segunda, 28 de abril de 2025

CONCLAVE – Como é feito o ritual de votação para o Papado, que permanece inalterado há oito séculos

Publicado em 27 abr 2025 - 11:14:23

           

A eleição de um novo Papa é regida por rituais seculares

 

Fernando Lima

 

A votação para a eleição de um novo papa, chamada de Conclave, acontece após a morte ou a renúncia do Papa do atual. O nome Conclave, vem do latim e significa cum clave, na tradução: fechado à chave e se refere ao ritual de votação secreto e trancado a chaves.
O Conclave é realizado na Capela Sistina, em Roma, onde os Cardeais são isolados e trancados para a votação durante o dia para a eleição. A votação pode durar dias, até que algum cardeal seja eleito com a maioria de dois terços dos votos.

INÍCIO DO CONCLAVE – No dia de início do Conclave, os Cardeais participam de uma missa na Basílica de São Pedro, presidida pelo Decano do Colégio de Cardeais, atualmente o italiano Giovanni Battista Re, é ele também que coordena o Conclave. A escolha do Decano segue a tradição da igreja de dar o cargo ao Cardeal mais graduado.
Já o Carmelengo, que é o administrador da Santa Sé, atualmente é o irlandês Kevin Farrel, que é quem anunciou a morte do Papa Francisco e atuará como chefe de Estado do Vaticano no período que vai dos funerais até o anúncio do novo papa. Este período em que a igreja está sem líder é conhecido como Sé Vacante.
Depois da celebração eles se encaminham em procissão para a Capela Sistina, que é preparada com bancos, cédulas e urna para a votação e também o fogareiro, onde as cédulas e anotações são queimadas. Os Cardeais não devem ter contato com o mundo exterior e equipamentos eletrônicos são proibidos.
Os cardeais ficam hospedados na Casa de Santa Marta. Mesmo local onde o Papa Francisco viveu, depois de renunciar ao aposento papal no Palácio Apostólico. Eles convivem entre si, fazem as refeições em conjunto e realizam reuniões onde discutem os problemas da igreja e do mundo atual. A partir daí, começa-se a delinear perfis dos possíveis papáveis.
Se a votação começar no período da tarde, o primeiro dia terá apenas um processo de votação. Já os seguintes dias poderão ter até quatro, duas pela manhã e duas pela tarde.

A VOTAÇÃO – Cada Cardeal usa uma cédula de papel retangular para escrever quem escolheu votar e em seguida deposita em uma urna. Ao final de cada sessão, dois Cardeais apuradores abrem e leem todos os nomes, enquanto um terceiro pronuncia em voz alta. Todas as cédulas são furadas, amarradas umas às outras e queimadas no fogareiro.
Ao fim de cada período de votação na Capela Sistina, as cédulas são queimadas junto com um aditivo para dar cor à fumaça, para que possa ser vista pelo público do lado de fora. A fumaça escura significa que a votação não atingiu o número necessário de votos e um novo papa não foi eleito.
Somente quando a fumaça que sai da chaminé é de cor branca, é que um novo papa foi eleito pelo colegiado. O novo eleito é indagado pelo Decano se ele aceita a missão de ser o novo papa e deve informar o nome escolhido para exercer seu pontificado. Depois, há o anúncio na Basílica de São Pedro, com a famosa frase: Habemus Papam – temos papa, em latim. Por fim, o novo Papa aparece na varanda para dar sua primeira bênção à multidão que acompanha as votações do lado de fora.
O Conclave acontece, geralmente, 15 dias após a morte do papa, no máximo 20. Para este Conclave, 252 Cardeais podem participar. No entanto, apenas Cardeais com menos de 80 anos podem ser eleitos. O número máximo de cardeais eleitores é de 120, embora haja 135 com direito a voto e, como no passado, podem ser concedidas exceções.

