sexta, 15 de novembro de 2024
Publicado em 31 jul 2021 - 14:38:43
Em Ourinhos, a rede estadual de ensino retoma as aulas no dia 2 de agosto, já a rede municipal ainda aguarda normativa da Secretaria de Educação
Alexandre Mansinho/Marcília Estefani
No dia 26 de fevereiro de 2020, houve o registro do primeiro caso de covid-19 no Brasil e todas as autoridades se viram forçadas a tomar medidas urgentes para a contenção da doença. Na nossa região a Prefeitura de Ourinhos foi uma das primeiras que tomaram medidas mais efetivas: antecipação das férias escolares, reestruturação dos horários e das formas de atendimento ao público nas repartições e, com o prolongamento da pandemia, aplicação do ensino remoto nas escolas públicas.
Muitas escolas particulares, sobretudo as de Educação Infantil, foram obrigadas a fechar as portas e encerrar de vez as atividades – a crise financeira levou algumas a reestruturar preços e condições de atendimento – no entanto, mesmo com o abalo financeiro, os alunos das instituições de ensino privadas foram os que tiveram menos perdas nesses 1 anos e 4 meses de ensino remoto: o acesso às tecnologias foi primordial nessa fase. Por outro lado, a esmagadora massa de crianças e adolescentes que frequentam escolas públicas sofreram toda a sorte de percalços nesse período e, agora, com a expectativa de retorno ao 100% de aulas presenciais, fica no ar quais serão as medidas necessárias para recuperar todas essas perdas.
O RETORNO EM OURINHOS
A dirigente de ensino da Região de Ourinhos, Sandra Regina Andrade de Oliveira, confirmou ao Negocião na quinta-feira, 29, que a rede estadual de ensino retoma com todos os cuidados e protocolos de segurança as aulas presenciais no dia 2 de agosto. As escolas inclusive já se preparam para receber os alunos.
A principal mudança na estrutura das unidades escolares é sobre a capacidade de alunos em sala de aula, antes o limite máximo de estudantes era de 35% com distanciamento de 1,5m e agora a regra é apenas de 1,00m de distanciamento entre as carteiras. O uso de máscaras e álcool em gel foi mantido e é extremamente necessário.
Como parte dos protocolos de segurança as escolas realizarão quinzenalmente sanitização total dos espaços interno e externo. As salas serão ocupadas com cerca de 12 alunos, capacidade máxima com distanciamento seguro. As orientações valem para toda a rede de ensino.
A princípio o revezamento de alunos continua, mas agora não mais um grupo por semana, e sim intercalando um dia sim e outro não, sendo neste momento, opcional o retorno dos alunos, desde que assistam as aulas em tempo real e realizem as atividades no CLASROON, para garantir frequência e notas e não gerar abandono e perda de vaga.
De acordo com a legislação “Somente poderão se manter exclusivamente em atividades remotas os estudantes que pertencerem ao grupo de risco para Covid-19, conforme atestado médico, e aqueles cujos responsáveis legais comuniquem por escrito a decisão de não frequentar presencialmente a unidade escolar e se comprometam com a participação das atividades remotas, enquanto perdurar a medida de quarentena instituída pelo decreto nº 64.881 de 22-03-2020”.
Comunicado das escolas direcionados aos pais esclarece que aqueles que optarem por não mandar os filhos para as aulas presenciais terão que ir até a unidade e assinar um termo de responsabilidade. Os responsáveis fizeram suas opções (sim ou não para o retorno) através do preenchimento de um formulário on-line ou diretamente nas escolas.
Da mesma forma escolas privadas também se organizam para um retorno responsável, priorizando os protocolos de segurança, o acolhimento das crianças, de suas famílias e dos educadores, garantindo a todos bem-estar, conforto físico e emocional.
A rede municipal de ensino divulgou na noite da sexta-feira, 30, no Diário Oficial do Município, o Decreto nº 7.451, que regulamenta o retorno das aulas presenciais. Porém, o vice-prefeito, Lucas Shoiti Suzuki, esclareceu que a Secretaria de Educação fará uma normativa para que o retorno seja feito de forma segura, respeitando todos os protocolos.
Por enquanto, as aulas no município continuam sendo realizadas da mesma forma como vinha acontecendo, com o ensino híbrido, sem nenhuma mudança.
Após a divulgação oficial da normativa, com todo planejamento necessário, os pais serão avisados para a retomada.
COM A PALAVRA, OS EDUCADORES
“O ensino remoto escancarou as desigualdades no Brasil (…) aquilo que nós já sabíamos que existia ficou explicito: os alunos mais pobres são os que mais sofreram a falta das aulas presenciais e, por conta disso, são os que mais vão sofrer nesse retorno”, afirma o Prof. Eduardo Devai, especialista em docência para a Educação Básica II que atua na rede pública estadual em ourinhense: “agora, voltando às aulas presenciais, é necessário que a equipe pedagógica, isto é, todos os professores e gestores envolvidos no processo de ensino, tracem um plano para o segundo semestre levando em conta aquilo que é urgente fazer e, principalmente, assumir os fracassos do ensino remoto para os alunos mais carentes”.
“Iremos voltar com as aulas presenciais sob risco, nem todos os professores e demais colaboradores das escolas receberam a segunda dose do imunizante e, principalmente, os prédios escolares não dão a segurança sanitária que nossos alunos precisam”, é o que pensa o Prof. Luiz Horta, historiador, pedagogo e professor titular da EE. Domingos Camerlingo Caló em Ourinhos. “Nossos alunos vão circular por toda a cidade, irão usar o transporte público, irão se aglomerar, e depois terão contato com seus familiares: acho prematura essa medida (…) reconheço que os alunos mais pobres são os que mais sofrem com as aulas remotas, mas a vida é insubstituível”, conclui.
A Profa. Silmara Sccachet de Mello dos Santos, especialista em educação e gestora de uma escola privada em Santa Cruz do Rio Pardo/SP, pensa que serão três as maiores dificuldades que serão enfrentadas por alunos e profissionais de educação no retorna às aulas presenciais: “a superação do luto; a superação da superproteção que alguns educandos vivenciaram e, por fim, o retorno à rotina”. “As crianças e adolescentes que iremos receber no mês de agosto estarão enfrentando tragédias familiares, muitos perderam avós, pais e irmãos para a covid-19 (…) isso sem falar na rotina que eles terão que retomar (…) os educadores e gestores devem ter um olhar carinhoso e especial nesse retorno para esses jovens (…) problemas afetivos com certeza surgirão e deverão ser enfrentados pela comunidade escolar com muito acolhimento”.
O OLHAR PSICOLÓGICO
Para a psicóloga Danieli Fernanda Cabral, o retorno é algo muito positivo, mas deve ser feito com muita responsabilidade. “Vejo o retorno presencial como necessário, e urgente, na minha percepção, as aulas virtuais deixaram inúmeros prejuízos, infelizmente não apenas cognitivo, mas também social e emocional. É necessário que o poder público tenha responsabilidade e organização para receber essas crianças e adolescentes com cuidado e zelo diante do cenário pandêmico, mas além disso, cuidado e compreensão diante da realidade de cada criança, faz-se necessário estratégias e intervenções que vão muito além do passar conteúdo”.
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