demanda de energia acaba resultando em maior necessidade de produção das usinas hidrelétricas – o problema é que a estrutura do sistema continua praticamente igual ao que era há 30 anos – pelo menos isso é o que afirma o Prof. Paulo Roberto dos Santos, engenheiro elétrico e especialista em gestão energética.

Prof. Paulo Roberto dos Santos, engenheiro elétrico e especialista em gestão energética

 

NÃO HÁ SOLUÇÃO EM CURTO PRAZO – Paulo afirma que, independente de qualquer viés político, todos os governos das últimas décadas erraram em não preparar um sistema mais robusto para enfrentar o aumento da demanda por energia: “já era previsto que tivéssemos um grande crescimento no consumo, o erro foi não terem sido tomadas medidas para suprir esse uso crescente (…) não há solução em curto prazo”. O engenheiro também destaca o que, na visão dele, seria uma medida que poderia ser implementada para, em médio prazo, contornar a situação crítica: “os pequenos consumidores precisam ser incentivados a instalar aquecedores em suas residências para economizar a energia elétrica gasta pelo chuveiro – seria um investimento pequeno, mas, multiplicado pelo número de residências, que gira na casa dos milhões, serviria para diminuir a pressão sobre o sistema”.

Por fim, o especialista diz que somente o investimento em modais variados, e a instalação nas casas de placas solares, é que poderá, no futuro, afastar o problema da crise energética: “houve desmatamento descontrolado, o ciclo das chuvas foi alterado e os investimentos na ampliação das redes de energia não foram acompanhados por ampliação de usinas”, completa.

Nas últimas duas décadas o consumo de energia elétrica na região de Ourinhos/SP cresceu exponencialmente

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