sábado, 07 de junho de 2025

ESPECIAL – POVO DO CORAÇÃO DE OURO: Conheça a história de Ourinhos, que completa 106 anos

Publicado em 13 dez 2024 - 09:57:02

           

Surgido a partir da expansão da estrada de ferro Sorocabana, o município hoje com mais de 100 mil habitantes é polo regional, uma cidade em pleno desenvolvimento, com comércio pulsante, cenário cultural, artístico e esportivo reconhecido em todo Brasil e grande potencial de crescimento

 

Fernando Lima

 

Em 13 de setembro de 1918, Ourinhos tornou-se município. No entanto, sua história começa alguns anos antes, bem no início do século XX, em 1906, quando a estrada de Ferro Sorocabana desbravava áreas para construções de linhas férreas e várias estações acabaram dando início a povoados que mais tarde se tornaram cidades, em pontos estratégicos para escoar a promissora produção de café de grande parte do interior de São Paulo e Paraná na época.

Até o final do século XIX, nossa região era uma extensa área de mata, habitada pela tribo indígena Caingangue. Entre o fim do século XIX e o início do século XX, a imigração italiana povoou rapidamente estas áreas e o conhecido coronel e comerciante mineiro Jacinto Ferreira de Sá, estabelecido em Santa Cruz do Rio Pardo (SP), adquiriu de Dona Escolástica Melchert da Fonseca, parte das terras onde hoje é o município de Ourinhos. 

Em 1905, um mapa da companhia de estradas de ferro do Paraná, mostrava Ourinho (no singular), no estado do Paraná, no lugar da atual Jacarezinho (PR). Essa “Ourinho”, na realidade era uma fazenda, que pertencia a Antônio José da Costa Junior. Neste mesmo mapa da época, havia um trecho pontilhado indicando uma área onde estava sendo construída a estrada de ferro entre Ipaussu (SP) e Salto Grande (SP) e, no meio do caminho constava a indicação da futura estação descrita como Ourinhos.

Jacinto Ferreira de Sá

A compra da Fazenda Furnas, com 1.230 alqueires, de Dona Escolástica, em 1910, estava nos planos do influente coronel que sabia das pretensões da estrada de Ferro Sorocabana em expandir suas linhas até Cerqueira César (SP), e que precisaria de uma estação na região. Furnas era apenas uma das fazendas da área que hoje compreende Ourinhos, a fazenda Lajeadinho, de Antônio de Almeida Leite e a fazendo Jacú da Família Costa Junior, representavam as áreas totais.

Escolática Melchert da Fonseca dona das terras que constituíam a Fazendas das Furnas, depois compradas por Jacinto Ferreira de Sá.

 

O INÍCIO DO POVOADO

Logo em 1906, se iniciou um povoado no entorno da futura estação com poucas casas, principalmente dos trabalhadores da ferrovia. De acordo com jornais da época, eram aproximadamente 270 casas no povoado de Ourinhos e também já haviam pousadas para abrigar viajantes.

A cerca de 7 km da estação, se iniciava a formação de um outro povoado, próximo às margens do Rio Paranapanema, que foi denominado de Vila Odilon. As pessoas que lá moravam, faziam a retirada de argila do rio e assim deram início aos trabalhos de olarias que estão naquela região até os dias de hoje.

Foi em 1915 que Ourinhos tornou-se distrito, subordinado à Comarca de Salto Grande. No entanto, com seu desenvolvimento rápido condicionado à exuberância de suas terras e uma condição geográfica estratégica no limite dos estados de São Paulo e Paraná, o distrito começou a ser visto como uma importante localidade e conexão com as demais regiões, principalmente para o desenvolvimento econômico da época, o que fez com que em 1918, Ourinhos se tornasse município.

ABAIXO E ACIMA DA LINHA

Dividida pela linha férrea, a urbanização da cidade ocorreu inicialmente ao norte da Estrada de Ferro Sorocabana (abaixo da linha), e surgiu a Barra Funda, o primeiro bairro da cidade, junto com a distante Vila Odilon. Eram 4.273 habitantes em 1920 na cidade. 

