sexta, 26 de julho de 2024

Espetáculo “Infância de Graciliano Ramos” será encenado dia 06 de agosto em Ourinhos

Publicado em 28 jul 2023 - 11:13:52

           

 Entrevista exclusiva com o ator e diretor Ney Piacentini

 

José Luiz Martins

 

No próximo dia 06 de agosto o Teatro Municipal de Ourinhos será palco da peça “Infância de Graciliano Ramos”, idealizada, adaptada, dirigida e protagonizada pelo ator Ney Piacentini e o músico Alexandre Rosa. O espetáculo terá inicio às 19 horas, os ingressos custam 20 e 10 reais e serão vendidos a partir das 18h do dia da apresentação na bilheteria do teatro.

O evento teatral é uma realização do Núcleo RodaTeatro, Karina Zimmermann com o apoio dos grupos Panelas de Expressão e Associação Cultural Soarte em parceria com a Secretaria de Cultura e Prefeitura Municipal de Ourinhos.

Cena da peça Infancia Graciliano Ramos 

Baseada no livro homônimo do escritor Graciliano Ramos, publicado em 1945, a peça narra a meninice de Graciliano, suas dificuldades em aprender a ler e se emancipar em um ambiente hostil. Porém, ao final, o menino Graciliano experimenta uma sensação profunda de realização que o eleva a um mundo novo de boas novas.

Ney Piacentini possui 45 anos de teatro e interpretou mais de 65 espetáculos em sua trajetória, é Pós-Doutorando no Instituto de Artes da UNESP, com o projeto “Anotações sobre a história da atuação no Brasil”. Foi professor na Escola de Comunicação e Artes (ECA-USP) na disciplina Poéticas da Atuação II e atuou como orientador na Pós-Graduação de Direção e Atuação no Célia Helena Centro de Artes e Educação.

Com exclusividade, em uma breve entrevista por telefone ao Negocião, Piacentini falou sobre o espetáculo que define como uma transcrição cênica e musical a partir do livro homônimo de um dos maiores escritores brasileiros.

Músico Alexandre Rosa participa com uma variedade de instrumentos musicais

 

Negocião – Fale sobre esse seu trabalho de adaptação da obra de um dos maiores literatos brasileiros.

NeyA peça conta as memórias da meninice dele, onde sempre é um pouco de ficção porque a memória não é tão fiel assim como deveria. Então há uma mistura das lembranças dele com um toque ficcionalizado por assim dizer. Fala de uma infância que não foi nada fácil, cheia de percalços, uma educação familiar dura, uma dificuldade enorme de se alfabetizar, um menino que passou por muitas atribulações, mas que a sua paixão pelos livros, pelo universo das letras o faz se emancipar. Quando ao final do espetáculo ele tem uma espécie de epifania.

 

Negocião – A montagem une dramaturgia e música?

Ney – A peça vem sendo muito bem recebida pelo público por se tratar de uma peça envolvente, comovente, emocionante, sensível e delicada. Ela é feita com poucos recursos, mas que se desdobram em criatividade e invenção teatral, isso também é uma coisa que o público se encanta, é uma variedade de instrumentos musicais tocados pelo Alexandre Rosa, um grande músico da OSESP aqui de São Paulo, a maior e melhor orquestra da América Latina. Também gera muita curiosidade no espectador por serem instrumentos diferentes da maioria dos que a gente está acostumado a ver. Eu faço a narrativa no papel do Graciliano contando como foi os primeiros anos de vida dele até a puberdade.

 

Negocião – Desde sua estreia em 2021, quantas apresentações já foram realizadas?

Ney – Em Ourinhos nós vamos completar a nossa quadragésima nona apresentação, são quase 50 apresentações do espetáculo que viajou pelo nordeste brasileiro, inclusive pelas cidades onde o Graciliano viveu e conta no livro, onde fomos fazer uma pesquisa. A gente rodou mais de 5.000 km, com isso estamos já na terceira temporada em São Paulo, o que demonstra o fôlego que ele tem e a nossa passagem por Ourinhos vai ser muito especial porque além da peça a gente vai fazer uma conversa com o público depois do espetáculo que dura apenas uma hora, onde a gente vai poder falar do nosso processo criativo, de como a peça foi realizada. Falar também do autor, do Graciliano Ramos, literatura brasileira e os assuntos que são acoplados ao tema da obra.

 

Negocião – Qual a importância de Graciliano para a nossa literatura?

Ney Escreveu obras importantíssimas, Vidas Secas, Memórias do Cárcere, São Bernardo, Angústia e Caetés são livros referenciais dele e de toda a nossa literatura e, uma coisa interessante, é que esse livro foi escrito durante a Segunda Guerra Mundial e o estado novo brasileiro, sobre um período em que ele era criança, pós escravidão e entre o império e a Proclamação da República, duas épocas de conturbação humana muito violentas. O texto de uma certa forma carrega esse tempo arcaico, rudimentar e pré-civilizatório do Brasil através da figura do menino, mas que também tem um esforço muito grande, uma perseverança de se fazer gente assim como nosso país até hoje tenta se tornar uma nação civilizada e cidadã. Dá pra fazer esse paralelo.

 

 

Um pouco mais sobre Ney Piacentini

Trabalhou como professor substituto no Instituto de Artes da UNESP na disciplina Laboratório de Atuação e de Processos da Performance V e VI e exerceu a função de professor de Direção de Atores na Pós-Graduação em Direção Teatral na Faculdade Paulista de Artes.

Possui doutorado e mestrado em Pedagogia Teatral pela ECA/USP. Publicou os livros (DES)APRENDIZAGENS – TEXTOS SOBRE ATUAÇÃO; O ATOR DIALÉTICO: VINTE ANOS DE APRENDIZADO NA COMPANHIA DO LATÃO (fruto do doutorado); EUGÊNIO KUSNET: DO ATOR AO PROFESSOR (fruto do seu mestrado) e STANISLAVSKI REVIVIDO (Org. com Paulo Fávari).

É integrante da Companhia do Latão desde a sua fundação em 1997. Em 2016 foi Indicado ao Prêmio de Melhor Ator pela APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) por seu solo ESPELHOS e estreou INFÂNCIA em 2021. Em 2018 foi indicado ao Prêmio Aplauso Brasil pelo seu livro O ATOR DIALÉTICO – Categoria Destaque e ao Prêmio Botequim Cultural – RJ como Melhor Ator Coadjuvante por LUGAR NENHUM da Companhia do Latão.

Fez parte do conjunto que venceu o Prêmio Questão de Crítica – RJ 2013 de melhor elenco com O PATRÃO CORDIAL e o de melhor espetáculo estrangeiro em Cuba em 2007 com O CÍRCULO DE GIZ CAUCASIANO, de Bertolt Brecht. É ator, professor de teatro e autor de livros sobre atuação. Em 2014 recebeu o Prêmio Cooperativa Paulista de Teatro pela sua contribuição ao Teatro Paulista. Criador, ao lado de Alexandre Rosa, do núcleo RODATEATRO, que está apresentando INFÂNCIA, de Graciliano Ramos.

Ney Piacentini criador, ator e diretor teatral

 

FICHA TÉCNICA

Autor: Graciliano Ramos (ator) e Alexandre Rosa (músico)

Assistente de direção e iluminação: Elis Martins

Fotos e vídeos: João Maria Silva Jr.

Programação visual: Paulo Fávari.

Textos: Luciana Araujo Marques

Duração: 60min – Livre

 

Teatro Municipal Miguel Cury

  1. Nove de Julho, 496 – Centro

Ourinhos – SP Telefone: (14) 3322-2962

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