sábado, 27 de julho de 2024
Publicado em 01 dez 2020 - 19:58:00
Suéllen foi ao plantão da Polícia Civil e registrou a ocorrência e espera que o autor dos ataques seja identificado
Da redação
A eleição da jornalista Suéllen Rosim (Patriota), de 32 anos, para a prefeitura de Bauru, cidade de 380 mil habitantes, quebra duas barreiras ao mesmo tempo. É a primeira vez, desde a fundação, em 1896, que uma mulher vai administrar o município. Nesse período, 52 homens se alternaram no comando da prefeitura e nenhum deles era negro.
Mais votada também no primeiro turno, a jornalista derrotou, no segundo, o médico Raul Gonçalves de Paula, do DEM, por uma diferença de 19.167 votos. Solteira, durante a campanha ela se colocou como representante da força feminina.
Mensagens racistas
Suéllen nem assumiu o cargo e já foi atacada com mensagens de cunho racista em aplicativo de mensagem. Tanto na véspera das eleições do segundo turno, sábado, 28, como nesta segunda-feira, 30, um dia após ter sido eleita com 89.725 votos, postagens foram feitas em um grupo de WhatsApp e chegaram ao conhecimento dela através de uma amiga que participava do grupo. Sábado à noite, Suéllen foi ao plantão da Polícia Civil e registrou a ocorrência.
Uma das postagens, em poder da polícia, afirma que “não podemos eleger aquela mulher com cara de favelada pra ser nossa prefeita”. E prossegue: “Essa gente de pele escura, com cara de marginal administrando nossa cidade, será o fim.” Quando um participante avisa que isso é preconceito racial, a pessoa continua com o ataque. “Essa gente de cor, representada por essa tal Suéllen, não vai saber administrar a cidade, não tem competência. FATO (sic).”
À reportagem, Suéllen disse que espera que o autor dos ataques seja identificado e responda pelo crime. “Infelizmente fomos alvos desses ataques na véspera das eleições e hoje, 30, surgiu um novo comentário com o mesmo teor. A gente fica chocada, pois não espera que isso ainda seja uma questão que incomoda as pessoas. Mas isso é inaceitável. Como pode ter gente com o coração tão distorcido?”, questionou.
Ela disse ter procurado “as vias necessárias” porque entendeu ter sido vítima de injúria racial. “É algo que a gente não pode deixar para lá, não deve se calar. Como prefeita eleita que representa, além do universo feminino, o universo das pessoas negras, tenho essa responsabilidade. A aceitação de uma mulher na política já é complicada, e o fato de ser negra implica na ocupação de um espaço muito importante.”
A Polícia Civil informou que já investiga o caso a partir do número de celular da pessoa que, supostamente, fez os ataques. O suspeito não tinha sido encontrado até a tarde desta segunda-feira (30). A reportagem entrou em contato com o número citado, mas o aparelho estava desligado.
Conheça um pouco sobre Suéllen Rosim
Nascida em Dourados (MS), Suéllen viveu boa parte da vida em Birigui, no noroeste paulista, onde seu pai, o pastor Dozimar Rosim, é suplente de vereador e sua família desenvolve projetos sociais. Após se formar em jornalismo em Araçatuba, cidade vizinha, ela se mudou para Bauru, onde trabalhou como repórter e apresentadora da TV Tem, afiliada da Rede Globo. Em 2018 deixou a TV e estreou na política como candidata a deputada estadual, ficando na primeira suplência do Patriota, com 36.049 votos. Em 2019, assumiu a presidência do partido em Bauru.
Eleita por um partido de direita, alinhado com o governo do presidente Jair Bolsonaro, Suéllen disse que vai buscar o diálogo também com outras forças políticas, como o PSDB, partido que governa o Estado de São Paulo. “Temos abertura com o governo federal, até pela questão partidária, mas mantemos também uma boa relação com o governo do Estado. Acima das bandeiras partidárias está Bauru, a maior cidade do centro-oeste paulista.”
Com o apoio do vice, o médico Orlando Dias, do mesmo partido, ela espera reforçar sua base eleitoral na Câmara, onde o Patriota elegeu apenas um dos 17 vereadores. A eleita disse que alguns vereadores de outras siglas já a procuraram para conversar. “Esse diálogo será essencial, pois agora se encerra a disputa eleitoral e se inicia um projeto para Bauru. Não vamos governar sozinhos, vamos trabalhar em conjunto pela cidade.”
(FONTE: Agência Estado)
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