Perto de completar três meses da última vez que se soube do paradeiro do filho, Sérgio Emanoel, a mãe do jovem está desesperada “só os familiares e amigos estão ajudando, as polícias só nos ignoram”.

Alexandre Mansinho

Dia 06 de dezembro de 2024 parecia ser mais um dia normal na vida de Sérgio Emanoel Pires dos Reis, de 22 anos. Naquela quarta-feira o jovem estava feliz porque, depois de um bom tempo trabalhando na empresa jacarezinhense JBS, ele havia conseguido comprar sua primeira moto. O veículo foi financiado, ele juntou um pouco de dinheiro para a entrada e parcelou o restante, e também não era zero quilômetro, inclusive, segundo o que afirma a família, a moto tinha um problema mecânico: “ele levou para consertar uns dias antes e, naquela quarta-feira, a moto chegou – ele disse que iria “dar uma volta no quarteirão” para ver se estava tudo ok, foi a última vez que vi meu filho”, diz Adriana Aparecida Pires, mãe de Sérgio.

“Eita, Manoel, onde você vai sem capacete?” — O jovem era querido pelos seus familiares e amigos, e bem conhecido na vizinhança por ter nascido e crescido às margens da Rodovia Transbrasiliana na cidade de Jacarezinho (PR) em um bairro popular. De família humilde, Sérgio era um menino de poucas palavras, mas um trabalhador exemplar da JBS. Naquele dia, quando ele saiu para “testar a moto” um dos vizinhos o viu e disse, entre risos: “eita, Manoel, onde você vai sem capacete? tirou a carta esses dias e já está aprontando?”, Emanoel teria dito que precisava só dar umas voltas para “testar o câmbio” e continuou pilotando a moto.

Angústia — Já era início da noite, o tempo passava e nada de notícias de Sérgio, segundo Adriana os parentes e amigos já começaram as buscas, primeiro ligando uns para os outros atrás de saber qual teria sido o caminho que o jovem teria pego: “ele sumiu no ar, ninguém fazia ideia de onde ele estava (…) já no outro dia nós resolvemos seguir todas as possibilidades para saber onde é que o Sérgio tinha ido, fomos seguindo a rodovia BR-153, no caminho de Ourinhos, e perguntamos no posto da Polícia Rodoviária Federal – PRF, e lá ficamos sabendo que ele estava rodando com a moto sem capacete, sem documentos, e que havia sido parado por um polícia e, em seguida, desaparecido”.

Imagem de Sérgio Emanoel após a abordagem policial ainda na viatura

Possível surto — Segundo a família e amigos o jovem era definido como “um cara quieto, na dele, que não era de farra e que vivia dentro de casa”; por isso é que a grande suspeita da família é que ele teve um surto psicológico e, quando ele foi abordado pela PRF, a única coisa em que ele pensou foi em fugir.

Adriana é mãe de Sérgio Emanoel e fala do desespero da familia

“Por que o policial não foi atrás dele?” — O Negocião Digital conversou com o pai de Emanoel, ele pediu para que não fosse publicado seu nome e também não quis gravar entrevista: “meu sentimento é de revolta, por que não foram atrás do meu filho? Será que uma pessoa correndo, algemada, é tão difícil assim de ser alcançada? Por que o policial que prendeu meu filho não foi atrás dele?”.

Versão da PRF — Por meio de nota a Polícia Rodoviária Federal declarou que o jovem foi abordado porque estava dirigindo pela rodovia sem capacete, o agente precisou persegui-lo, porque ele não obedeceu à ordem de parada, na sequência ele foi algemado, colocado dentro da viatura e, em um momento de distração do agente, ele fugiu a pé. A PRF afirmou que tomou as medidas imediatas para encontrar o jovem, afirma ainda que no dia seguinte houve buscas até com cães farejadores.

Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Ourinhos/SP, na BR-153

“Jogo de empurra” — A Polícia Civil do Paraná informou, por meio de nota para o Negocião Digital, que não está procurando Sérgio Emanoel, pois o jovem desapareceu no estado de São Paulo: “A vítima desapareceu em Ourinhos, no Estado de São Paulo. Em razão disso, as investigações ficam a cargo da Polícia Civil de São Paulo (PCSP). Mais informações devem ser verificadas diretamente com eles (sic)”.

Direção que Emanoel seguiu na fuga

“Ajudei a tirar as algemas dele” — O Negocião seguiu uma pista que dava conta de que ele havia sido visto no bairro chavantense de Irapé, populares, ao ver a foto do desaparecido, afirmaram que ele tinha estado lá: “ele esteve aqui sim, eu até ajudei a tirar a algema dele com um arame”, disse um dos populares. No entanto, as informações não puderam ser confirmadas.

Populares do bairro do Irapé afirmam terem visto o jovem

A família está processando o estado do Paraná — Dr. Emerson Biagini, advogado constituído pela mãe do jovem Sérgio, Adriana Aparecida Pires, afirma em documento que “após o desaparecimento do filho da autora, a mesma tem procurado os diversos órgãos de segurança Pública e nenhum deles têm dado respaldo em apoio ou orientação na busca de solução para o caso”. Dr. Emerson também disse que a inação dos órgãos de segurança “viola os princípios da dignidade humana” e que é função do Estado proteger seus cidadãos.