sexta, 26 de julho de 2024

Artigo: A MÁQUINA DE MORAR – Não existem duas casas iguais!

Publicado em 17 jul 2021 - 12:38:03

           

“O projeto de arquitetura, ao se tratar de uma “tradução” do espírito de uma família, em forma de espaços, tem como resultado um produto único, genuíno”

 

Gustavo Ferreira Martins Gomes*

 

Indo contra o título da coluna, preciso dizer que as casas não são produtos industriais. Apesar de que se fale muito sobre a “indústria da construção civil”, a engenharia civil e, principalmente, a arquitetura, são trabalhos artesanais.

Cada casa é um produto específico. O projeto de arquitetura, ao se tratar de uma “tradução” do espírito de uma família, em forma de espaços, tem como resultado um produto único, genuíno.

Mesmo os casos de edifícios de apartamentos, em que “casas” são empilhadas em torres burocráticas, a arquitetura de interiores (também conhecida como “decoração”) faz com que cada família use e ocupe de forma diferente cada uma das unidades habitacionais.

 

Gustavo Ferreira Martins Gomes é Arquiteto e Urbanista. F, (14) 99762-8432 gfmgomes@bol.com.br

 

Quando os governos tentam, por motivos meramente econômicos, produzir casas idênticas, em Conjuntos Residenciais os antigos BNH e Cohabs ou os atuais CDHU ou Minha Casa, Minha Vida), não passam 3 meses após a inauguração, e os moradores iniciam suas “customizações”: pintam as paredes, trocam portões, sobem muros, criam garagens. Em pouco tempo, a uniformidade some e cada família é espelhada em suas casas.

Por isso é que os clientes devem ter muito cuidado ao pedir ao seu arquiteto que copie uma “casa de revista”. Dificilmente, aquela “casa de revista” terá o espírito da família. Raramente conseguirá representar a alma dos moradores.

Diversas vezes em minha vida profissional ouvi de clientes a expressão: “nossa! Eu não imaginava que iria ficar assim!” Nós, arquitetos, com o olhar treinado pela imaginação, “enxergamos” pontos de vistas e “sentimos” as texturas e contrastes, em desenhos muitas vezes incompreensíveis para o futuro morador.

É compreensível que uma família “morra de medo” de investir toda sua vida financeira em um imóvel, antes de ter certeza do resultado. É natural que queiram “garantir” a qualidade, por meio de uma participação incisiva.

 

Residência Fernando Marques – Ibirarema/SP

 

Mas a arquitetura deve ser uma relação de confiança. Assim como é a relação de confiança com advogados e médicos. Ninguém chega no consultório do cirurgião e diz: “eu queria que você cortasse meu fígado com um bisturi grande e desse 12 pontos, daqui até aqui” (exceto no caso dos cirurgiões plásticos, em que a pessoa aparece com uma foto da Barbie…. e os resultados…)

Nos programas de tv sobre arquitetura, geralmente uma família apresenta seus conflitos com a moradia e o arquiteto e seus ajudantes fazem o projeto e a obra sem que o morador saiba nem o projeto nem o resultado. Sempre o resultado é uma festa. (Importante lembrar, porém, que, nestes programas, o morador não paga nada pelo projeto ou pela obra)

Como “garantir” que o projeto de arquitetura vá realmente ser a leitura da alma de uma família, traduzida em tijolos?

Só existe uma fórmula: indicações. Eu sempre digo que projetar a primeira casa ou escritório para um cliente depende de marketing. Mas você só sabe que é bom arquiteto quando o mesmo cliente te contrata de novo ou indica seu trabalho para os amigos e parentes.

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