terça, 24 de junho de 2025
Publicado em 14 dez 2024 - 09:36:05
Conheça história de pessoas que deixaram seus países, sua cultura, para escreverem novas histórias em nossa cidade
Fernando Lima
Viver longe de seu país, de sua cultura, de sua gastronomia e, na maioria das vezes, longe de amigos e família não é uma escolha fácil. Por outro lado, viver em um país diferente pode trazer uma bagagem cultural, crescimento pessoal e aprendizado, que só essa experiência pode proporcionar.
Alguns estrangeiros se estabeleceram em Ourinhos por trabalho, outros conheceram seus parceiros e parceiras, outros se aventuraram em novas culturas para crescimento pessoal, aprendizagem de uma nova língua, alguns passaram por aqui pra fazer intercâmbio, mas ao final, entre idas e vindas, quem sai ganhando é a cidade.
Toda essa mistura cultural somada ao caloroso acolhimento do ourinhense, proporciona uma cidade mais rica culturalmente e, junto com cada morador que é daqui, essas pessoas escrevem mais um capítulo da história da nossa bela cidade.
O Jornal EN DIA foi conhecer a história de 3 estrangeiros que escolheram Ourinhos para viver, trabalhar, estudar ou morar. Três pessoas, de diferentes idades e culturas, que hoje já se consideram também ourinhenses.
PRISHAA ELLAGOVAN
Nascida na Malásia, Prishaa Ellagovan, de 29 anos, veio para Ourinhos em novembro de 2023, ou seja, há um ano que está na cidade. Ela é advogada, se formou na Inglaterra e trabalhava em um escritório de advocacia que tinha um caso no Brasil. Foi aí que ela resolveu vir pro Brasil para acompanhar o caso na cidade de Guarulhos (SP).
Neste escritório no Brasil ela conheceu seu marido, Isaías, que também trabalhava lá. Eles namoraram, se casaram e quando o marido passou em um concurso na cidade vizinha de Salto Grande, ela o acompanhou e os dois vieram para Ourinhos. Ela conta que seu trabalho é 100% remoto, por isso ela pode trabalhar de qualquer lugar. Desde então, ela se apaixonou pela cidade.
“Aqui é maravilhoso, as pessoas são muito legais, acolhedoras e a cidade é linda e tranquila. Também é segura, tem boa infraestrutura e a comida é muito boa. Tenho aqui tudo que eu preciso no dia a dia e a tranquilidade e segurança daqui não tem preço”, comenta Prishaa.
Ela diz não sentir muita falta de seu país de origem, por se sentir muito confortável e feliz aqui, no entanto, duas coisas falam mais alto quando o assunto é saudade da terra natal: “a comida malasiana, que é muito difícil de encontrar por aqui e é claro, da minha família”.
A jovem advogada diz que a única coisa que consegue pensar que melhoraria na cidade seria mais diversidade de restaurantes, opções de comércio e mais hospitais. No entanto, por ser uma cidade do interior, ela acredita que aqui tem tudo que uma cidade deste porte pode oferecer.
PAVEL KUZIN
O jovem Pavel, de 29 anos, veio da Rússia e está no Brasil desde 2021. Se estabelecendo primeiro em Ipaussu (SP). Ele trabalha como fotógrafo, produtor de documentários, criador de conteúdo para redes sociais, especialista em marketing e participante de projetos sociais.
Sua trajetória profissional combina arte, comunicação e impacto social. Em breve, irá realizar um projeto social-cultural através da Lei Aldir Blanc.
Sua ligação com Ourinhos começa de fato no início deste ano, quando começou a estudar na ETEC, e sua conexão com essa cidade cresceu rapidamente. Hoje, sua rotina está dividida entre Ipaussu, onde mora, e Ourinhos, onde passa a maior parte do tempo. Atualmente, está em busca de moradia em Ourinhos para estar ainda mais integrado à vida cultural e profissional da cidade.
“O que mais me encanta aqui é o equilíbrio entre segurança, praticidade e oportunidades culturais. Ourinhos é um lugar onde sempre há algo acontecendo — seja um evento social, cultural ou até mesmo aulas de canto, que comecei a frequentar recentemente. Foi aqui que encontrei amigos, colegas e novas inspirações para meu trabalho e minha vida pessoal”, conta Pavel.
Vindo de um país tão distante daqui, com clima e cultura bem diferentes, o jovem fala sobre as diferenças e sua adaptação. “Embora eu não sinta saudades constantes da Rússia, sinto falta das pessoas que são importantes para mim. Toda cultura tem seus desafios e encantos, e tanto a Rússia quanto o Brasil oferecem experiências únicas. Adaptar-se foi essencial para mim. Quando me apaixonei pelo Brasil, compreendi que seria necessário abraçar as diferenças culturais, climáticas, econômicas e históricas do país. Felizmente, esse processo tem sido enriquecedor e relativamente tranquilo para mim”.
Também perguntamos quais as melhorias que a cidade poderia ter e Pavel nos indica vários pontos que, com certeza, trariam grande praticidade e conforto para nossos moradores, inclusive na mobilidade urbana e inclusão. “Acredito que Ourinhos tem grande potencial para continuar crescendo e inovando. Seria interessante melhorar as opções de estacionamento no centro, implementar um sistema de aluguel de bicicletas e patinetes, criar um mapa oficial com pontos de Wi-Fi gratuito e áreas para carregar dispositivos. Além disso, parques e praças poderiam ter espaços cobertos para os dias de chuva ou sol intenso. Também vejo uma grande oportunidade para tornar a cidade mais acessível e inclusiva para pessoas com deficiência”.