Quem são os Cardeais Brasileiros que participarão do Conclave?
Fazem parte do Colégio Cardinalício oito brasileiros, cinco nomeados pelo Papa Francisco e três pelo papa anterior, Bento XVI. Deles, apenas o atual arcebispo emérito de Aparecida (SP), Dom Raymundo Damasceno, não é votante, por ter 87 anos. Ele já participou do conclave que elegeu Francisco em 2013.
Os outros sete cardeais brasileiros que podem votar são:
● João Braz de Aviz, 77 anos, arcebispo emérito de Brasília.
● Odilo Scherer, 75 anos, arcebispo de São Paulo.
● Leonardo Ulrich Steiner, 74 anos, arcebispo de Manaus.
● Orani Tempesta, 74 anos, arcebispo do Rio de Janeiro.
● Sérgio da Rocha, 65 anos, arcebispo de Salvador, primaz do Brasil por conduzir a arquidiocese mais antiga do país.
● Jaime Spengler, 64 anos, arcebispo de Porto Alegre e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
● Paulo Cezar Costa, 57 anos, arcebispo de Brasília.

 

A história do Conclave – Há cerca de oito séculos o Conclave se mantém praticamente inalterado. A palavra foi usada pela em 1274, pelo Papa Gregório X, que instituiu a base dos atuais conclaves por meio do documento Constituição Apostólica Ubi Periculum. À época, a demorada sucessão do Papa Clemente IV, fez com que fosse instituído o documento para que não demorasse tanto tempo a escolha do novo papa.
A sucessão de Clemente IV, é conhecida como o Conclave mais longo da história, durou 1.006 dias e foi chamada de “O Conclave de Viterbo”. Dos 19 cardeais eleitores que iniciaram a reunião, dois morreram até o fim da eleição.
Já na era moderna, em 2006, o Papa São João Paulo II modernizou alguns aspectos do Conclave, através da Constituição Universi Dominici Gregis, mas manteve em essência e finalidade as mesmas diretrizes da Ubi Periculum.
A obrigatoriedade do sigilo e segredo do Conclave não é válida apenas para os Cardeais, todas as pessoas chamadas a prestar apoio técnico ou logístico às sessões do Conclave devem também se comprometer com o silêncio.
Normalmente os Conclaves da era moderna duram entre dois e cinco dias. O mais rápido foi o que elegeu Pio XII, em 1939, em dois dias. Já entre as eleições mais antigas temos a do Papa Júlio II, em 1503, que durou poucas horas.
O Conclave é um momento em que o mundo volta os olhares para Roma. A escolha do chefe da Igreja Católica é celebrada em várias partes do mundo, já que o Papa também representa a figura de um chefe de Estado.

O CONCLAVE RETRATADO NA FICÇÃO – Com várias indicações ao Oscar 2025 e aclamado pela crítica, o longa-metragem Conclave, dirigido por Edward Berger, retrata os bastidores de uma eleição papal, mostrando desde a morte do atual Papa, até os preparativos, as votações, as reuniões e desentendimentos entre os Cardeais e a eleição do novo Papa. O filme ainda traz à tona questões delicadas para a Igreja Católica.
Ao todo foram oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator (Ralph Fiennes) e Melhor Atriz Atriz Coadjuvante (Isabella Rossellini) — levou a estatueta de Melhor Roteiro Adaptado.
Ralph Fiennes, interpreta o Decano, que comanda o Conclave, e levou muitos elogios pelo papel. Uma das poucas obras a abordarem o tema, o filme levou milhões de espectadores aos cinemas, que tem curiosidade pelo tema. O filme é baseado no livro homônimo de Robert Harris. Segundo o diretor do filme, a produção envolveu estudos aprofundados sobre o processo de eleição papal, incluindo os detalhes sobre os rituais, as regras, as figuras-chave e as dinâmicas políticas envolvidas.
O longa já está disponível em plataformas de streaming. Com a repercussão da morte de Francisco, tornou-se o conteúdo mais visto no Prime Video, da Amazon, na terça-feira (22). Inclusive, após a morte do Papa, o filme voltou aos cinemas no Brasil e reestreou em várias cidades na quinta-feira (24).
Fotos: Reprodução.

 

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