quinta, 28 de março de 2024

Socorrista do Samu faz parto pela 1ª vez e recorda nascimento do filho após perder um bebê

Depois de realizar todos os procedimentos para que o parto pudesse acontecer, o socorrista diz que viu que o bebê estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço e precisou de muita calma para agir

 

Da redação

 

O socorrista do Samu, Fabrício Aparecido Russini, de 40 anos, é pai de dois meninos e reviveu a emoção do nascimento do seu filho mais velho após fazer um parto pela primeira vez dentro de uma ambulância em Lençóis Paulista (SP) no dia 20 de julho.

 

Socorrista Fabrício Russini com os dois filhos, Gabriel e Yago em Macatuba (SP) — Foto: Arquivo pessoal/ Fabrício Russini

 

Fabrício e a esposa Ana Paula Russini tiveram o Gabriel, hoje com 18 anos, após a perda de um bebê prematuro. E foi por causa também do nome escolhido para o filho que a experiência de conduzir um parto se tornou ainda mais especial para o socorrista. Isso porque, após o parto, a gestante contou a ele que o menino se chamaria Vinícius Gabriel, uma coincidência que tornou o momento ainda mais especial.

“Depois que nasceu o Gabriel e o Yago, o mundo mudou para gente. Eles preencheram esse espaço e na 2º gestação depois da morte do bebê, eu ficava pensando se iria vir um menino de novo, porque eu queria muito e no dia que fiz o parto era um menino também e a mãe colocou o nome da criança de Vinicius Gabriel, sem saber que o segundo nome era o mesmo do meu filho. Na hora eu pensava no meu filho.”

Em 2001, antes do nascimento de Gabriel e Yago, o casal enfrentou a perda do primeiro filho, que nasceu prematuro. Um momento que, segundo Fabrício, foi muito doloroso para a família. O casal precisou aguardar um ano até que a esposa do socorrista pudesse engravidar novamente e realizar o sonho de serem pais.

“Era uma noite em que ela acordou de repente e disse que rompeu a bolsa, e eu pensei comigo: ‘o neném não está pronto’. Chamamos a ambulância, demorou e conduzimos ela. A Ana começou a ter sangramento e quando chegou ao hospital o médico disse que ela teve descolamento de placenta e ele tentaria fazer um parto normal, mas acabou não dando certo”, explica.

 

Gabriel (à esquerda) e Yago Russini (à direita) quando ainda eram bebês — Foto: Arquivo pessoal/ Fabrício Russini

 

O quarto da criança pronto, o enxoval comprado e a ansiedade dos pais aguardando pelo grande dia do nascimento foram transformados em frustração. Mas, um ano depois, finalmente a boa notícia chegou. Ana ficou grávida novamente em 2002.

“O médico me chamou e disse que o bebê estava perdendo muito sangue, que já não estava mais com vida. A minha mulher teve que fazer uma cesária de urgência e depois com ela internada, eu tive que cuidar do enterro do bebê. Isso aconteceu no final de 2001. Depois vi que ela ficou meio depressiva, aí retornamos ao médico e ele disse que depois de 1 ano ela poderia engravidar. Ela fez acompanhamento e em 2002 engravidou”, diz Fabrício.

 

Bebê Arco-íris

A vinda do bebê arco-íris, como são chamadas as crianças que nascem depois de um aborto espontâneo ou a perda de um bebê prematuro, foi como um sopro de esperança para a vida da família Russini e o nome Gabriel escolhido pelos pais não foi à toa.

Segundo Fabrício, ele queria que o seu primeiro filho tivesse o seu nome, mas depois de enfrentar momentos difíceis com a esposa, ele preferiu que o menino tivesse um nome que simbolizasse o seu significado na vida dos pais.