A chegada do trem em Ourinhos

 

No entanto, com a conclusão da estação de Ourinhos em 1927, o crescimento da cidade foi direcionado para o lado sul (acima da linha) e, nos anos seguintes, as lojas de comércio, as residências mais abastadas e bancos começaram a se instalar nessa área.

Estes fatores contribuíram para que houvesse na época uma espécie de “segregação” na cidade, onde os mais abastados viviam “do lado de cima da linha” e os menos favorecidos “do lado de baixo da linha”, e isso foi refletido inclusive no mercado imobiliário daquele tempo. Alguns fatores como a construção do cemitério da Saudade na rua Gaspar Ricardo e a construção da cadeia pública “abaixo da linha”, corroboraram para a desvalorização da região norte da cidade na época.

Em uma foto de 1940, pode-se observar a Praça Mello Peixoto, localizada “acima da linha”. Os hoteis e comércios mais sofisticados e também o prédio da prefeitura se localizavam ali. As classes mais abastadas viviam nos recém criados bairros Vila Emília e Vila Moraes.

Praça Melo Peixoto na década de 1940

Em uma outra foto, a rua Amazonas, que fica “abaixo da linha”, ficou conhecida por ser a rua do comércio das classes mais pobres, com prédios mais degradados e lojas mais simples.

Comércio da Rua Amazonas “abaixo da linha”

 

O AUMENTO POPULACIONAL E O DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO

Ourinhos foi se desenvolvendo e aumentando sua população. Na década de 1950, chega a Rodovia Raposo Tavares, que foi outro grande marco de desenvolvimento na história da cidade, tendo tal grande importância como a ferrovia.

Nos anos seguintes, principalmente com a queda da produção de café na região, Ourinhos foi se tornando cada vez mais um município com forte potencial comercial. A cultura da cana-de-açúcar também ganhou contornos importantes no desenvolvimento da cidade, até os dias atuais.

Nos anos 1930, lojas mais especializadas começaram a funcionar na cidade, não apenas as de secos e molhados. Comércios de roupas, moda, artigos para casa e também lojas de automóveis foram aos poucos se instalando na cidade. 

Em meados de 1930 chegou à cidade as Casas Pernambucanas, instalada no prédio onde hoje é a Farmais, na rua 9 de Julho. A Associação Comercial de Ourinhos foi criada em 1933, impulsionada pela forte atividade comercial.

Algumas lojas se tornaram ícones da história da cidade como o Depósito de Bebidas Ferrari, a indústria de carroças Migliari, a serraria de Júlio Mori, a sapataria Matachana, as Casas Pernambucanas, a Ford, a Janda, entre tantos outros. 

Lojas da Rua Paraná

A chegada da empresa de telefonia, a Telesp, causou polêmica entre os moradores, já que o novo prédio da empresa tomou lugar da antiga Igreja do Bom Jesus, que foi demolida. A construção da nova Catedral do Bom Jesus se iniciou em 1943, mas foi só em 1988 que Ourinhos se tornou Diocese, desvencilhando-se de Salto Grande.

Construção da Cadetral do Bom Jesus – Imagem Paschoal Colombro

 

O CINEMA

O cinema chegou em Ourinhos ainda na década de 1920, com o Cine Municipal na Avenida Altino Arantes, depois dele surgiu o Cine Tizim, na Praça Melo Peixoto, como era conhecido o Cine Central.

Cine Casino

Cine Ourinhos, onde hoje é o Teatro Municipal

O Cine Cassino, na década de 1940 na esquina da Expedicionários com a Rua São Paulo fez história, chegando a executar algumas trilhas sonoras ao vivo durante as sessões. Em 1944 foi inaugurado o Cine Ourinhos e o moderno Cine Pedutti, foi inaugurado em 1967, com capacidade para mais de mil pessoas em sua sala.

CinePedutti
Cinemarti

Em 2022 o Cine Pedutti deu lugar ao Cinemarti, que marcou uma época até a chegada das salas de cinema do Ourinhos Plaza Shopping. 

A rede Cinépolis, no Ourinhos Plaza Shopping

 

O CENÁRIO CULTURAL: O TEATRO, O BAILADO E O FESTIVAL DE MÚSICA

O Teatro Municipal foi inaugurado em 1988 e agitou a vida cultural da cidade e já foi palco de grandes estrelas como Paulo Autran.

