José Luiz Martins

Que a população mais carente sofre muito quando se trata de assistência médica no sistema de saúde pública do país, todo mundo sabe. Que muitas localidades do Brasil não possuíam médicos e muito menos serviço de saúde para socorrer a população muita gente não sabia. Ficou sabendo com a polêmica surgida com o Programa Mais Médicos iniciado em 2013, implantado em aproximadamente 4 mil municípios.

Mais de 15 mil doutores, em sua maioria estrangeiros, estão espalhados pelo país atendendo a população que depende do SUS. De início as vagas foram abertas apenas para médicos formados no Brasil, com poucos interessados a integrar a ação do Ministério da Saúde. Assim vieram médicos de 40 países, principalmente da América Latina e da Europa formando 70% do quadro de contratados do programa.

Embora outros problemas estruturais da saúde pública ainda permaneçam, o programa tem funcionado e resolveu em parte o problema da má distribuição de médicos no Brasil. Pesquisa do CFM (Conselho Federal de Medicina) feita em 2012 mostrou que o Brasil abrigava 388.015 médicos, cerca de 1,8 por mil habitantes enquanto Argentina tinha 3,2, Espanha e Portugal 4 e Inglaterra 2,7. O levantamento apontou que somente 8% dos médicos brasileiros estavam em municípios de até 50 mil habitantes, que são quase 90% das cidades brasileiras.  

Em Ourinhos há exatamente um ano, em 17 de abril de 2014, chegavam à cidade os 11 médicos vindos de Cuba para se dedicarem exclusivamente ao atendimento nas Unidades Básicas de Saúde do município. Conforme informações da Secretaria de Saúde, com a contratação desses profissionais, foram acrescentadas semanalmente mais 36 horas de atendimento nos postos de saúde.

Confirmou-se a expectativa de que com mais médicos atendendo, postos com médicos em período integral, a demanda de atendimento na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) seria reduzida. Especialistas em Saúde da Família, os doutores cubanos atendem de segunda a sexta-feira nas UBs fazendo consultas, dando orientação e encaminhando pacientes com casos mais complicados para a atenção de especialistas. 

Ouvido pela reportagem o Secretário de Saúde André Mello disse que, com uma cobertura mais ampla implantada na rede básica não falta médicos em Ourinhos hoje. Porém, revelou que em ginecologia existe uma defasagem devido à falta de novos profissionais da área que apresenta grande procura. Sobre o desempenho do programa Mais Médicos, Mello avalia que antes do programa ter início, a procura por atendimento na UPA era sobrecarregada e com os médicos estrangeiros trabalhando houve uma redução de 20% dessa demanda, desafogando o pronto atendimento.

Segundo o secretário esse quadro só foi alterado com essa explosão de casos de dengue dos últimos meses, salienta que mesmo assim, está havendo um bom atendimento. Elogia a conduta, profissionalismo e o trabalho que os médicos estrangeiros vem desempenhando na atenção básica, ainda mais nesse momento de epidemia da doença. André Mello reconhece que essa política de estado para a saúde é muito positiva e que o país não tem mais como prescindir do Programa Mais Médicos, que deverá ser ampliado futuramente. 

Várias pesquisas de nível nacional de avaliação do Mais Médicos apontaram que em média 75% das pessoas ouvidas aprovam o programa que começou há dois anos (Confederação Nacional do Transporte (CNT) em parceria com a MDA Pesquisa). Em Ourinhos, onde o programa foi implantado há um ano é possível verificar que essa estatística de aprovação também se reflete na cidade.

Pelo menos uma dezena de usuários do SUS ouvidos pela reportagem do NOVONEGOCIÃO, fazem uma avaliação positiva do atendimento dos cubanos nos postos de saúde, que chega a mais de 3 mil consultas mensalmente, com média de 25 pacientes por dia. A presença desses médicos disponíveis e cumprindo a risca a carga horária tem proporcionado aos usuários a sensação de uma maior atenção.

Sensação que se otimiza ainda mais quando destacam o diferenciado atendimento no ato da consulta que avaliam mais humanizada. Também pelo tempo de duração das consultas que duram até 20 minutos ou mais. Essa é a comparação mais comum pelo fato de médicos que não fazem parte do programa atenderem muitos pacientes em curto espaço de tempo. Há casos relatados por funcionários dos postos, em que o médico local chegou a atender até 16 pacientes em 26 minutos.

Segundo eles esse é o recorde de rapidez em consultas das unidades básicas, onde alguns médicos da cidade vivem correndo contra o tempo e continuam não cumprindo a carga horária para a qual estão contratados. Veja algumas opiniões de usuários sobre o atendimento feito pelos doutores vindos de Cuba para o Programa Mais Médicos.

Veja a opinião de usuários

Já passei por um médico cubano no posto da Vila São Luiz. Gostei muito do atendimento, fui examinada com muita atenção e foi correto, me encaminhou para os exames que precisavam e ao especialista. Acho que esse programa que trouxe esses médicos está sendo muito bom. Deu uma boa melhorada na saúde e o trabalho deles está sendo diferente pra cidade, o povo todo comenta que eles são muito atenciosos, educados e ótimos profissionais. – Vilma Berg 49, assistente administrativa – Jd das Paineiras

Muito bom esse médico cubano, ele examina bem a gente, a consulta demora mais que os outros médicos, perguntam bastante o que a gente tá sentindo e explicam o que tem que fazer. O pessoal aqui da vila gosta bastante dele e está mais fácil achar médico no posto tanto cedo quanto a tarde. Mas tem médico aí que nem olha pra cara da gente, ficam escrevendo e não examinam a gente direito, passa a receita e tchau. Outra coisa é que falta remédio, o Losartan não tem já faz meses, aí eu tenho que ir procurar lá no centro na farmácia popular. – Marina Rosa Braga – 71 anos – Dona de Casa – Vila São Luiz

Eu já fui atendida por eles duas vezes, uma vez na vila Margarida e outra na vila São Luiz. A consulta com eles é mais demorada e muito atenciosa, achei ótimo, me atenderam muito bem, com muita educação e fizeram o diagnóstico certinho e me encaminharam para o AME, deu tudo certo. Pelo que vejo esses médicos de fora estão fazendo um bom trabalho, conheço várias outras pessoas que dizem isso, o que é muito bom pra Ourinhos e pro Brasil também. – Edna Maria Capezoni da Silva – 49 – Caixa – Vila Margarida

Recentemente eu precisei de uma consulta com um clínico geral no posto da vila Margarida e o médico estava de férias e não consegui. Me mandaram para o posto da vila São Luiz e lá acabei sendo atendido por uma médica cubana. Cheguei a estranhar porque fiquei uns vinte minutos sendo atendido por ela, eu lembrei de uma vez que estava na fila do atendimento na vila Margarida e o médico brasileiro naquele dia atendeu umas 20 pessoas em meia hora. As pessoas que conversei sobre esses médicos gostaram do atendimento, não encontrei ninguém que falou que foi mal atendido ou que eles não acertaram sobre o problema de saúde. E também como eu, alguns estranham o tempo que dura a consulta e a atenção que eles têm com os pacientes, estão aprovadíssimos esses médicos cubanos. – Mário de Souza Luiz – 56 – Ax. de escritório – Vila Soares