“Quem defende o municipalismo não pode fechar as portas para o diálogo nem adotar ações que prejudiquem os municípios”, dispara o ex prefeito de Ourinhos e atual diretor da APM

Da redação

O atual diretor da APM – Associação Paulista de Municípios – e ex-prefeito de Ourinhos, Lucas Pocay, reagiu com firmeza à concessão dos pátios imposta pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. E alertou para o risco de desemprego, perda de receitas e enfraquecimento das prefeituras.

Diante do anúncio do governador sobre a concessão dos pátios de veículos apreendidos em todo o estado, o ex-prefeito e líder regional Lucas Pocay se posicionou com firmeza e lucidez.

Em entrevista recente à imprensa local, ele expõe os riscos dessa medida, defende a autonomia dos municípios e cobra mais diálogo e responsabilidade do governo estadual.

CONFIRA OS PRINCIPAIS TRECHOS DA ENTREVISTA

Qual sua avaliação sobre a proposta do governo do Estado em conceder os pátios de veículos apreendidos à iniciativa privada?

POCAY: “Olha, o que me preocupa é que o governador está vendendo a ideia como uma solução moderna, eficiente e barata, mas esse discurso ignora completamente as desigualdades regionais. Ourinhos, por exemplo, tem uma realidade muito diferente da capital. A padronização do modelo pode ser um retrocesso para cidades médias e menores, que hoje conseguem adaptar suas operações à realidade local”.

E quanto aos impactos para os trabalhadores e empresas locais?

POCAY: “São enormes. Pequenas empresas e trabalhadores que atuam no setor há anos já se manifestaram, inclusive nas audiências públicas. Essas pessoas vivem disso. Essa medida ameaça diretamente o sustento de famílias e desmonta um setor que gera empregos locais. O governo, no entanto, não aborda esse impacto. Isso é grave”.

As audiências públicas não garantem essa escuta?

POCAY: “Infelizmente, não. Embora tenha havido audiência, não houve escuta efetiva. A decisão já estava pronta. Não existiu uma análise técnica regional aprofundada, nem diálogo verdadeiro com as prefeituras. É uma imposição de cima pra baixo, e isso contradiz o discurso de quem diz defender o municipalismo”.

O governador promete que o serviço será mais barato e com pagamento facilitado, como via Pix. Isso não é um avanço?

POCAY: “Avanço é quando há clareza, controle e resultado concreto para a população. Quem garante que os preços vão realmente cair? O edital diz o contrário. As tarifas irão aumentar, com o cidadão sem ter a quem recorrer”.

Lucas Pocay, ex-prefeito de Ourinhos e atual diretor da APM – Associação Paulista de Municípios

O senhor mencionou o exemplo do Paraná. Por quê?

POCAY: “Porque lá tentaram algo parecido, reduziram o número de pátios drasticamente, mas não houve melhora significativa no atendimento ou nos custos para os usuários. Centralizar o serviço não significa, automaticamente, melhorar a qualidade. O histórico mostra que essa tese não se sustenta”.

Então o modelo atual seria mais adequado?

POCAY: “O modelo atual tem problemas, claro, mas ele permite uma coisa essencial: controle local. Hoje, as prefeituras fiscalizam diretamente, podem ajustar o serviço, cobrar eficiência, responder mais rápido às necessidades da população. Com a concessão para grandes grupos, perdemos isso. O município perde autonomia. E isso é o oposto do que deveria ser feito num estado que diz defender o fortalecimento dos municípios”.

E qual é a solução que o senhor propõe?

POCAY: “Que o modelo seja reavaliado. Que haja uma escuta verdadeira aos municípios. Que as realidades locais sejam respeitadas. Precisamos de um debate técnico, econômico e político mais profundo, com participação das Câmaras Municipais, associações comerciais e dos próprios prestadores de serviço. Fazer diferente não é ser contra o Estado, é ser a favor das cidades.

Para encerrar: por que essa bandeira é tão importante para o senhor?

POCAY: Porque governar não é impor, é construir. E quem governa tem a obrigação de ouvir, de respeitar e de proteger o que é essencial: a autonomia dos municípios, os empregos locais e o equilíbrio entre os entes federativos. Falar em municipalismo é bonito, mas praticar exige compromisso com quem está na ponta. Eu defendo uma política pública com transparência, equidade e responsabilidade. E estou à disposição para fortalecer essa causa com firmeza e resultado real.