quinta, 28 de março de 2024

Granja Uau!: a história de um dos professores mais antigos de Ourinhos

Conheça a vida e a atuação de Francisco Claudio Granja na educação e cultura ourinhense

 

Juliana Neves

 

Francisco Claudio Granja é um dos professores mais antigos da cidade. É considerado, por ele mesmo, uma pessoa esforçada, batalhadora, sem sucesso econômico, que trilha a sua vida em uma vertente espiritual e, ao mesmo tempo, é ateu. Gosta de pensamentos exóticos e dedica muito amor em tudo que faz.

“Sou uma pessoa que luta por muitos direitos, sou de origem extremamente pobre, pais analfabetos, nasci e fui criado na periferia, gosto muito de teatro, cinema, danças nacionais e internacionais, música e poesia. E me auto lapidei nesta vida para o meu crescimento, tive ajuda de amigos, e sou uma pessoa muito boa e faço muita caridade”, afirma Granja.

Por ser considerar extremamente autêntico, sempre buscou acima de tudo a sua originalidade na identidade humana. O professor afirma sempre ter pago um preço muito alto por ser quem realmente é. “Mas sou extremamente feliz e grato pela vida”, sintetiza.

EDUCAÇÃO – Atualmente, mesmo sendo aposentado, Granja é professor de duas universidades da cidade. Segundo ele, os estudantes pedem sua presença em sala de aula. Suas disciplinas sempre foram sobre a História da Arte na UNIFIO e de Ética na FATEC Ourinhos.

“Eu sou desengonçado, peço até para os meus alunos me perdoarem as palavras chulas que uso em minhas aulas, mas isso tem um caráter didático profundo. Então, já chego ‘arrebentando a boca do balão’, porque eu sou assim”, assegura.

TROCA DE EXPERIÊNCIAS – Granja também fala que aprende muito com os seus alunos, que existe uma troca de experiências e conhecimentos constantes. “Quando passam por mim, eles saem da aula realmente modificados por minhas mãos, fico feliz com os resultados que eu obtenho em meio a tantas frustrações que trago como professor”, relata emocionado.

PIONEIRISMO – Suas aulas sempre foram diferentes, dinâmicas, com muita música. Provocou revoluções quando, por exemplo, foi o primeiro professor a colocar uma televisão dentro de uma sala de aula, levou seus alunos em teatros e, até mesmo, no carnaval em São Paulo para experimentar e avaliar este fomento cultural.

Ao fazer uma avaliação sobre sua atuação na educação ourinhense, acredita ter feito e continua a fazer um bom trabalho – mesmo com a desvalorização dos professores que são mal pagos e explorados pelo sistema.

Pelas ruas da cidade, ele sempre encontra alguém que o agradece por ter sido o seu professor e ganha algo como um símbolo de gratidão por todo conhecimento adquirido.

CULTURA – O professor conta que a sua paixão pela arte apresentável e escrita fez com que ele fizesse muita loucura, como ir para São Paulo, uma viagem bate e volta, para assistir a peças de teatro e óperas.

Tudo isto de forma gratuita, assistindo aos espetáculos nos melhores lugares, por utilizar a placa com os dizeres “sou professor, não tenho dinheiro e aceito ingresso”.

“Atualmente estou me preparando e vou com o meu andador, porque eu gosto, na exposição da Tarsila do Amaral. Está belíssima e também estarei presente na mostra de artes de Leonardo da Vinci em São Paulo no Museu da Imagem e do Som”, exclama Granja.

RELIGIÃO – Apesar do carismático professor se intitular ateu, conta que possui dois orientadores que lhe ajudam na busca de uma vida calma e cheia de paz. São amigos da Seicho No Ie do Brasil.

Ao mesmo tempo, também ressalta que não acredita em espíritos, que gosta de religiões exóticas e que frequenta terreiros de Umbanda. “Muitas pessoas falam que aquele culto é do inferno e do diabo, pelo contrário, é um verdadeiro show de beleza e cultura dos nossos negros que poderiam estar presentes em um teatro de renome”, explica.

“Sou fã de Santa Clara e, principalmente, de São Francisco, pois ele se despiu no meio da rua para dar suas roupas aos pobres e voltou para a casa sem nada. Me inspiro muito nele e no Papa, que está fazendo uma revolução fantástica e necessária dentro da Igreja e no mundo”, conta Granja.

FELICIDADE – Um sentimento tão complexo que, para o professor, se resume em poder conseguir acompanhar os trabalhos de artistas plásticos. De entender que a vida do ser humano é um processo natural com muitas fases e que tudo pode fazer parte da arte.

“Felicidade é poder dar o que comer para moradores de rua na véspera de Natal, ao invés de comer de tudo do bom e melhor com pessoas que não pensam no próximo”, exclama.

OURINHOS – Sobre a cidade ele afirma que o embelezamento, por meio das esculturas expostas em diferentes locais do município, foi realizado por suas mãos de forma gratuita. “Todas as peças foram doadas e fazem diferença na estética da cidade. Temos obras de artes preciosas de artistas renomados e muito importantes”, alega Granja.

TEATRO MUNICIPAL – Segundo Granja, na época do Espiridião Cury, quando o prefeito comprou o prédio do teatro e o transformou no que é hoje, teve o prazer de ajudar na decoração e estética visual do prédio tentando instalar em Ourinhos influências de teatros europeus. “Cuidei daquilo como fosse meu, eu sou um anônimo daquele prédio. Fico muito orgulhoso em saber que ali tenho uma participação muito grande”, comemora o professor.

ARTESANATO – Outro projeto idealizado e criado por este educador foi a produção de estrelas de cerâmica, de acordo com os materiais que possuem na cidade. “É uma característica do município, com assinaturas de todos os artistas que passaram pelo teatro de Ourinhos, como Fernanda Montenegro e a bailarina Ana Botafogo”, comemora.

MUSEU NA UNIFIO – Sua ação mais recente na cidade é a criação do Museu de Galeria de Artes, por meio da ajuda de Roque Quagliato. O museu se encontra no fim do corredor do Bloco 3 da UNIFIO, ao lado da Biblioteca e de um estúdio de televisão, local intitulado como Centro Cultural.

Granja em meio a autoridades no dia da inauguração do Museu na Unifio.

UAUU!! – Sua característica marcante, reconhecida por muitos ourinhenses, é o bordão “Uau!”. Segundo o professor, significa “um carinho, um eu te adoro, um eu te amo, um bom dia, boa tarde, boa noite, como vai? E é eu te beijo na boca. E é isso que eu quero escrito no meu túmulo”, finaliza Granja.

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