Matéria do Jornal da Divisa sobre a inauguração do Teatro Municipal

O cenário cultural sempre foi um dos destaques da cidade, como por exemplo a Escola de Bailado, que surgiu na década de 1960, quando as freiras da Irmandade Imaculada Conceição contrataram professores de dança para o Colégio Santo Antônio Objetivo. 

Centro Cultural “Tom Jobim”

Ao longo dos anos, outras escolas de dança surgiram na cidade, mas eram elitizadas. Em 1993, foi fundado o Grupo Municipal de Bailado, que reunia talentos de antigos grupos de dança. Em 1996, foi oficializada a Escola Municipal de Bailado de Ourinhos, mantida pela prefeitura.  

A escola é uma referência no estado e no país, tendo conquistado mais de 400 premiações em âmbito estadual, nacional e internacional.

Já o Festival de Música de Ourinhos surgiu a partir da criação da Escola Municipal de Música de Ourinhos, inaugurada em 1993. Considerado um dos eventos mais importantes do ramo no país, o Festival de música acontece anualmente na cidade e atrai pessoas de todo o Brasil.

A FAPI

É impossível contarmos a história de Ourinhos sem falar da Fapi. A Feira de Agricultura, Pecuária e Indústria, teve início em 1967, devido à fartura na produção agrícola da região. A primeira edição contou com a participação de empresas agropecuárias e industriais da região e da capital paulista. 

A primeira Fapi, realiza no Monstrinho em 1967

A Fapi se tornou uma das maiores feiras de portões abertos do país, atraindo expositores de todo o país. O evento passou a incluir shows, parques de diversões, rodeios, praça de alimentação e venda de produtos variados. 

A Fapi foi inicialmente realizada no Ginásio Monstrinho, e logo depois foi para o Parque Olavo Ferreira de Sá. A Feira recebe visitantes de todas as partes do estado e do Brasil e está entre as maiores feiras do Brasil, sempre ultrapassando seus recordes de público.

O MONSTRINHO

E por falar em Monstrinho, O Ginásio Municipal de Esporte José Maria Paschoalick, de Ourinhos, recebeu o apelido de Monstrinho por causa de insatisfação de algumas pessoas com a obra durante a sua construção, que diziam que “estava sendo construído um monstro no meio do nada”. 

Construção do Monstrinho

Ele foi inaugurado em janeiro de 1963 e desde então foi palco de inúmeros eventos esportivos, culturais, shows, bailes de carnaval. Hoje, anexo àSecretaria Municipal de Esportes, o complexo do Monstrinho oferece dezenas de modalidades esportivas gratuitamente para crianças e adultos através da Prefeitura Municipal. 

Sem dúvidas, a modalidade esportiva de Ourinhos que mais se destacou nacionalmente foi o Basquete Feminino. O Ourinhos Basquete foi fundado em 1995 e se tornou o maior campeão nacional de basquete feminino, com cinco títulos brasileiros. Hoje, Ourinhos conta com dois times profissionais em ligas estaduais, regionais e nacionais, que novamente buscam os dias de glória. 

Ourinhos se modernizou, grandes empresas varejitas, shoppings, redes de supermercados e outras indústrias vieram para cá. Comerciantes, lojistas e industriais prosperaram seus negócios. A famosa “terra roxa” da cidade, ainda hoje é conhecida pela cana-de-açúcar e o grande potencial sucroalcooleiro.

Parques, praças, espaços para as crianças, idosos e belas ruas iluminadas completam hoje a paisagem urbana da cidade, símbolo de tranquilidade e progresso. A expansão imobiliária também faz o setor crescer na cidade, com novos loteamentos, condomínios e prédios, que aos poucos, verticalizam a cidade.

Hoje Ourinhos possui 106.877 habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas e o povo do coração de Ouro? De onde veio este apelido? Na verdade, não sabemos, alguém criativamente usou este termo, num trocadilho com o nome da cidade e assim ele segue sendo usado. No entanto, caiu como uma luva, porque todo o povo de Ourinhos sabe, realmente, ter o coração de Ouro!

Fontes: Franciele Miranda Ferreira Dias, Fabiana Lopes da Cunha, Prefeitura Municipal de Ourinhos.
Imagens: Reprodução/Acervos Históricos.

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