E o russo, que se apaixonou por nossa cidade e região, finaliza dizendo o quanto a cidade é inspiradora para sua jornada pessoal: “Ourinhos é um lugar que me inspira a crescer e contribuir para sua evolução. Com pequenas mudanças, acredito que podemos transformar a cidade em um modelo de convivência e criatividade”.
LISDEIVI POMPA
Conhecida por muitos ourinhenses, a ex-jogadora de basquete e atual treinadora do esporte, Lisdeivi Victores Pompa, de 50 anos, veio de Cuba há 20 anos e hoje já se considera uma ourinhense.
Com uma trajetória de grandes conquistas para o esporte da cidade, que consagrou o basquete feminino entre os melhores do país, Lisdeivi leva a vida ao lado do marido, também cubano e do filho, de 5 anos, nascido em Ourinhos.
Ela, que coleciona em sua carreira participações nas mais famosas competições esportivas do mundo, inclusive em duas olimpíadas, chegou ao Brasil em maio de 2004, para jogar um torneio de clubes para a seleção de Cuba. No entanto, ela já tinha intenção de morar em nosso país, diante de todos os problemas enfrentados em seu país natal e então se mudou para o Brasil neste mesmo ano.
“Com a minha idade na época eles me consideravam velha para o esporte em Cuba, e pra mim isso foi o que me fez tomar a decisão de abandonar a seleção e começar uma nova vida no Brasil, pois a melhor e a única que eu sabia fazer era jogar basquete, foi isso o que me motivou a tomar essa decisão”, conta Lisdeivi.
No mesmo ano que chegou, só que no mês de agosto de 2004, Lisdeivi já chegava em Ourinhos. Um conhecido chamado Alexandre a ajudou ficar no Brasil, ligou para os diretores do time de Ourinhos e explicou sobre sua condição, que ela tinha abandonado a seleção de Cuba e pedido refúgio para ficar no Brasil. Foi então que a atleta fez o teste no time de Ourinhos e começou sua vida aqui.
“Para minha felicidade eles gostaram do que viram no meu teste e assinei contrato logo de imediato, não posso deixar de escrever isso, esse dia que assinei chorei toda a noite, porque foi quando me senti mais segura desde o momento que cheguei no Brasil, com certeza Alexandre que infelizmente não está mais entre nós, veio falecer nestes dias por problemas de saúde, me ajudou incondicionalmente se ele não tivesse confiado em mim eu não sei onde eu estaria hoje”, comenta emocionada.
A eterna jogadora conta que se apaixonou pela cidade desde que chegou. “Desde que cheguei em Ourinhos eu me encantei com a cidade pois a cidade de onde eu venho tem muitas semelhanças. Minha cidade natal não é tão grande, as pessoas também são acolhedoras, gostam de basquete e isso fez com que eu me apaixonasse por Ourinhos”.
Lisdeivi fala sobre a dificuldade de ficar longe da família, que foi superada ao longo dos anos, quando ela conseguiu trazer todos os familiares para Ourinhos. “Fiz muitas amizades principalmente com famílias, pois sentia falta da minha, e assim fui sobrevivendo às saudades e à falta de minha família. Hoje graças a Deus consegui trazer toda minha família nesses 20 anos de convivência no Brasil, aos poucos fui trazendo a todos e hoje eu tenho novamente minha família reunida”.
A atleta define, de modo bem simples, como se sente em relação aos seus dois países. “Olha lógico que a gente sente falta, pois eu vivi 29 anos em Cuba. Minha infância foi muito boa, eu vivi lá, também minha adolescência e parte da vida adulta. Deixei muitas amizades, minha casa e minha vida toda para começar outra vida aos 29 anos. Tive que recomeçar do zero, aprender a falar outro idioma, outros costumes, outras comidas, outras características que no meu país não conhecia. Mas graças a Deus eu consegui passar todas essas barreiras e hoje eu me sinto brasileira com minha metade cubana. Quando uma pessoa é imigrante, ela fica com a identidade dividida, mas eu amo tudo o que faço e o que Deus me dá, e tudo tem um propósito”.
Quando pergunto o que ela melhoraria na cidade, Lisdeivi demonstra sua gratidão por tudo o que Ourinhos proporcionou para ela. “Ourinhos vem crescendo cada vez mais e em 20 anos cresceu e se desenvolveu grandemente. Eu gosto de Ourinhos de qualquer jeito, pois escolhi esta cidade para morar por alguma razão. Deus me colocou aqui e eu nunca mais saí. Ainda tenho o sonho que me reconheçam um dia como cidadã ourinhense, pois Ourinhos é a minha segunda pátria. Obrigada por tudo Ourinhos você é maravilhosa, te Amo para sempre”, finaliza emocionada.
Estas, dentre tantas outras histórias de estrangeiros que vivem em nossa cidade, são exemplos de quanto nosso povo é acolhedor e faz jus à fama de “Coração de Ouro”.
Imagens: Arquivo Pessoal.
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