 

Fabrício e Ana Russini perderam um filho prematuro e as gestações de Gabriel e Yago, o filho mais novo, foram motivo de muita alegria para o casal de Macatuba (SP) — Foto: Arquivo pessoal/ Fabrício Russini

 

“Nessa segunda gravidez ficamos com muito medo, mas começamos a acompanhar certinho. Ela fez repouso e deu tudo certo. Eu coloquei o nome Gabriel, porque remete ao anjo e como conseguimos, pensamos ‘vai ser Gabriel’. Sempre tive vontade de pôr o meu nome, mas falei não, vou por o nome de Gabriel por conta do que a gente passou, foi muito gratificante ter ele”, recorda emocionado.

Gabriel é um nome de origem hebraica que significa “homem de Deus” e “enviado de Deus”, segundo o Dicionário Online de Nomes Próprios.

 

Parto na ambulância

“Trabalho na área há mais de 15 anos e tenho 4 anos no Samu. Já vi partos, sempre acompanhei, mas nunca tinha feito um e este foi um dos melhores momentos da minha profissão em meio a tantas tragédias e a pandemia com tanta gente morrendo. Ver um bebê nascendo, ouvir o choro e a felicidade da mãe e da avó, que estava presente no momento, foi emocionante.”

É dessa forma que o socorrista e técnico de enfermagem recorda o dia 20 de julho deste ano, quando ajudou a gestante Nicoli Procópio, que estava acompanhada de sua mãe, Terezinha Maria da Conceição, a dar luz dentro da ambulância. A jovem havia sido socorrida pelo Samu e estava sendo levada para a UPA.

Mas o parto não pôde esperar e com as contrações intensificadas, a gestante acabou tendo o filho logo que chegaram em frente à unidade de saúde. Fabrício recorda que o momento foi de muita tensão e que Nicoli estava com muitas dores.

 

Fabrício e o seu parceiro Noslin Moreno com Nicoli Procópio em Lençóis Paulista (SP) — Foto: Arquivo pessoal/ Fabrício Russini

 

“Quando chegamos na casa, a mãe disse que a gestante estava com muita dor. Então, levamos ela pra ambulância, mas ela não queria deitar na maca. Pedi para que deitasse e ficasse em posição ginecológica, quando perguntei se era o primeiro filho e ela disse que era o segundo. Eu falei: ‘meu Deus, vai nascer e vou ter que fazer o parto’.”

Depois de realizar todos os procedimentos para que o parto pudesse acontecer, o socorrista diz que viu que o bebê estava com o cordão umbilical enrolado no pescoço e precisou de muita calma para agir.

“Eu vi que ele estava com o cordão circular e eu pensei ‘vou ter que tirar esse cordão para o bebê nascer’. Ela começou a falar que estava sem força, que não conseguia e eu comecei a ajudar a fazer a compressão na barriga pra conseguir nascer. Vi que o bebê estava ficando roxinho e tirei mais o cordão umbilical e ele nasceu. Em um primeiro momento ele não chorou e eu apavorei, aí eu comecei a fazer estímulo no pé e ele chorou.”

A mãe de Vinícius Gabriel conta que Fabrício conduziu o parto de maneira tranquila e que apesar do medo no momento de tensão, tudo correu bem e ela ficou apenas um dia no hospital após o parto.

“Foi na ambulância mesmo e eu fiquei com medo, mas depois melhorou. Senti muitas dores na hora. Mas quando vi meu filho já me senti melhor. Foi tranquilo e depois fiquei só um dia no hospital.”

Enquanto o parto era realizado, o parceiro de Fabrício, Noslin Moreno, correu para chamar as enfermeiras. Quando elas chegaram, Vinicius Gabriel já estava nos braços do socorrista que ainda cortou o cordão umbilical da criança, antes que ela fosse levada para a incubadora.

“Foi tudo muito rápido. A mãe e o condutor na frente e eu atrás sozinho com ela tentando estimular a fazer força. Na hora que chegamos na UPA, ele nasceu. Quando o condutor foi buscar as enfermeiras, o bebê já estava nos meus braços e faltava cortar o cordão, aí a enfermeira trouxe o material e me disse: ‘Fabrício, pode cortar’. Eu cortei o cordão e foi uma emoção. A atitude foi muito legal da parte dela”, fala.

(Conteúdo G1)

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